Minas Gerais também foi um dos estados brasileiros que recebeu imigrantes italianos, ficando em número somente atrás de São Paulo e Rio Grande do Sul. Segundo os dados disponíveis sabemos que cerca de 60.000 italianos chegaram neste estado durante os anos da grande imigração nos 25 anos finais do século XIX e os primeiros do século XX, antes da primeira guerra mundial.
As causas dessa imigração também é semelhante aquela de São Paulo, com a libertação dos escravos em 1888, os colonos italianos foram trazidos para substituir essa mão de obra nas lavouras de café. Diferente de São Paulo foi o estado de Minas Gerais que se encarregou de organizar a vinda dos imigrantes e os obrigava, e também aos fazendeiros, a pagarem a passagem de navio. A imigração subvencionada em Minas teve início em 1867 e só durou até 1879.A imigração para Minas Gerais não foi tão grande como para outros estados brasileiros. O problema da mão de obra no século XIX, que afetou outras províncias, não foi tão grave em Minas. Isto porque contava com a maior população escrava do Brasil e, com a decadência da mineração, essa mão de obra foi desviada para a agricultura, principalmente para as lavouras de café da Zona da Mata.
Foram raros os fazendeiros mineiros que imitaram o exemplo de São Paulo e atraíram trabalhadores livres estrangeiros para as suas propriedades. Enquanto São Paulo investia na introdução de imigrantes, em Minas predominou o escravo, com grande concentração nas áreas cafeeiras. Na época da Abolição da Escravatura, quando as fazendas de café de São Paulo já estavam cheias de imigrantes, em Minas ainda se apostava no trabalho escravo e o uso dessa mão de obra continuou por alguns anos, mesmo após a abolição. Havia um desinteresse tanto do governo mineiro como dos proprietários de terra na atração de imigrantes. Segundo essas mesmas pesquisas realizadas em áreas cafeeiras de São Paulo e Minas Gerais, mostram que os ex-escravos não abandonaram as fazendas após a abolição e não foram completamente substituídos pelos imigrantes europeus. Muitas vezes continuavam trabalhando nas mesmas fazendas ou se deslocavam para outras. Como exemplo nas fazendas de café de São Carlos interior de São Paulo, apesar do nítido predomínio de trabalhadores italianos, ainda continuavam com número expressivo de trabalhadores brasileiros, incluindo negros e mulatos. Também os estudos constataram que os trabalhadores nacionais, em especial os negros e mulatos, após a abolição, sofreram preconceito por parte dos fazendeiros, que muitas vezes preferiam contratar imigrantes europeus do que os trabalhadores nacionais.
No final do século XIX, em 1898, uma grave crise financeira se abateu sobre o estado que se viu obrigado a suspender a imigração subsidiada. Foi somente após 1894 que o estado firmou os contratos para trazer imigrantes. No ano de 1895 chegaram em Minas Gerais 6.422 imigrantes italianos e no ano seguinte este número saltou para 18.999, decrescendo para 17.303 em 1897. A partir de então o número caiu drasticamente para 2.111 em 1898 e somente 41 imigrantes em 1901.
Os imigrantes aportavam no Rio de Janeiro e após uma passagem pela Hospedaria de Imigrantes da Ilha das Flores, embarcavam em trens que os transportavam até Petrópolis e desta cidade seguiam até Juiz de Fora, por estrada de rodagem, a chamada Estrada União e Indústria, a primeira rodovia macadamizada da América Latina, inaugurada em 23 de junho de 1861 por Dom Pedro II. Em Juiz de Fora existiam grandes plantações de café e não ficava muito distante do Rio de Janeiro.
Ao chegarem em Juiz de Fora ficavam abrigados na Hospedaria Horta Barbosa, a maior do estado, que funcionava como a primeira acolhida aos imigrantes em solo mineiro. Esta hospedaria tinha a capacidade para abrigar seiscentas pessoas, mas, na verdade no período de quarentena, chegava a hospedar um número quatro vezes maior de imigrantes. Segundo os relatos da época, nesses períodos de grande movimento, surgiram relatos de falta de higiene, promiscuidade no local. Nesse local ficavam aguardando a chegada dos fazendeiros que ali faziam a seleção para trabalhar em suas propriedades.
Os imigrantes italianos que chegaram em Minas Gerais provinham de diversas cidades de quatorze regiões da Itália, tanto do norte, centro e sul da península. Estes são dados obtidos no município mineiro de Leopoldina. Os estudos mostram a grande diversidade das origens dos imigrantes italianos em Minas Gerais embora, como na maior parte do Brasil, o Vêneto despontou como a região com maior presença.
Diferentemente dos outros estados brasileiros que receberam imigrantes italianos, Minas foi o único a receber um número significativo de imigrantes da Sardenha, que por sinal não se fixaram no Brasil, retornando para Itália após um período de dois anos.
As colônias agrícolas formadas por italianos não tiveram grande relevância no contexto imigratório de Minas Gerais, ao contrário do que ocorreu nos estados do sul do país. Em 1900, em todo o estado de Minas Gerais as colônias abrigavam apenas 2.882 pessoas. Os núcleos coloniais eram áreas agrícolas nas quais os imigrantes viviam como pequenos proprietários. Esses núcleos apenas prosperaram nas regiões onde não havia plantações de café, como nos estados do Sul e mesmo no estado do Espírito Santo. Nas regiões cafeeiras, como São Paulo e Minas, as terras disponíveis à colonização eram marginais e escassas e o fluxo migratório era preferencialmente destinado às plantações de café.
Imigração Italiana para o Brasil de 1876 a 1920 Região de Origem Número de Imigrantes Região de Origem Número de Imigrantes Veneto 365.710 Sicília 44.390 Campania 166.080 Piemonte 40.336 Calabria 113.155 Puglia 34.833 Lombardia 105.973 Marche 25.074 Abruzzo e Molise 93.020 Lazio 15.982 Toscana 81.056 Umbria 11.818 Emlia Romagna 59.877 Liguria 9.328 Basilicata 52.888 Sardenha 6.113 Total : 1.243.633
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS