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segunda-feira, 7 de março de 2022

O Naufrágio do navio Utopia em 1891

 

Piroscafo Utopia


O navio a vapor Utopia foi um dos navios oceânicos pertencente a companhia de navegação britânica "Anchor Line". Tinha como  gêmeos o "Elysia" e o "Alsatia" ambos construídos em Glasgow, nos estaleiros da empresa "Robert Duncan & Co" no ano de 1874 e lançado ao mar em 14 de fevereiro do mesmo ano. Em condições normais, o Utopia transportava 120 passageiros de primeira classe, 60 passageiros de segunda classe e até 600 na terceira classe, esses todos emigrantes.

Partiu de Trieste com destino à Nova York, com escalas programadas nos portos de Nápoles e Gênova onde embarcavam outros emigrantes italianos e uma outra parada técnica em Gibraltar que servia para embarcar os últimos carregamentos de alimentos e carvão antes das empreender a travessia do oceano.

Nesta ocasião como em inúmeras outras vezes anteriores, o vapor "Utopia" havia saído do cais do porto de Trieste, na região do Friuli Venezia Giulia, em 25 de fevereiro de 1891 com destino aos Estados Unidos, destino muito cobiçado pela maioria dos emigrantes italianos naquele período.

Na tarde de 17 de março o navio avistou a Baía de Gibraltar que seria a última parada antes de enfrentarem a longa travessia do Oceano Atlântico. A navegação estava particularmente  muito difícil devido a uma violenta tempestade, cujos fortes ventos sacudiam o velho navio. Devido as condições de tempo desfavoráveis, o comandante decidiu mesmo assim seguir em direção ao porto para garantir um ancoradouro seguro para o navio.





Ao entrar na Baía de Gibraltar o comandante percebeu que havia vários navios de guerra britânicos ancorados no porto e o local, onde normalmente ele atracava o seu navio, estava ocupado por um desses vasos de guerra. Decidiu atravessar o braço de mar em frente aos dois navios da Marinha Real mas, justamente, naquele momento, segundo informou o comandante para a comissão de inquérito, ele ficou deslumbrado com o farol do encouraçado "Anson" que esquadrinhava o porto de Gibraltar durante a tempestade.

Este contratempo não lhe permitiu calcular a distância exata entre a "Utopia" e o navio de guerra. Acreditando que era maior que o real, continuou com a manobra mas, devido ao vendaval e à força da correnteza, o vapor desviou em direção à proa do navio de guerra terminando em se chocar contra uma estrutura submersa  do mesmo. 

De acordo com declarações de outros oficiais do Utopia o abalroamento ocorreu às 18h36. Imediatamente um grande vazamento ocorreu e a água começou a entrar nos porões. O comandante pensou em fazer o navio encalhar, mas, enquanto isso os foguistas desligaram as caldeiras para evitar que explodissem assim que fossem atingidos pela água do mar. 

Incapaz de manobrar deu a ordem de baixar os botes salva-vidas, mas, a inclinação do casco, para estibordo de cerca de 70 graus, nem sequer permitiu esta manobra e os passageiros tinham apenas que confiar no destino e nos seus próprios meios para escaparem. O Utopia afundou rapidamente, em menos de vinte minutos, atingindo o fundo arenoso da Baía de Gibraltar e levando com ele centenas de passageiros.

No naufrágio, 562 emigrantes e tripulantes perderam a vida. Os poucos que foram salvos tiveram sucesso porque se agarraram aos mastros do vapor, ficando assim fora da água, ou. então, porque foram resgatados pelos marinheiros dos navios de guerra ancorados no porto que rapidamente colocaram seus botes salva-vidas no mar.

A contabilidade da tragédia relata que 318 pessoas se salvaram do naufrágio. Entre eles estavam 290 emigrantes de terceira classe, dois passageiros de primeira classe e vinte e seis tripulantes. Todos os outros seguiram o destino do navio. Centenas de passageiros morreram presos no porão do Utopia.

O comandante foi preso pelas autoridades portuárias de Gibraltar, mas, imediatamente libertado após o pagamento de uma fiança de 480 libras. Em 23 de março, o Tribunal Marítimo reuniu-se pela primeira vez para ouvir as testemunhas e avaliar o grau de  culpabilidade da tripulação. Em 24 de março, o tribunal emitiu o veredicto: o comandante McKeague foi considerado "responsável por um grave erro de julgamento no qual seu navio veio a afundar com a perda de vidas humanas". Segundo o tribunal, o comandante do "Utopia" não avaliou adequadamente a presença de outros navios no porto e ordenou uma manobra incorreta.

A questão da indenização se arrastou por meses, inclusive com confrontos judiciais muito violentos. As dificuldades também repercutiram na esfera política, levando os dois países, o Reino da Itália e o Império Britânico, a um passo da ruptura diplomática.

Poucos meses após o naufrágio, o casco do navio afundado foi recuperado pela empresa "Anchor Line" e rebocado para a Escócia, sendo definitivamente desativado.