Emigração Vêneta – A
Longa Viagem
Preparativos para Viagem
Logo depois de tomada a decisão de emigrar e após terem dado os nomes ao agente responsável, representante da empresa promotora da viagem, a providência inicial era ir na prefeitura e conseguir os passaportes. Estes eram necessários para toda a família e para tanto necessitava de uma declaração obtida ali mesmo na prefeitura da sua cidade. Também tinham que providenciar a obrigatória vacina. Eram meses de preparativos com a venda de tudo que não podiam levar consigo. Roupas, objetos de uso pessoal e ferramentas, eram acondicionadas em grandes caixas de madeira, baús, arcas e sacos. Faziam encontros com os que ficavam, oportunidade em que se despediam de amigos e familiares, não esquecendo da obrigatória última visita ao cemitério para o derradeiro adeus aos entes queridos já falecidos. Visitavam também o páraco, do qual pediam a benção e a sua interseção para afrontarem a longa travessia. No dia marcado para iniciarem a viagem, com destino ao porto, despediam-se comovidamente dos familiares e bem cedo partiam banhados em lágrimas, davam uma derradeira e demorada olhada para trás e seguiam confiantes no seu destino. Chegavam a estação ferroviária, que muitas vezes se localizava em outro município e junto com tantos outros que lá se encontravam, seguiam para o porto de Gênova. Para a grande maioria esta viagem até a estação ferroviária já se constituia na distância mais longe que se afastaram das suas cidades. A viagem de trem também era deconhecida para muitos o que gerava medo e apreensão. Em cada estação que o trem parava era a mesma cena: dezenas de homens, mulheres e crianças, subiam carregados de bagagens colocadas em malas de papelão, sacos ou baús de madeira. O destino de todos era o Porto de Gênova onde, pela primeira vez, a grande maioria vinha a conhecer o mar.
A espera no Porto
Chegados ao Porto de
Gênova, quase sempre, deviam esperar alguns dias, as vezes algumas semanas,
pela partida do vapor que os levaria para a tão sonhada terra “della cucagna”,
a prometida América. Durante o período de espera da partida, os emigrantes se
viam desamparados e eram submetidos a toda sorte de provações, vendo muitas
vezes, os seus poucos recursos economizados, delipendiados por uma gama de
aproveitadores, especuladores e ladrões. Roubos de passaportes, dinheiro e
bagagens eram constantes. O preço dos alimentos e dos albergues na área do
porto eram inflacionados, por comerciantes desonestos, causando muita fome e
doenças.
A Travessia do Oceano
Chegada a hora do
embarque, o movimento intenso e o barulho de vozes, ordens gritadas e apitos,
em torno do vapor, deixavam muito nervosos os emigrantes que se amontovam para
não perder a chamada. No barco seguiam as ordens recebidas dos marinheiros
encarregados e se dirigiam em grupos aos porões fétidos e sufocantes da
terceira classe a eles destinados, onde os esperavam catres com palha, onde
ficariam amontoados e nenhuma privacidade. Algumas famílias, para não serem
dividas, voltavam dos porões e optavam em viajar na coberta do navio, ao
descoberto, onde ali, ao menos, se podia viajar juntos e respirar um ar melhor.
Estes suportaram frio intenso e calor sufocante, além dos perigos dos fortes
ventos durante as tempestades em alto mar. Os navios no início da grande
emigração ainda eram lentos e despreparados veleiros. Depois, vieram aqueles
com motor a carvão, estes quase sempre navios de carga, adaptados as pressas
para transportar pessoas. A situação higiênica a bordo era muito precária, sem
nenhum conforto. Viajavam com muitos animais vivos que viriam a ser abatidos
para servirem de alimentação durante a viagem. Sem médico a bordo, o perigo de
epidemias era constante e, de fato, inúmeras ocorreram dizimando muitas vidas,
quase sempre de crianças e idosos, cujos corpos eram então jogados ao mar, para
o horror das suas famílias. A lembrança da grande travessia ficou
indelevelmente marcada na memória dos nossos antepassados, persistindo até hoje
nas narrativas dos seus descendentes. Foi o episódio mais marcante na vida dos
pioneiros.
A Chegada na Terra
Prometida
Ao chegarem ao porto de
destino, no Brasil, país destino de milhares de emigrantes vênetos, muitos logo
perceberam que tinham sido enganados, iludidos por falsas promessas. Alguns
chegaram vinculados à contratos de trabalho que não deixavam margens para
arrependimentos ou mesmo possibilidades de retorno. Outros, sem meios de
subsistência, não podiam se dar ao luxo de retornarem, mesmo porque na terra
natal já não possuíam mais nada. Os desafios que deveriam enfrentar eram ainda
muito grandes até chegar a tomar posse do tão sonhado pedaço de terra.
Dr.
Luiz Carlos B. Piazzetta