Mostrando postagens com marcador trabalho rural. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador trabalho rural. Mostrar todas as postagens

sexta-feira, 8 de março de 2024

Sob o Sol da Esperança



A história de Rosalia e sua família é um intricado bordado, tecido com os fios da perseverança e da resiliência em meio às vicissitudes da vida. Nascida em uma época tumultuada na Itália, Rosalia enfrentou a perda de seu amado marido, Giacomo, e encontrou refúgio nos braços de sua filha Giuditta e seu genro Donato. A decisão de Donato de emigrar para o Brasil, em busca de oportunidades que se esvaíam nas terras sicilianas, lançou a família em uma jornada transatlântica repleta de desafios e descobertas.
Ao desembarcarem no porto de Santos, a vastidão do Brasil se desdobrou diante deles, uma terra de promessas e incertezas. Seguiram os trilhos de ferro até a região de Ribeirão Preto, onde a imponente plantação de café se estendia como um oceano verde sob o sol tropical. A humilde casa de barro e chão de terra batida onde foram alojados refletia a dura realidade da vida dos imigrantes trabalhadores rurais que foram para São Paulo, mas também carregava consigo a esperança de um futuro melhor.
Enquanto Donato e Giuditta mergulhavam no árduo trabalho da plantação, Rosalia se dedicava à cura e ao cuidado dos que buscavam alívio em suas mãos sábias. Com um conhecimento transmitido por gerações, ela se tornou uma figura venerada entre os colonos, uma luz de esperança em meio à escuridão da adversidade. Seu vínculo com a antiga curandeira escrava, uma octogenária que ainda morava na fazenda, apesar das barreiras linguísticas, enriqueceu ainda mais seu repertório das ervas brasileiras e técnicas curativas.
Enquanto os anos passavam na fazenda, a família mantinha viva a chama da esperança, economizando cada centavo em direção à liberdade tão sonhada. Nas jornadas dominicais até Ribeirão Preto, eles estabeleciam laços com outros imigrantes, compartilhando histórias e informações preciosas sobre o mundo além dos cafezais. Foi através dessas conexões que Rosalia descobriu a oportunidade de adquirir a chácara que se tornaria seu refúgio definitivo.
Com determinação e astúcia, Donato e Giuditta selaram o destino da família, erguendo-se das amarras da fazenda e dando o primeiro passo em direção à independência. Em Ribeirão Preto, cada membro da família encontrou seu lugar: Donato, com sua força e perseverança, ascendendo nas fileiras da ferrovia; Giuditta, com sua habilidade na costura, transformando um simples salão em um império da moda local; e Rosalia, a curandeira sábia e compassiva, que continuou a espalhar sua luz curativa pela comunidade.
Quando Rosalia partiu deste mundo, deixou para trás um legado que ecoaria através das gerações. Sua vida de serviço e dedicação foi imortalizada nas ruas de Ribeirão Preto, onde seu nome é reverenciado até os dias de hoje. Seu túmulo, adornado com flores e memórias, é um testemunho do amor e da gratidão daqueles cujas vidas foram tocadas por sua bondade. Assim, a saga de Rosalia e sua família permanece como um testemunho inspirador da força do espírito humano em face das adversidades.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


terça-feira, 23 de janeiro de 2024

Resistência Feminina na Província de Belluno no Século XIX - O Trabalho Sazonal das Meninas

 


No crepúsculo do século XIX, nas belas terras de Belluno, no entorno da magnífica província de Trento, desdobrava-se um capítulo épico de luta e sobrevivência, protagonizado por jovens moças compelidas pelo flagelo da fome. Entre os frágeis anos de 10 a 12-13, essas meninas destemidas se entregavam a afazeres domésticos nas rústicas fazendas, enquanto, nos raros intervalos de liberdade, embrenhavam-se nos campos para a colheita de ervas e a pastagem dos animais.

Entrementes, as mulheres, desabrochando na plenitude dos 14 anos, ingressavam em uma esfera mais árdua do labor agrícola, revelando uma resiliência notável que desafiava as agruras da natureza. Imbuídas em tarefas que tradicionalmente incumbiam ao sexo masculino, elas se dedicavam incansavelmente ao cuidado meticuloso das plantações de milho, perfurando as fileiras de vinhas com determinação, realizando tarefas de pulverização de sulfato, com a pesada carga de bombas sobre os ombros, uma labuta que persistia ao longo de intermináveis dias.

Além disso, eram parte integral das operações essenciais da agricultura, engajando-se no árduo processo de corte e colheita de trigo e milho. Seu envolvimento transcendia os limites das plantações, pois manipulavam o feno com destreza, virando-o, empilhando-o e, por fim, carregando-o com graciosidade nos carros, compondo uma sinfonia de força e graça em meio à ruralidade imponente.

Na dança mágica da vindima, essas meninas- moças destemidas não apenas testemunhavam, mas eram protagonistas, contribuindo ativamente nas operações vitais, traçando os contornos de suas existências entrelaçadas com a terra que tanto exigia e, paradoxalmente, concedia. Assim, sob o firmamento austero da época, as jovens de Belluno traçavam uma narrativa de coragem e perseverança, onde a fome instigava uma dança ardente entre o dever e a resistência.