𝐀 𝐉𝐨𝐫𝐧𝐚𝐝𝐚 𝐝𝐞 𝐌𝐚𝐭𝐭𝐞𝐨: 𝐃𝐚 𝐈𝐭𝐚́𝐥𝐢𝐚 𝐚𝐨 𝐁𝐫𝐚𝐬𝐢𝐥
Era o ano de 1890 e Matteo, um emigrante italiano, decidiu ser hora de deixar sua terra natal em busca de uma vida melhor para si e sua família. A Itália não saía de um longo ciclo de desemprego, pobreza e até fome em muitas regiões. O país não oferecia um bom futuro e pensando nos filhos ele juntou todas as suas economias e comprou passagens no navio Adria que partiria de Gênova em direção ao Rio de Janeiro. Matteo, era viúvo há já três anos, viajou com seus cinco filhos: Giovanni, Francesco, Vittorio, Maria e Assunta. A travessia do oceano não foi fácil, as condições de viagem eram precárias e muitos passageiros adoeceram. Durante a longa, monótona e interminável viagem marítima, eles puderam conhecer outros imigrantes italianos que também estavam buscando uma vida melhor no Brasil. Compartilhavam histórias de suas terras natais e formaram laços de amizade que durariam por muitos anos. Mas, finalmente, após várias semanas de viagem, eles chegaram ao Rio de Janeiro. Ao desembarcarem, foram recebidos pelas autoridades brasileiras em um porto agitado e movimentado, muito diferente de tudo o que eles haviam visto antes. Matteo e os filhos ficaram maravilhados com tudo o que viam, mas o que mais os impressionou e marcou foi encontrar inúmeras pessoas de pele escura, eram, como souberam depois, os descendentes dos antigos escravos trazidos da África. As longas praias com areias muito brancas e as verdejantes montanhas entorno do porto eram de formato muito bonito, mas, não tiveram muito tempo para contemplar as belezas do seu novo país, sabiam terem de continuar a jornada para chegar ao seu destino.
Embarcaram em outro navio de menor calado que os levaria ao porto de Paranaguá, no estado do Paraná, encerrando finalmente as incômodas viagens por mar. Durante a curta travessia, enfrentaram uma forte, mas rápida, tempestade, que os deixou muito assustados e apreensivos. Mas, com a ajuda de Deus, chegaram ao porto de destino em segurança. Este era bem menor daquele do Rio de Janeiro e também muito menos movimentado.
De lá, seguiram de trem até a cidade de Curitiba, onde se estabeleceram na Colônia Dantas, inaugurada doze anos antes e já com muitos moradores, onde Matteo adquiriu um grande terreno. Ao chegarem na capital do Paraná, tiveram que se adaptar a uma nova língua e cultura. Na colônia eles tiveram poucas dificuldades para se comunicar com os moradores do local, pois quase todos eram italianos como eles, também se adaptaram rapidamente com os costumes brasileiros. Gradualmente, foram aprendendo a língua e se ajustando à nova vida em uma cidade muito grande para eles, pois na Itália moravam numa pequena e pacata vila do interior. Trabalharam duro, mas, com firmeza e alegria para construir uma nova vida no Brasil. Giovanni, o filho mais velho que já era maior de idade ao sair da Itália, conseguiu emprego em uma fábrica de louças, enquanto Francesco e Vittorio começaram a trabalhar com o pai que era um marceneiro. Maria e Assunta ajudavam nos serviços casa e cuidavam da horta entorno da casa, da qual tiravam parte do sustento da família e também podiam ganhar algum dinheiro com a venda, para os vizinhos, dos produtos excedentes colhidos.
Matteo, e os filhos não eram analfabetos, além do dialeto da vila onde moravam também falavam italiano, o que muito os ajudou. Tinham estudado os quatro anos do primário ainda na Itália. Matteo era, por herança das gerações anteriores, um hábil marceneiro e com as economias trazidas da Itália, obtidas com a venda da casa e outros bens, além de comprar o lote e aos pouco construir a moradia, em pouco tempo conseguiu também construir uma pequena oficina ao lado da casa. Ficou muito feliz e orgulhoso por conseguir sozinho dar uma vida melhor para seus filhos, mas nunca se esqueceu de suas raízes italianas. Em casa só se comunicavam no dialeto italiano e as filhas cozinhavam pratos tradicionais da região do Vêneto de onde vieram. Mesmo longe do país de origem, eles mantiveram vivas a língua e a cultura italiana. Com o tempo a família prosperou bastante, sobretudo devido à qualidade dos belos móveis, das portas e janelas para casas que fabricavam, muito requisitados pelos curitibanos mais abastados. Eles nunca esqueceram as dificuldades que enfrentaram durante a viagem e sempre foram gratos pela nova vida que encontraram no Brasil.
Com o tempo, a Colônia Dantas se tornou um bairro próspero de Curitiba, passando a se chamar Água Verde, com muitas famílias italianas e de algumas outras nacionalidades que se estabeleceram lá. Matteo se tornou um líder local na colônia e ajudou outros imigrantes italianos a se fixarem na região. Com o seu trabalho eles também ajudaram na construção da nova igreja do bairro, que passou a ser uma paróquia, separando-se daquela de Santa Felicidade. Fornecendo portas, janelas e assoalho, participaram ativamente como sócios fundadores na construção da Sociedade Garibaldi, um grande clube italiano de Curitiba que existe até hoje, onde os imigrantes podiam se reunir, conversar em sua língua materna e manter vivas as suas tradições.
Os filhos de Matteo se casaram com outros imigrantes italianos e formaram grandes famílias. Continuaram morando na mesma cidade sempre colaborando com a comunidade italiana de Curitiba e mantendo viva a cultura de seus antepassados.A história de Matteo e seus filhos é um exemplo de coragem, perseverança e resiliência, e uma prova de como a imigração pode enriquecer uma sociedade.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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