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quarta-feira, 3 de maio de 2023

Torna Viagem: A Tragédia a Bordo do Navio Carlo R com Emigrantes Italianos

 



A Tragédia a Bordo do Navio Carlo R.

Em uma de suas tantas travessias do Atlântico, o navio a vapor Carlo R, da companhia de navegação Carlo Raggio, no dia 27 de Julho de 1893, no porto de Nápoles, recebeu a bordo cerca de 1.400 emigrantes italianos com destino à Santos, zarpando no mesmo dia em direção ao Brasil, onde deveria atracar com sua carga humana no porto do Rio de Janeiro, naquela época o único porto de entrada de imigrantes no país.
O Carlos R. com 101 metros de comprimento e 13 metros de largura, era um daqueles muitos antigos cargueiros que, a toda pressa, foram mal readaptados pelas diversas companhias de navegação italianas, como navio de transporte de passageiros, para aproveitar o boom da emigração, ligando os portos italianos com o Brasil e Argentina.
Nesse mesmo ano estava grassando uma epidemia de cólera em Nápoles, o que por si só já seria uma temeridade da companhia embarcar passageiros nesse porto. A conduta correta seria não receber a bordo passageiros provenientes de zonas epidêmicas de cólera.
Logo, no quarto dia de viagem, surgiu um caso da doença, a qual devido a superlotação e as precárias condições higiene a bordo se transformaria em uma grande epidemia quando alcançavam a linha do Equador. 
O comandante, ao invés de retroceder viagem para o lazareto de Nápoles, onde os doentes poderiam ter recebido tratamento, continuou a viagem, informando às autoridades que os casos não eram de cólera mas de gastrenterite. Um erro intencional ou não, que custou a vida de centenas de passageiros.
Durante a travessia, dezenas de casos tinham sido identificados e inúmeros já eram os mortos, transformando a embarcação em um sanatório flutuante quando chegaram ao porto do Rio de Janeiro. Este era  naquela época a parada obrigatória para todos os navios de passageiros com emigrantes que chegavam ao Brasil. Era o porto de entrada dos emigrantes.
O Carlo R não estava sozinho nesse infortúnio, pois, dois outros vapores italianos também ali estavam retidos, pelos mesmos problemas de epidemias a bordo. Eram os vapores Remo e o Vicenzo Florio, ambos abarrotados de emigrantes italianos e também com diversos mortos durante a travessia. 
As instalações portuárias do Rio de Janeiro, não tinham as mínimas condições de tratar e abrigar esses milhares de passageiros doentes ou contaminados pelo temível cólera.
O governo brasileiro, após algumas semanas, acertadamente, não permitiu atracasse e nem o desembarque de passageiros desses navios, sob pena de transformar o Rio de Janeiro na porta de entrada de uma epidemia de grandes proporções por todo o Brasil. Ainda não existia antibióticos, que é o tratamento adequado para o cólera, o qual somente apenas há alguns anos antes tinham identificado o agente bacteriano responsável. 
Os navios não obtendo a ordem para o desembarque, nem mesmo dos seus tripulantes, foram escoltados, por navios da marinha de guerra brasileira, para longe do porto, nas proximidades da Ilha Grande, no sul da costa fluminense, para a espera da decisão final.
Os três navios foram desinfetados e reabastecidos com carvão, medicamentos, água, víveres e receberam ordens de retornar para  a Itália, com toda a sua carga de emigrantes. 
Esse era o procedimento padrão, adotado internacionalmente na época, empregado em todos os portos do mundo para situações semelhantes.
Nesse episódio, somente no Carlo R., morreram 300 passageiros, obrigando as autoridades italianas a abrirem procedimento legal contra o comandante da embarcação e a empresa que o tinha fretado, ambos foram condenados.


Texto
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS