Das Antigas Terras de Vicenza: Uma História de Superação e Esperança no Brasil
Na Colonia Dona Isabel, em 1885 Pietro Ferranesi, de 42 anos, era um homem de poucas palavras e muita determinação. Ao desembarcar no porto do Rio de Janeiro, acompanhado da esposa Caterina e dos três filhos pequenos, não sabia ao certo o que os esperava na colônia Dona Isabel, encravada no coração do Rio Grande do Sul. Sua jornada até lá necessitaria de algumas semanas de viagem em navio, até o porto de Rio Grande, dali após alguns dias de espera um novo embarque em pequenos barcos a vapor deveria atravessar a Lagoa dos Patos até a capital do estado, Porto Alegre, sem desembarcar e desta cidade, com o mesmo barco, subir o rio Caí por mais algumas horas até chegar em Montenegro, o um ponto mais próximo do seu destino: a Colonia Dona Isabel, atual Bento Gonçalves. Uma vez desembarcado depois de um dia de descanso continuavam a pé ou lombo de mula até o local onde ficava a Colonia Dona Isabel.
A jornada através do oceano que durou 40 dias a bordo do navio a vapor Giulio Cesare, fora árdua, repleta de doenças e incertezas, mas era apenas o início de um desafio ainda maior.
Ao ler a carta de seu tio, Giovanni Ferranesi, que se estabelecera no Brasil anos antes, Pietro havia nutrido esperanças de uma vida melhor. “Há terras férteis aqui, mas elas exigem coragem. Venham, a colônia precisa de gente trabalhadora como vocês”, dizia a carta. Essa promessa alimentou o espírito de Pietro, mesmo quando ele vendeu seu pequeno terreno próximo a Vicenza na Itália e partiu para o desconhecido, deixando para trás amigos, parentes e o querido local onde nascera.
Após o desembarque em Montenegro, a travessia até a Colonia Isabel foi uma odisseia. Sem recursos a família caminhou por trilhas estreitas e lamacentas junto com outros emigrantes que tinham o mesmo destino. Por quase dois dias, Pietro e Caterina cortaram a mata com facões para abrir passagem. À noite, armavam acampamentos improvisados sob árvores gigantescas, onde Caterina, mesmo exausta, preparava refeições simples com o pouco que tinham.
Finalmente, chegaram à colônia e foram recebidos por Giovanni e sua família, que os abraçou com lágrimas nos olhos. Mas a alegria do reencontro logo deu lugar à dura realidade: o terreno que lhes fora destinado era montanhoso e coberto por uma densa floresta. “Será preciso mais do que força física para transformar isso em lar”, pensou Pietro.
Os primeiros meses foram brutais. Pietro começou a derrubar árvores, construir uma cabana rudimentar e cultivar milho e feijão. Caterina cuidava dos filhos e ajudava o marido na lida. A floresta parecia engolir a pequena clareira que haviam aberto, mas Pietro, com a ajuda de Giovanni, continuava a desbravar a terra.
As dificuldades eram imensas: doenças como a febre tifoide ameaçavam as crianças, e a saudade da Itália pesava nos corações. Pietro frequentemente sonhava com os campos verdes de sua terra natal, mas a visão de seus filhos brincando ao redor da cabana renovava sua força.
Dois anos depois, Pietro começou a colher os frutos de seu trabalho. O milho crescia alto, e os porcos que criava garantiam sustento e troca na comunidade. Ele também aprendeu com os vizinhos a cultivar uvas, uma tradição trazida da Itália. A primeira safra de vinho, ainda que rudimentar, foi um marco de orgulho para a família.
A pequena colônia começou a prosperar, e Pietro se destacou como líder da comunidade italiana. Ele organizou mutirões para abrir novas estradas e construiu, junto com os vizinhos, uma capela que se tornou o coração espiritual da colônia.
Em 1895, uma década após sua chegada, a colônia Dona Isabel era um exemplo de sucesso. Pietro e Caterina haviam transformado um pedaço de mata virgem em uma colonia produtiva. Os filhos, agora jovens, ajudavam no trabalho e sonhavam em expandir os vinhedos da família.
Os Ferranesi, como tantos outros imigrantes, haviam encontrado no Brasil não apenas uma nova vida, mas um propósito que transcendeu gerações.
Nota do Autor
"Das Terras Antigas de Vicenza: Uma História de Superação e Esperança no Brasil" é um romance inspirado nas dificuldades e sonhos de muitos italianos que deixaram suas raízes para buscar uma nova vida nas terras brasileiras ao final do século XIX. Embora os eventos, personagens e situações sejam fictícios, as emoções e desafios descritos representam a realidade de muitos emigrantes.
Este livro pretende homenagear a força, a determinação e a esperança daqueles que atravessaram o oceano, deixando para trás sua terra, mas levando consigo a cultura, a tradição e o amor pela família. Foi preciso coragem para enfrentar um destino desconhecido, e essa coragem é o verdadeiro protagonista desta história.
Pietro Ferranesi e sua família, ainda que fictícios, simbolizam aqueles que, com suor e sacrifício, transformaram florestas em vinhedos, longe das pequenas vilas de Vicenza que haviam deixado para trás. Sua história fala de sobrevivência, perseverança e união, onde cada conquista foi compartilhada com aqueles que participaram dessa jornada de vida.
Espero que este livro transporte o leitor a um tempo de grande resiliência e transformação. Que possa inspirar reflexões sobre o peso das raízes e o valor de construir um futuro.
Com pensamentos e gratidão a todos que tornaram esta história possível,
Dr. Piazzetta
Nenhum comentário:
Postar um comentário