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sexta-feira, 8 de novembro de 2019

A Chegada dos italianos no Brasil


Com a esperança de encontrar melhores condições de vida, cerca de 380 camponeses italianos foram trazidos pelo navio La Sofia, desembarcando no Brasil em 21 de fevereiro de 1874.
As longas viagens de navio eram feitas em condições precárias, mas de acordo com documentos históricos, a confiança em uma vida melhor dava ânimo às pessoas.


Antes de embarcar eles precisavam percorrer longas distâncias dentro do próprio país, já que os navios saiam dos portos de Nápoles e Gênova. As passagens pagas pelos fazendeiros ou pelo governo brasileiro eram de terceira classe, quase sempre nos porões das embarcações.
A travessia podia demorar até 40 dias, conforme o destino final. Por conta da insalubridade, da falta de alimentação adequada, das precárias condições de higiene a bordo, da umidade e da superlotação, muitos passageiros adoeciam, principalmente as crianças pequenas e os idosos, que morriam antes de completá-la. Esses mortos eram sepultados no mar, enrrolados em cobertor ou lençóis e estas são as cenas mais fortes que ficaram indelevelmente marcadas na memória dos nossos antepassados.
O desembarque acontecia no porto do Rio de Janeiro, ou no de Santos e a partir daí, os imigrantes eram conduzidos para uma hospedaria de trânsito, e posteriormente para o local onde iriam se instalar. Para aqueles que tinham destino o Paraná e Santa Catarina, deviam embarcar em outro navio, para o porto de Paranaguá. Para os destinados ao Rio Grande do Sul, também precisavam embarcar em outro navio com destino à Porto Alegre. Antes desses embarques domésticos os imigrantes recem chegados deviam passar por uma quarentena na Ilhas das Flores, no Rio de Janeiro, onde ficavam alojados em uma hospedaria.
De acordo com um levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), os imigrantes italianos da época da “grande imigração” partiram de diversas regiões.
A maioria deles, quase 400 mil, partiram da região do Vêneto, no norte da Itália, onde, principalmente, na zona rural a população enfrentava a pobreza e a fome, desde a queda de Veneza o que piorou anos depois com a unificação da Itália. Os vênetos são seguidos de perto pelos italianos das regiões da Campania (166 mil), Calabria (113 mil), Lombardia (105 mil), Abruzzi/Molise (93 mil) e Toscana (81 mil).
Somente as regiões da Liguria, Umbria, Lazio e Sardenha não enviaram um número significativo de imigrantes ao Brasil.

sexta-feira, 2 de março de 2018

Emigração Vêneta – A Longa Viagem


Emigração Vêneta – A Longa Viagem



Preparativos para Viagem

Logo depois de tomada a decisão de emigrar e após terem dado os nomes ao agente responsável, representante da empresa promotora da  viagem, a providência inicial era ir na prefeitura e conseguir os passaportes. Estes eram necessários para toda a família e para tanto necessitava de uma declaração obtida ali mesmo na prefeitura da sua cidade. Também tinham que providenciar a obrigatória vacina. Eram meses de preparativos com a venda de tudo que não podiam levar consigo. Roupas, objetos de uso pessoal e ferramentas, eram acondicionadas em grandes caixas de madeira, baús, arcas e sacos. Faziam encontros com os que ficavam, oportunidade em que se despediam de amigos e familiares, não esquecendo da obrigatória última visita ao cemitério para o derradeiro adeus aos entes queridos já falecidos. Visitavam também o páraco, do qual pediam a benção e a sua interseção para afrontarem a longa travessia. No dia marcado para iniciarem a viagem, com destino ao porto, despediam-se comovidamente dos familiares e bem cedo partiam banhados em lágrimas, davam uma derradeira e demorada olhada para trás e seguiam confiantes no seu destino. Chegavam a estação ferroviária, que muitas vezes se localizava em outro município e junto com tantos outros que lá se encontravam, seguiam para o porto de Gênova. Para a grande maioria esta viagem até a estação ferroviária já se constituia na distância mais longe que se afastaram das suas cidades. A viagem de trem também era deconhecida para muitos o que gerava medo e apreensão. Em cada estação que o trem parava era a mesma cena: dezenas de homens, mulheres e crianças, subiam carregados de bagagens colocadas em malas de papelão, sacos ou baús de madeira. O destino de todos era o Porto de Gênova onde, pela primeira vez, a grande maioria vinha a conhecer o mar.




A espera no Porto

Chegados ao Porto de Gênova, quase sempre, deviam esperar alguns dias, as vezes algumas semanas, pela partida do vapor que os levaria para a tão sonhada terra “della cucagna”, a prometida América. Durante o período de espera da partida, os emigrantes se viam desamparados e eram submetidos a toda sorte de provações, vendo muitas vezes, os seus poucos recursos economizados, delipendiados por uma gama de aproveitadores, especuladores e ladrões. Roubos de passaportes, dinheiro e bagagens eram constantes. O preço dos alimentos e dos albergues na área do porto eram inflacionados, por comerciantes desonestos, causando muita fome e doenças.


A Travessia do Oceano

Chegada a hora do embarque, o movimento intenso e o barulho de vozes, ordens gritadas e apitos, em torno do vapor, deixavam muito nervosos os emigrantes que se amontovam para não perder a chamada. No barco seguiam as ordens recebidas dos marinheiros encarregados e se dirigiam em grupos aos porões fétidos e sufocantes da terceira classe a eles destinados, onde os esperavam catres com palha, onde ficariam amontoados e nenhuma privacidade. Algumas famílias, para não serem dividas, voltavam dos porões e optavam em viajar na coberta do navio, ao descoberto, onde ali, ao menos, se podia viajar juntos e respirar um ar melhor. Estes suportaram frio intenso e calor sufocante, além dos perigos dos fortes ventos durante as tempestades em alto mar. Os navios no início da grande emigração ainda eram lentos e despreparados veleiros. Depois, vieram aqueles com motor a carvão, estes quase sempre navios de carga, adaptados as pressas para transportar pessoas. A situação higiênica a bordo era muito precária, sem nenhum conforto. Viajavam com muitos animais vivos que viriam a ser abatidos para servirem de alimentação durante a viagem. Sem médico a bordo, o perigo de epidemias era constante e, de fato, inúmeras ocorreram dizimando muitas vidas, quase sempre de crianças e idosos, cujos corpos eram então jogados ao mar, para o horror das suas famílias. A lembrança da grande travessia ficou indelevelmente marcada na memória dos nossos antepassados, persistindo até hoje nas narrativas dos seus descendentes. Foi o episódio mais marcante na vida dos pioneiros.


A Chegada na Terra Prometida

Ao chegarem ao porto de destino, no Brasil, país destino de milhares de emigrantes vênetos, muitos logo perceberam que tinham sido enganados, iludidos por falsas promessas. Alguns chegaram vinculados à contratos de trabalho que não deixavam margens para arrependimentos ou mesmo possibilidades de retorno. Outros, sem meios de subsistência, não podiam se dar ao luxo de retornarem, mesmo porque na terra natal já não possuíam mais nada. Os desafios que deveriam enfrentar eram ainda muito grandes até chegar a tomar posse do tão sonhado pedaço de terra.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta