Inúmeras são as causas
desse verdadeiro êxodo Vêneto que, no período de aproximadamente cem anos,
esvaziou vilas e cidades, um fenômeno jamais visto nos tempos modernos.
A grande emigração vêneta fez com que
milhares de homens, mulheres e crianças tivessem que abandonar,
desordenadamente e sem auxílio do governo, a terra natal para, procurar
trabalho e melhores condições de vida em lugares distantes e pouco conhecidos.
Em primeiro lugar, devemos levar em
conta a somatória de fatores locais vênetos, ocorridos nos últimos cinquenta
anos finais do século XIX (18xx a 1900), os quais, muito contribuíram para
romper o relativo equilíbrio existente, agravando a já tão difícil vida de
milhares de pobres agricultores, diaristas e pequenos artesãos.
A população vêneta, como de toda a
Europa, devido a melhoria das condições de higiene, principalmente com uma
maior redução da mortalidade infantil, experimentou nesse período um aumento
importante e nunca conhecido.
A agricultura vêneta nesta época, que
antecedeu a grande emigração, era muito atrasada. Durante centenas de anos
muito pouco foi acrescentado em novas técnicas, desde a introdução da batata e
do milho nos séculos anteriores, produtos estes que contribuíram, ainda no
governo da Sereníssima República de Veneza, para manter a população vêneta mais
ou menos equilibrada. Pelo atraso em que se encontrava, não conseguiu suportar
a concorrência de produtos importados de outros países, principalmente dos
Estados Unidos da América, que chegavam por preços mais baixos.
Uma
série de desastres naturais, também se abateu sobre todo o Vêneto neste
período, com secas, inundações, granizo e pragas, contribuindo para agravar a
já deficiente produção agrícola vêneta e a consequência foi a fome e doenças
carenciais como a pelagra.
O atraso da Itália em geral, e do
Vêneto em particular, também ficava evidente no que diz respeito a
industrialização, movimento que só apareceu na região em fins do século XIX,
ainda que timidamente, não oferecendo trabalho suficiente para aquela mão de
obra expulsa do campo.
Causas da
Emigração Vêneta
O Vêneto, em 1866 passou a fazer
parte do Reino da Itália, comandado pela piemontesa Casa de Savoia, que criou
inúmeros problemas em toda a região. Entre eles a proibição de uso das terras
da Igreja, fonte de sustento de grande número de pequenos agricultores,
criadores de gado e lenhadores, os quais com o seu trabalho, tiravam daqueles
locais o sustento para suas famílias. Também a criação de impostos abusivos,
que puniam sempre os mais fracos, tornando-os cada vez mais pobres. Entre esses
odiosos impostos estavam a taxa sobre o volume de grãos moídos, que era cobrado
diretamente no moinho e a taxa sobre a venda de sal.
O tipo de relacionamento entre o
capital e o trabalho, ainda herança da era medieval, onde o patrão, dono da
terra, detinha o controle quase total do empregado, ao qual, sem leis
específicas de proteção, só restava calar sempre, obedecer sempre.
A vontade de libertação
do jugo do patrão, exercido ainda de forma medieval, juntamente com a fome
crônica que grassava na região, com a falta de perspectivas para o futuro e,
posteriormente, a ação desonesta de angariadores de mão-de-obra e divulgadores
do "el dorado" brasileiro,
foram, sem dúvidas, as causas mais próximas da grande emigração vêneta para o
Brasil.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS