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sábado, 15 de novembro de 2025

O Legado do Leão de São Marcos: História da Emigração Vêneta e seu Impacto no Brasil


Leão Alado do Veneto


O Legado do Leão de São Marcos: História da Emigração Vêneta e seu Impacto no Brasil

Leão Alado de São Marcos e a Emigração Vêneta

Após a queda de Veneza em 1797, diante das tropas de Napoleão, quando o último doge Ludovico Marin aboliu oficialmente a Sereníssima República de Veneza após 1.100 anos de esplendor, a região que hoje compõe o Vêneto entrou em uma fase econômica extremamente difícil e instável. Alternando entre domínio francês e austríaco, o território viu sua situação econômica se deteriorar ano após ano.

A partir de 1860, com a incorporação do Vêneto ao Reino da Itália, a crise se aprofundou. A região já era tradicionalmente marcada por uma forte emigração sazonal, especialmente durante o inverno, quando trabalhadores partiam para longas jornadas em países europeus como Áustria e Alemanha. Este fenômeno migratório temporário afetava principalmente as áreas montanhosas, onde o clima rigoroso permitia apenas uma agricultura de subsistência. A maior parte desses emigrantes vinha das províncias de Belluno, Vicenza e Treviso.

Após a unificação italiana — o Risorgimento —, os vênetos enfrentaram sérias dificuldades econômicas e uma crescente taxa de desemprego no meio rural. As causas eram diversas: métodos agrícolas ultrapassados, concorrência com grãos importados a baixo custo, e anos de desastres naturais como avalanches nas montanhas, além de enchentes e secas nas planícies. A ausência de um parque industrial capaz de absorver essa grande massa de trabalhadores expulsos do campo agravou ainda mais a crise.

A fome começou a rondar inúmeros lares vênetos. A alimentação era extremamente pobre, baseada quase exclusivamente em polenta, às vezes acompanhada apenas de ervas. Carne, leite e pão de trigo eram luxos raros para a maioria da população. Como grande parte dos agricultores não era proprietária, trabalhava para patrões donos de terras, dividindo com eles a maior parte das colheitas. Quando não eram assalariados por jornada, eram contratados apenas para períodos específicos de plantio e colheita mediante contratos pouco vantajosos de meeiros.

A desnutrição crônica favoreceu o surgimento da pelagra, doença grave causada pela carência prolongada de vitaminas. A enfermidade incapacitou milhares de vênetos para o trabalho, exigindo longos períodos de internação em instituições especializadas conhecidas como pelagrosários, presentes em diversas cidades do Vêneto.

Com a unificação da Itália, o território veneto sofreu igualmente os impactos da profunda crise nacional: desemprego crescente, déficit econômico e altos impostos. Tudo isso desencadeou o fenômeno social conhecido como Grande Emigração, um dos maiores movimentos migratórios da história moderna. Milhares de famílias deixaram a região rumo aos países do Novo Mundo, sobretudo o Brasil e a Argentina, atravessando o Atlântico em busca de oportunidades e sobrevivência.

Essa primeira fase da Grande Emigração durou até 1914, quando o início da Primeira Guerra Mundial marcou uma ruptura definitiva no fluxo migratório vêneto e italiano.

Em 2008, registravam-se 260.849 cidadãos vênetos vivendo no exterior, representando 5,4% da população regional. Os maiores contingentes estavam no Brasil (57.052 vênetos), seguido pela Suíça (38.320) e pela Argentina (31.823). Contudo, esses números não representam a dimensão real da presença vêneta no Brasil. Atualmente, considera-se que apenas o Rio Grande do Sul abriga simbolicamente “um segundo Vêneto”, sendo frequentemente chamado de oitava província vêneta.


Bandeira Região do Veneto

A Bandeira do Vêneto e o Legado dos Emigrantes

No Brasil, os imigrantes vênetos escreveram talvez a página mais brilhante da história do Povo Veneto. Com sua inteligência, cultura, gastronomia, língua e fé, transformaram densas e impenetráveis florestas brasileiras em cidades prósperas e vibrantes, que se tornaram motivo de orgulho para o país e heranças vivas da identidade vêneta.

Essas famílias deixaram sua terra natal, seus bens e, na maioria das vezes, seus familiares, sabendo que jamais os veriam novamente. Esse gesto foi também uma forma silenciosa e pacífica de protesto contra as autoridades e a classe patronal italiana, incapazes de conter a crise e evitar esse verdadeiro êxodo. É certo que a emigração serviu como válvula de escape, impedindo uma guerra civil que parecia inevitável.

Hoje, existem milhões de descendentes vênetos espalhados pelo mundo, principalmente nos estados brasileiros de Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Espírito Santo.

A origem vêneta é evidente inclusive na toponímia de inúmeros municípios do Sul do Brasil, como:

Nova Schio, Nova Bassano, Nova Treviso, Nova Veneza, São Marcos, Nova Pádua, Monte Vêneto e Monte Berico.

Nos últimos anos, muitos brasileiros e argentinos descendentes dos primeiros emigrantes têm feito o caminho inverso, retornando ao Vêneto, e um grande número deles fixou residência definitiva na Itália, reconectando-se às raízes dos seus antepassados.

Nota do Autor – Explicação Necessária

Este texto reúne, de forma histórica e acessível, os principais fatos que marcaram a trajetória do povo vêneto desde a queda da Sereníssima República de Veneza até o grande movimento migratório que levou milhares de famílias ao Brasil e à Argentina entre os séculos XIX e XX. Não se trata de opinião, mas de uma síntese baseada em estudos amplamente reconhecidos pela historiografia italiana e brasileira.

A narrativa busca esclarecer as causas profundas da emigração vêneta — econômicas, sociais e ambientais — e mostrar como esse deslocamento em massa moldou a formação de extensas comunidades de descendentes no sul do Brasil, onde a presença cultural vêneta permanece viva até hoje. O texto também destaca o simbolismo do Leão Alado de São Marcos e a importância da bandeira do Vêneto como elementos de identidade que atravessaram o oceano junto com os emigrantes.

Seu objetivo é oferecer ao leitor uma compreensão mais ampla desse fenômeno, valorizando o legado dos antepassados que deixaram sua terra em busca de sobrevivência, dignidade e esperança, contribuindo profundamente para a construção do Brasil contemporâneo.


terça-feira, 20 de dezembro de 2022

Resumo da História dos Vênetos

Bandeira do Vêneto

 

O povoamento do que hoje é o Vêneto começou a partir do 5º milênio a.C. e intensificou-se durante a Idade do Bronze, primeiro na área montanhosa de Verona, ao longo da costa oriental do Lago de Garda e perto dos rios. Por volta do ano 1000 a.C. notou-se na zona de Este a civilização paleo-veneziana, que desenvolveu uma verdadeira cultura e manteve relações com grupos étnicos muito distantes, como os gregos, os etruscos, os povos transalpinos e os celtas.

Os Veneti, como então já eram conhecidos,  rapidamente alcançaram uma forte identidade étnica, cultural e política e para sua defesa no século III a.C. eles se aliaram com Roma para enfrentar as ameaçadoras pressões dos bárbaros. A aliança com os romanos resultou em importantes obras de construção das infra-estruturas e de arranjo e construção dos núcleos urbanos. O Vêneto foi então completamente absorvido pelo Império Romano no século I a.C., mas manteve intactas suas características distintivas, pelas quais Roma sempre demonstrou grande respeito.

Nos primeiros séculos DC. as invasões germânicas desferiram um duro golpe aos vênetos e aos romanos e na sequência do impacto ruinoso dos longobardos, nos séculos VI e VII, houve um êxodo dos habitantes para a zona da laguna o embrião da futura cidade. O primeiro núcleo de Veneza pode ser datado por volta dos séculos IX e X.

Entretanto, no continente, os assaltos dos húngaros obrigaram a população a erguer novas fortificações defensivas, fenômeno que em pouco tempo deu origem a uma multiplicidade de jurisdições autônomas e ao feudalismo, que se desvaneceria progressivamente após a recuperação comercial do século XII século e o nascimento de instituições municipais, que se uniram na "Liga Lombarda" opuseram-se às várias tentativas de restauração imperial de Frederico I conhecido como Barbarossa e depois de Frederico II. Os nobres senhores feudais como os da Romano, os da Camino, os da Carrara e os d'Este souberam trazer a seu favor a situação conflituosa, apresentando-se como guardiões da segurança das cidades, sendo eleitos com os títulos de podestà ou capitão do povo.

Enquanto isso, Veneza retirou-se da égide de Bizâncio, que a havia tornado sua província, estabelecendo um governo oligárquico governado por um Doge e expandiu seu poder por todo o Mediterrâneo com o controle das rotas e portos da bacia oriental. As importantes conquistas comerciais venezianas acenderam a hostilidade com Gênova, e no século XIII começou a luta com esta cidade pela hegemonia sobre os mares, que Veneza mais tarde conquistou. Mas a autoridade de Veneza também se expandiu para o interior e já no início do século XV se apresentava como a maior potência da península e conseguiu unificar o Vêneto sob si. Essa hegemonia deixou um estilo comum impresso na cultura, na linguagem e na arquitetura das edificações das cidades e do campo. Em 1797 a República de Veneza foi conquistada por Napoleão e em seguida passou para a Áustria, com o Tratado de Campoformio, até 1866, ano em que Veneza foi anexada ao Reino da Itália.

O Vêneto desempenhou um papel muito importante durante a grande guerra de 1915-18, quando a frente ítalo-austríaca, que inicialmente passava pelo planalto de Asiago e pelas montanhas Dolomitas venezianas até as colinas de Gorizia, recuou após a derrota em Caporetto (24 de outubro de 1917) até o Monte Grappa e o Piave, ou seja, até o limiar da planície: a linha de frente decisiva para o desfecho do conflito (em memória disso, o Memorial Cima Grappa e os numerosos memoriais de guerra presentes em cada município). O armistício foi assinado em 3 de novembro de 1918 em Villa Giusti em Pádua.

A Segunda Guerra Mundial não trouxe tanta devastação, embora Treviso e Verona tenham sofrido pesados ​​bombardeamentos, mas a ocupação nazi-fascista foi terrível, sobretudo a partir de 8 de setembro de 1943: data do anúncio do armistício com os Aliados e do fim do aliança militar com a Alemanha.