Piroscafo Adria 1898
Nos anos de 1875 a 1975 estima-se que cerca de um milhão e meio de italianos optaram por emigrar para o Brasil. Os anos de maior desenvolvimento do fluxo migratório italiano incluem o período 1887-1902, então o fluxo diminuiu até ser interrompido com a Primeira Guerra Mundial, para retomar de forma reduzida nos anos entre as duas guerras e com mais força no segundo pós-guerra.
Os italianos têm desempenhado papel fundamental nos processos de modernização do Brasil contemporâneo, participando pessoalmente do desenvolvimento da economia exportadora, da industrialização, dos processos de politização e nacionalização das massas.
Dentre as diversas nacionalidades de migrantes que chegaram ao Brasil desde as primeiras décadas do século XIX, o italiano foi imediatamente considerado um migrante apto a solucionar a escassez de mão de obra que existia em diversos setores da economia devido às afinidades culturais e étnicas.
A importância do grupo italiano dentro do movimento migratório europeu para o Brasil inclui vários motivos:
- a primeira razão é quantitativa. Entre 1870 e 1920, auge do longo período denominado "grande imigração", os italianos representaram 42% do total de imigrantes que entraram no Brasil, ou seja, 1,4 milhão de italianos em 3,3 milhões de imigrantes.
- a segunda razão é qualitativa. O italiano incorporou as duas condições do imigrante mais apreciadas pelas autoridades públicas, intelectuais e empresários privados: as afinidades de idioma, religião e costumes facilitaram a assimilação do imigrante italiano mais do que do alemão ou do japonês. Além disso, o imigrante italiano estava, pelo menos no imaginário brasileiro, mais apto a realizar o ideal de "embranquecimento" da população local, condição considerada necessária para tornar o Brasil mais "civilizado".
Os italianos deixaram seu país principalmente por razões econômicas e sócio-culturais. A emigração, de fato, por um lado, aliviou os países das pressões socioeconômicas libertando-os da falta de trabalho e, por outro lado, reabastecendo os cofres de seus países de origem com remessas que os migrantes regularmente enviavam a seus familiares.
A Itália, depois de mais de 20 anos de luta pela unificação do país, encontrou-se com uma população, especialmente rural, com enormes problemas de sobrevivência tanto no meio rural como no urbano. Nessas condições, a emigração não era apenas apoiada pelo governo, mas era a única solução de sobrevivência para muitas famílias. É por isso que entre 1860 e 1920 mais de 7 milhões de italianos emigraram.
No Brasil, a imigração "subsidiada" vigorou de 1870 a 1930 com o objetivo de estimular a chegada de imigrantes. Neste período, foram emitidas facilidades e ajudas em dinheiro para a compra de passagens, para hospedagem e para o primeiro emprego de forma a facilitar a instalação inicial do migrante no país. Os imigrantes comprometem-se a respeitar os contratos que estabelecem o seu local de trabalho e as condições de trabalho a que têm de se submeter. Aprovado em 1871, a partir da lei “Ventre Livre”, tratava-se inicialmente de iniciativas espontâneas dos fazendeiros. A Lei do Ventre Livre, de fato, editada em 1871, libertou da escravidão crianças nascidas de pais escravos.
Na verdade, após a abolição da escravatura, os imigrantes - inclusive italianos - tomaram o lugar dos escravos nas plantações de café. Posteriormente, esta iniciativa passou cada vez mais para os governos, provinciais e imperiais até 1889, e depois para os dos Estados individuais e federais. Como a imigração "subsidiada" favorecia a chegada de famílias e não de indivíduos, nesse período chegaram famílias muito numerosas (cerca de doze pessoas), compostas por homens, mulheres e crianças, mesmo de gerações diferentes.
Os primeiros migrantes a abandonar a Itália na época da "grande emigração" (1870-1920) eram essencialmente os vênetos (cerca de 30% do total), seguidos pelos campônios, calabreses e lombardos. A este primeiro grupo de imigrantes juntaram-se mais tarde emigrantes das regiões do sul da Itália.
Fonte: Brasil 500 anos de povoamento. IBGE. Rio de Janeiro. 2000
Os destinos dos migrantes neste período de imigração "subsidiada" eram as fazendas cafeeiras de São Paulo e os principais assentamentos, localizados no Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Espírito Santo. Um terceiro grupo de imigrantes instalou-se em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo, onde se concentraram as pessoas que fugiam dos campos ou, eludindo a vigilância, não iam trabalhar nas colônias.
Os italianos que se tornaram colonos ou trabalhadores nas fazendas de café trabalharam em condições adversas, com poucas chances de economizar. Eram poucos aqueles que podiam comprar uma pequena propriedade.
As famílias migrantes, que chegaram às fazendas, sujeitaram todos os membros, inclusive mulheres e crianças, a um contrato de trabalho. O contrato estipulava que cada família deveria cuidar de um certo número de pés de café, recebendo uma quantia em dinheiro a cada mil pés.
O contrato lhes dava direito a uma casa com um pequeno terreno contíguo, onde poderiam criar animais e fazer uma pequena horta, além da possibilidade de plantar milho e feijão preto entre as fileiras de cafeeiros que lhes fossem confiadas. De qualquer forma, essa produção própria servia apenas para alimentar os membros da família.
As condições de vida dos imigrantes que chegavam aos assentamentos ou povoados para povoar não eram igualmente fáceis. Os italianos, de fato, chegaram ao sul do país depois dos alemães e, portanto, os núcleos coloniais atribuídos a eles eram os mais distantes das regiões já habitadas, os menos férteis, sem meios de comunicação e sem qualquer assistência médica e religiosa.
Nessas condições adversas, eram frequentes os casos de abandono de lotes por imigrantes que, após dez anos de trabalho, quase não tinham poupança e, na sua maioria, ainda estavam em dívida com o governo e comerciantes da área.
Estas são as áreas onde a presença de agricultores italianos foi mais disseminada:
- Rio Grande do Sul: o sucesso das colônias criadas nesta área foi em muitos aspectos desigual. Houve casos de colônias exitosas que deram origem às cidades de Bento Gonçalves, Garibaldi e Caxias e outros casos de colônias que tiveram vida curta como a de Silveira Martins.
- Santa Catarina: os colonos italianos tiveram que rumar para as colônias alemãs já presentes onde foram discriminados e explorados.
- Paraná: as colônias próximas a Curitiba se desenvolveram bem principalmente porque na região foi possível trabalhar na construção de ferrovias (Paranaguà-Curitiba e Curitiba-Ponta Grossa). Algumas colônias não prosperaram: Alessandra, Nova Itália ambas no litoral paranaense e colônia Cecília na cidade de Palmeira.
- Minas Gerais: as colônias próximas às cidades prosperaram sobretudo às que ofereceram trabalhadores para obras públicas. Foi o caso de Barreiros, Carlos Prates e Américo Werneck, criados em 1896 perto da nova capital (Belo Horizonte).
- Espírito Santo: houve forte presença de imigrantes italianos entre 1870 e 1920. As terras férteis e prósperas da colônia de Demétrio Ribeiro são famosas.
Outros destinos dos migrantes italianos foram as cidades, entre elas São Paulo, que recebeu o maior número de italianos, e o Rio de Janeiro, que foi a capital do Brasil e um dos principais portos de chegada dos emigrantes.
Em São Paulo, chamada de "cidade italiana" no início do século XX, os italianos foram empregados principalmente na nascente indústria e nas atividades de serviços urbanos. Os italianos passaram a representar 90% dos trabalhadores das fábricas paulistas em 1901. Formaram-se verdadeiros “Pequenas Itálias" (como o Brás, Bom Retiro, Bexiga), onde os imigrantes italianos muitas vezes se concentravam de acordo com os locais de origem.
Como trabalhador da indústria, o imigrante recebia baixos salários, trabalhava muitas horas e não tinha nenhum tipo de seguro contra acidentes e doenças. Como no trabalho na agricultura, também nas fábricas, todos os membros da família trabalhavam, incluindo mulheres (nas fábricas têxteis) e crianças menores de 12 anos.
Na qualidade de trabalhador, era difícil para os imigrantes (italianos e não italianos) melhorar sua situação social e econômica. Por isso, muitos passaram a trabalhar por conta própria, principalmente como artesãos, pequenos comerciantes, motoristas de táxi e ônibus, vendedores ambulantes de frutas e verduras, engraxate, com bares e restaurantes.
Entre os migrantes italianos (não muitos na verdade) que fizeram uma posição, encontramos como exemplo o conde Matarazzo. Chegando ao Brasil em 1881, já vinha de uma família de classe média. O conde Matarazzo trouxe algumas economias e já tinha uma ideia clara do negócio que começaria no novo mundo. Para isso obteve o apoio de banqueiros ingleses e ele próprio atuou como banqueiro encarregado de transferir as remessas de outros migrantes italianos para a Itália. Sua imagem de imigrante bem sucedido também está repleta de "aspectos esportivos", pois foi ele quem doou o terreno onde foi construído o estádio de futebol Palestra Itália que, em 1942, devido à Segunda Guerra Mundial passou a se chamar Sociedade Esportiva Palmeiras, hoje importante esquadra de futebol brasileira.
Os imigrantes italianos participaram junto com os trabalhadores brasileiros dos movimentos de protesto e greve, aderindo a associações e sindicatos em sua maioria de inspiração socialista e anarquista.
Se as condições de trabalho eram insalubres, o mesmo pode ser dito das casas, já que os imigrantes costumavam se estabelecer em casas coletivas, chamadas de cortiços, ou nas favelas, localizadas na parte alta das cidades. Em alguns casos, os migrantes italianos poderiam morar em determinados bairros étnicos, como Brás ou Bexiga em São Paulo, onde contariam com a cooperação e solidariedade de seus conterrâneos.
A luta pela reivindicação de uma identidade italiana (italianidade) foi uma batalha travada por imigrantes e seus descendentes no Brasil. O governo de Mussolini entrou plenamente nessa luta e tentou fomentar o sentimento de orgulho "de ser italiano" fora da Itália. É o período em que a questão da italianidade assumia essencialmente um caráter político, tanto que muitos imigrantes italianos ou seus descendentes aderiram ao fascismo.
No entanto, não faltaram episódios de conflito interno na comunidade italiana entre fascistas e antifascistas, que por muito tempo marcaram o equilíbrio e as relações entre os italianos.
Outra forma de conflito dentro da comunidade surgiu nos anos que se seguiram à Segunda Guerra Mundial. Entre 1946 e 1960, cerca de 110.000 imigrantes italianos chegaram no Brasil, portadores de um novo conceito de emigração, mais pragmático e vinculado à possibilidade de retornar logo à Itália e com alguma poupança. As associações e referências tradicionais à pátria não tinham o encanto que podiam exercer sobre as velhas gerações e não foram poucos os casos de incompreensão e rivalidade entre antigos e novos imigrantes.
Muitas outras instituições contribuíram para manter viva a reivindicação da italianidade. Estes incluem a Igreja, escolas, associações, patronatos e a própria imprensa.
A Igreja Católica aproveitou tanto o clero italiano enviado ao Brasil quanto seu status privilegiado na sociedade brasileira para fortalecer o vínculo entre a catolicidade e a italianidade, por meio de espaços de ensino e pós trabalho, por meio de escolas religiosas e festas dos santos patronos.
Como o idioma era o instrumento estratégico da unidade étnica, procurou-se incluir o italiano como ensino nas escolas públicas, mas isso foi difícil por dois motivos: pela falta de oferta do governo brasileiro e também pela falta de demanda dos imigrantes, que vivendo essencialmente em fazendas de café e quase toda família trabalhando, tinham poucas chances de mandar seus filhos para a escola.
Do ponto de vista das políticas migratórias, é importante destacar que os italianos fizeram parte desse imenso fluxo imigratório que começou a se espalhar em meados da década de sessenta do século XIX. As classes dominantes brasileiras incentivaram a imigração principalmente por dois motivos: povoar um imenso território cultivando o máximo de terra possível e apoiar um modelo de crescimento econômico baseado na exportação de certos produtos, em especial o café.
Em 1888, após a abolição da escravatura, tornou-se essencial incentivar a chegada de mão-de-obra não qualificada para a inclusão na agricultura e nas grandes plantações. Os governos brasileiros passaram então a promover a chegada de contingentes de imigrantes europeus. Esta promoção deu-se essencialmente através de duas medidas: o pagamento da travessia transoceânica através de agências especiais (para as quais o emigrante não tinha que pagar o preço da passagem) e a preferência por acolher não imigrantes solteiros mas sim famílias inteiras, iniciativa que só poderia ter sucesso nas numerosas áreas deprimidas do centro-sul da Europa.
A emigração após a Primeira Guerra Mundial, por outro lado, ocorria por fora dos mecanismos criados pelo governo brasileiro. Os italianos partiam contando com as redes sociais de seus territórios de origem e iam trabalhar nas inúmeras atividades comerciais que hoje caracterizam os italianos no Brasil. Muito importante, desse ponto de vista, é o papel dos italianos na construção civil em áreas urbanas.
Texto Ministero degli Affari Esteri
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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