quinta-feira, 19 de setembro de 2024

Língua Italiana na Época da Emigração: Desafios e Evolução



Língua Italiana na Época da Emigração: Desafios e Evolução


Após algumas décadas da unificação italiana, o Estado se deparou com desafios decorrentes das limitações educacionais de seus habitantes: uma grande parte da população era analfabeta, contrastando com uma elite culta. O analfabetismo e o uso dos dialetos locais eram predominantes, dificultando a disseminação do italiano padrão. A falta de recursos e infraestrutura escolar também contribuía para essa situação. No entanto, progressos foram gradualmente alcançados por meio de reformas e esforços políticos para melhorar o acesso à educação, reduzindo o analfabetismo e promovendo o uso do italiano.
Ainda assim, no momento da unificação, apenas uma pequena parcela da população italiana conseguia falar e escrever em italiano, com a maioria utilizando os dialetos locais. A questão da unificação linguística tornou-se uma prioridade urgente, dada a necessidade de uma língua comum para facilitar a integração nacional.
No entanto, havia debates sobre qual forma de italiano deveria ser promovida como língua nacional. Enquanto alguns defendiam a adoção do toscano florentino, outros argumentavam que a língua nacional deveria surgir organicamente do uso cotidiano dos falantes, em vez de ser imposta por intelectuais.
A disseminação do italiano enfrentou obstáculos, incluindo deficiências na educação, resistência cultural e a prevalência de dialetos locais. A introdução de leis de educação obrigatória e o aumento das interações sociais, como o serviço militar obrigatório e o crescimento do comércio nacional, ajudaram a promover o uso do italiano.
Além disso, a influência da mídia de massa, como jornais, rádio, cinema e televisão, também desempenhou um papel importante na promoção do italiano em detrimento dos dialetos locais.
Apesar dos avanços, o processo de unificação linguística foi longo e desafiador, levando quase um século para ser concluído. Até hoje, há uma dualidade na Itália entre o italiano oficial e os dialetos regionais, refletindo a complexidade da identidade linguística italiana.
A emigração italiana desempenhou um papel significativo na disseminação do italiano, levando à conscientização sobre a importância da língua nacional entre os emigrantes e aqueles que permaneceram na Itália.
O processo de italianização dos emigrantes resultou em mudanças na língua falada por eles, com uma tendência à perda do italiano padrão e à adoção de características linguísticas do país de destino. No Rio Grande do Sul, os imigrantes italianos que aqui chegaram provenientes de diversas regiões e províncias falavam somente os seus dialetos locais.  A Itália ainda tinha poucos anos de existência e a língua oficial adotada no país, o dialeto toscano florentino, era ainda pouco difundido e poucos a conheciam. No começo os imigrantes italianos não se entendiam entre eles e para contornar este obstáculo linguístico, que também ocorria no seio das famílias, devido aos casamentos entre pessoas de diversas proveniências, foram forçados a criar uma nova língua, misturando um pouco de cada dialeto com um  extrato base formado pelo dialeto veneto, que correspondia aquele da província com o maior número de imigrantes. A essa nova língua, um pouco diferente do dialeto veneto antigo, enxertado com palavras portuguesas e regionalismo gaúcho, foi dado o nome de Talian. Ele se difundiu rapidamente pelas colônias italianas da Serra Gaúcha e da região central do estado e rapidamente, com as migrações internas, passou também para o estado de Santa Catarina. O Talian evoluiu e não é mais apenas um outro dialeto e sim uma verdadeira língua, com literatura própria, livros e  dicionários, poesias, canções e programas semanais de rádio transmitidos por centenas de emissoras nos três estado no sul do Brasil.
Em resumo, a situação linguística da Itália durante a grande emigração foi caracterizada por esforços para promover o italiano como língua nacional, mas enfrentou desafios devido à diversidade linguística interna e à influência de línguas estrangeiras nos países de destino dos emigrantes. Para entender melhor a evolução da língua italiana entre os emigrantes, é crucial considerar fatores como geração, região de emigração, contato com outras línguas e nível educacional. Essa análise revela diferenças na preservação da língua materna ao longo das gerações e nas comunidades de imigrantes.

Os primeiros emigrantes, em sua maioria camponeses analfabetos, mantinham o dialeto como língua principal, adaptando-se ao italiano conforme sua interação com a sociedade local. Já os segundos emigrantes, mais educados e urbanizados, rapidamente adotaram o italiano como segunda língua, embora continuassem a usar o dialeto em certas situações.

A transição para o italiano como língua principal foi acelerada pela necessidade de integração na sociedade de acolhimento e pela influência da mídia e da educação formal. No entanto, mesmo após a adoção do italiano, muitos emigrantes mantiveram um apego sentimental ao dialeto como parte de sua identidade cultural.

Em suma, a experiência dos emigrantes italianos reflete a complexidade do processo de assimilação linguística, influenciado por fatores sociais, culturais e educacionais. A evolução da língua italiana entre os emigrantes é um testemunho da sua adaptabilidade e da interação dinâmica entre identidade linguística e cultural.


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