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terça-feira, 2 de maio de 2023

A Pelagra e a Pobreza no Veneto do Século XIX: Uma Análise Histórica

Pátio interno da seção feminina do lazareto de Mogliano Veneto

 

A pelagra foi uma doença que atingiu em larga escala a população do Veneto, região do nordeste da Itália, na última metade do século XIX. A doença, que é causada pela deficiência de niacina (vitamina B3) e triptofano, atingia principalmente as camadas mais pobres da população, que não tinham acesso a uma alimentação adequada e sofriam com as condições insalubres em que viviam.

Os primeiros casos de pelagra foram registrados na região do Veneto em meados do século XIX, mas a doença só começou a se tornar um problema de saúde pública a partir da década de 1870, quando os casos se multiplicaram em toda a região. Os sintomas da pelagra incluem irritação na pele, diarreia, demência e, em casos mais graves, coma e morte.

A causa da pelagra só foi descoberta no início do século XX, quando o médico norte-americano Joseph Goldberger realizou uma série de estudos que demonstraram a relação entre a deficiência de niacina e triptofano e a ocorrência da doença. No entanto, na época em que a pelagra se espalhou pelo Veneto, ainda não se sabia o que causava a doença e como tratá-la.

A pelagra teve um impacto devastador na região do Veneto, que enfrentava uma série de desafios socioeconômicos na época. A região havia passado por um período de instabilidade política e econômica, com a unificação da Itália e a abolição do feudalismo, o que levou a um aumento da pobreza e da marginalização social. Além disso, a região sofria com a falta de saneamento básico e de acesso a uma alimentação adequada, o que favorecia a disseminação da doença.

Para combater a pelagra, foram desenvolvidas diversas campanhas de conscientização e de assistência médica na região do Veneto. Os médicos locais começaram a estudar a doença e a identificar as populações mais vulneráveis, como os trabalhadores rurais e os prisioneiros. Foram também criados hospitais e clínicas especializadas no tratamento da pelagra, onde os pacientes recebiam uma alimentação balanceada e suplementos vitamínicos para combater a deficiência de niacina e triptofano.

Com o tempo, as medidas de prevenção e tratamento da pelagra foram aprimoradas e a doença deixou de ser um problema de saúde pública na região do Veneto. No entanto, a história da pelagra na Itália serve como um lembrete dos desafios enfrentados pelas populações mais vulneráveis em momentos de instabilidade social e econômica, e da importância de se investir em políticas públicas de saúde e assistência social para garantir a qualidade de vida da população.





Os profissionais médicos que tratavam da pelagra geralmente tinham experiência no assunto pesquisando e estudando as causas e tratamentos da doença. Eles se dedicavam a tratar os doentes e estudar as três formas da doença para buscar uma cura.
Entre os mais famosos do Veneto estava Luigi Sacco, médico que trabalhava no hospital de Milão e que publicou um estudo sobre a pelagra em 1901. Ele defendia a ideia de que a doença era causada por uma deficiência na dieta, especialmente na ingestão de proteínas.
Outro importante médico que estudava a pelagra foi Cesare Lombroso, médico e antropólogo que tratava a pelagra em Veneza. Ele também defendia a ideia de que a doença era causada por uma deficiência na dieta, mas também argumentava que fatores hereditários podiam contribuir para facilitar o seu surgimento.
Além dos médicos, havia também um grande número de assistentes sociais e auxiliares, que se dedicavam a cuidar dos doentes e ajudar suas famílias. Um exemplo é Maria Montessori, que na época trabalhava como assistente social em Roma e se dedicou a cuidar dos doentes de pelagra.
Os médicos que estudavam a pelagra tiveram um papel importante na luta contra a doença, tanto na identificação das causas da doença quanto na busca por tratamentos eficazes. No entanto, a cura só foi encontrada décadas depois, quando foi descoberto que a pelagra era causada por uma deficiência de niacina, uma vitamina do complexo B.
O lazareto de Mogliano Veneto também foi um importante estabelecimento criado para tratar os doentes de pelagra no Veneto. Localizado na província de Treviso, o lazareto foi fundado em 1904 e chegou a abrigar mais de 800 pacientes.
O estabelecimento contava com uma infraestrutura completa, incluindo dormitórios, salas de atendimento médico, refeitórios, lavanderia e cozinha. Os pacientes eram separados em diferentes alas, de acordo com o grau de gravidade da doença.
O tratamento dos doentes de pelagra no lazareto de Mogliano Veneto incluía a administração de dietas especiais, ricas em proteínas e vitaminas, além do uso de medicamentos e suplementos alimentares. A higiene era rigorosamente monitorada, com o objetivo de evitar a propagação da doença, pois ainda não se sabia muito bem sobre ela.
O lazareto de Mogliano Veneto foi fundamental para conter a propagação da pelagra na região, e contribuiu significativamente para o desenvolvimento de tratamentos mais eficazes para a doença. No entanto, foi somente com a descoberta da causa da pelagra e a implementação de políticas públicas de combate à desnutrição que a doença foi erradicada na região.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta

Erechim RS



sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Pelagra Uma Doença Endêmica no Vêneto do final do século XIX

Doentes de pelagra no Pelagrosário de Mogliano Veneto em 1907


A pelagra era a mais difusa e a mais característica doença das populações rurais do Vêneto e só não estava presente nas zonas montanhosas da região e nas zonas costeiras do Mar Adriático. Também muitas outras doenças afligiam o Vêneto, causando anualmente um grande número de vítimas, tais como a difteria, o tifo, a varíola e inúmeras outras do trato respiratório, todas favorecidas pela higiene precária, pelas habitações insalubres e pelo costume dos vênetos de se reunirem nas estrebarias, junto com os animais domésticos, principalmente, nos úmidos meses de inverno, nos tradicionais filós. Entretanto, a doença mais difusa e odiosa era a pelagra, uma forma de anemia que exterminava lentamente com as forças. Ela podia se apresentar em três formas: cutânea, intestinal e, finalmente, a mais grave,  nervosa. 

A primeira forma atingia os membros superiores e inferiores do corpo, o tronco e a cabeça que apresentavam feridas cutâneas de coloração azulada, a qual se não tratada adequadamente progredia rapidamente para as outras duas fases. A forma intestinal atacava o aparelho digestivo causando aumento de volume da língua, vômitos e diarréia que levavam a desidratação. 

A terceira fase irreversível causava graves distúrbios nervosos, depressão e confusão mental, levando muitos doentes à loucura, que muitas vezes, sem qualquer aviso, se enforcavam ou se atiravam em rios. 

Pelagrosário de Mogliano Veneto em 1907


A pelagra também é conhecida como a  doença dos 3 D, pelos seus três principais sintomas que começam com a letra D: dermatite, diarréia e demência. A doença tinha causas desconhecidas na época, mas, na realidade hoje sabemos que era causada por um dieta muito pobre de vitaminas e determinados elementos necessários à vida, devido alimentação do povo ser basicamente à base de polenta. 

Em 1935 foi descoberto que a pelagagra era uma doença causada pela falta de aminoácidos essenciais como a niacina (ácido nicotínico, vitamina B e vitamina PP). 


Doentes de pelagra no pelagrosário de Mogliano Veneto no ano de 1907


A província vêneta mais atingida por esta doença era a de Padova, a qual nos anos 1890 registrou um número de 13 mil pelagrosos. 

Em Mogliano Veneto, na província de Treviso, foi instalado um dos maiores e mais importantes pelagrosários da região do Vêneto. Em certos municípios a doença chegou a atingir 25% dos seus habitantes. Essas doença tornava muito precária a existência das pessoas atingidas. 


Doente com pelagra


A vida média da população na zona de Bassano, Asiago, Marostica e Thiene, todas na província de Vicenza, era logo depois de 1870, em torno dos 27,5 anos de idade, de acordo relatórios oficiais dos serviços sanitários. Isso se devia a grande mortalidade infantil no Vêneto em geral, onde uma em cada quatro crianças morria no seu primeiro ano de vida e a mortalidade ainda permanecia muito alta até os quinze anos de idade. 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS