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sexta-feira, 26 de abril de 2024

Maiolini: Os Precursores da Grande Emigração


Eles saíam de casa ao nascer do sol e caminhavam a pé pelas estreitas estradas. Nas costas, carregavam uma caixa sustentada por duas alças de couro. Dentro, guardavam gravuras coloridas: imagens sacras, estampas de paisagens e cartas de baralho. Seguiam rotas intermináveis, ficando fora de casa por longos meses e até anos. Eram os vendedores de imagens que a famosa oficina de impressão Remondini, de Bassano del Grappa, conseguia enviar aos lugares mais distantes: uma proeza editorial extraordinária para aquela época, a mais importante do mundo no ramo.
O ofício de vendedor ambulante era comum na região de Bassano, entre os séculos XVIII e XIX. Milhares de pessoas vendiam as gravuras da Remondini de porta em porta, por vales e cidades, de toda a península e ainda no vasto império austríaco, na França, Suíça, Inglaterra, Dinamarca, Alemanha, Polônia, chegavam até na Rússia, em São Petersburgo e muitas vezes até além. Esses pequenos vendedores ambulantes, já um século antes, foram os que abriram caminho para as futuras ondas de emigrantes do final do século XIX e início do XX, quando milhões de italianos se dirigiram para as terras do além mar, o Novo Mundo.
Algum anos depois aqueles vendedores de estampas e gravuras, que viajavam a pé e vendiam de casa em casa, se transformaram em vendedores de artigos de ceramica, cristal e vidro como copos, garrafas, jarros e vários tipos de artigos de cristal. Ainda continuavam levando as suas mercadorias nas costas, acondicionadas em caixas sustentadas por duas tiras de couro ou em cesto de vime. Agora eram conhecidos por maiolini
Eles também foram numerosos na primeira metade do século XIX, nas áreas montanhosas e nos vales. Tiveram um sucesso passageiro que não durou muito, para eles era um trabalho árduo e arriscado, uma vida errante longe de casa.
Alguns nunca mais voltaram; outros, vítimas de roubos, acabaram desistindo. Mas muitos, no final das contas, pararam onde haviam chegado e abriram uma loja.
Em poucos anos, os primeiros sinais de transformações profundas apareceriam no velho continente. A Europa estava crescendo: construíam-se estradas, túneis, pontes, uma rede ferroviária extraordinária. Para realizar essas grandes obras públicas, centenas de milhares de trabalhadores se deslocaram de um país para outro.
É nesse contexto de movimentos que a emigração italiana dá seus primeiros passos e se consolida. As populações da área de Bassano encontrariam nesses trabalhos uma alternativa à sua extrema pobreza. Partiram de Asiago, de Valstagna, de Fastro, de Crespano, de Pedeobba, de Possagno e outros lugares deixando suas pobres moradas e, pela primeira vez, encontrariam a Europa.
Emigrar se tornaria muito em breve uma profissão. Seria essa profissão que os ajudaria a crescer, a conhecer o mundo. Sua pátria não seria mais apenas a Itália, mas a Europa. Seria o mundo.
Tudo teve início há mais de duzentos anos, com uma caixa nas costas e longas caminhadas, longe de casa. A emigração dos maiolini começou depois da abertura de algumas fábricas de vidro na Val di Genova e na Valsugana: pequenos agricultores e lenhadores abandonaram o antigo ofício para se tornarem vendedores ambulantes.
Muitos escolheram esse trabalho, mas poucos foram aqueles que realmente tiraram proveito da atividade; na volta, as economias tão duramente conquistadas,  frequentemente acabavam nos bares. Mais tarde, uma após a outra, as fábricas de objetos de vidro foram fechando e os maiolini voltaram a ser agricultores e lenhadores.
Foi quando a vida se tornou insuportável, restou àquelas populações apenas a emigração. Porque naquelas terras não havia quase nada. O que restou foi a emigração  que oferecia trabalho a todos.