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quinta-feira, 11 de julho de 2024

O Trágico Naufrágio do Utopia

 



No final do século XIX, mais precisamente no ano de 1891, o pequeno comune de Santa Severina, na Calábria, era um lugar de sonhos desfeitos e esperanças renovadas. Foi daqui que naquele ano Natale Di Salvo, de 24 anos, sua esposa Marietta e a mãe dela, Costanza, partiram para os Estados Unidos em busca de uma vida melhor. A pobreza e as dificuldades na Itália haviam se tornado insuportáveis, e a América representava a promessa de um novo começo. Com corações cheios de esperança e um misto de ansiedade, embarcaram no navio a vapor "Utopia", um dos muitos que levavam emigrantes italianos para a América.
A jornada começou em Trieste, e logo o Utopia navegava rumo a Nápoles, onde mais passageiros se juntariam à viagem. O navio estava abarrotado de homens, mulheres e crianças, cada um com suas próprias histórias e sonhos de um futuro próspero no Novo Mundo. Em Nápoles embarcaram centenas de passageiros napolitanos e calabreses e a família Di Salvo conheceu assim diversas outras famílias que juntos compartilhavam suas esperanças e medos sobre a travessia.
A parada em Gênova trouxe ainda mais emigrantes a bordo, e o Utopia continuava seu trajeto pelo Mediterrâneo, agora repleto de pessoas de diversas partes da Itália. A bordo estavam 821 passageiros e 59 tripulantes. A travessia até Gibraltar foi marcada pela ansiedade e excitação de todos a bordo, que aguardavam ansiosos pela última parada antes de enfrentar o vasto Atlântico. 
Porém, ao chegarem a Gibraltar no dia 17 de março de 1891, as condições climáticas se deterioraram rapidamente. Uma tempestade feroz assolava a região, e o capitão John McKeague enfrentava grandes desafios para manter o navio seguro. A família Di Salvo, assim como os outros passageiros, rezava pela segurança enquanto o Utopia balançava violentamente nas ondas.
Naquela fatídica noite, a visibilidade era quase nula. Ao tentar navegar até um porto seguro em Gibraltar, o capitão McKeague não viu os navios de guerra britânicos ancorados na baía. A forte correnteza e os ventos implacáveis empurraram o Utopia contra o couraçado HMS "Anson", resultando em uma colisão devastadora. Uma brecha enorme foi aberta no casco do Utopia, e o navio começou a afundar rapidamente.
O caos se instalou a bordo. Natale segurava Marietta e Costanza com todas as suas forças, tentando encontrar uma saída. A tripulação lutava desesperadamente para lançar os botes salva-vidas, mas a inclinação severa do navio tornava a tarefa quase impossível. Em meio a gritos e choros, o Utopia afundou em menos de vinte minutos.
A sorte, porém, estava ao lado da família Di Salvo. Agarrando-se aos destroços e ajudados por marinheiros dos navios de guerra britânicos, Natale, Marietta e Costanza conseguiram sobreviver à tragédia. Exaustos e em choque, foram resgatados e levados para terra firme.
Nos dias seguintes, a magnitude da tragédia se tornou evidente. Mergulhadores da Marinha Real Britânica encontraram cenas aterradoras no fundo da baía de Gibraltar. Corpos entrelaçados formavam um amontoado impossível de separar, testemunhas silenciosas de uma viagem que terminou em desastre.
Entre os 318 sobreviventes, a família Di Salvo foi contada como um milagre. Apesar da perda de muitos companheiros de viagem, Natale, Marietta e Costanza mantiveram viva a esperança de um novo começo. A América ainda os aguardava, e com coragem renovada, eles continuaram sua jornada em outro navio, levando consigo as memórias daqueles que não conseguiram completar a travessia. A história do Utopia se tornaria um lembrete eterno dos perigos enfrentados por aqueles que buscavam uma vida melhor, e da resiliência humana diante da adversidade.


segunda-feira, 7 de março de 2022

O Naufrágio do navio Utopia em 1891

 

Piroscafo Utopia


O navio a vapor Utopia foi um dos navios oceânicos pertencente a companhia de navegação britânica "Anchor Line". Tinha como  gêmeos o "Elysia" e o "Alsatia" ambos construídos em Glasgow, nos estaleiros da empresa "Robert Duncan & Co" no ano de 1874 e lançado ao mar em 14 de fevereiro do mesmo ano. Em condições normais, o Utopia transportava 120 passageiros de primeira classe, 60 passageiros de segunda classe e até 600 na terceira classe, esses todos emigrantes.

Partiu de Trieste com destino à Nova York, com escalas programadas nos portos de Nápoles e Gênova onde embarcavam outros emigrantes italianos e uma outra parada técnica em Gibraltar que servia para embarcar os últimos carregamentos de alimentos e carvão antes das empreender a travessia do oceano.

Nesta ocasião como em inúmeras outras vezes anteriores, o vapor "Utopia" havia saído do cais do porto de Trieste, na região do Friuli Venezia Giulia, em 25 de fevereiro de 1891 com destino aos Estados Unidos, destino muito cobiçado pela maioria dos emigrantes italianos naquele período.

Na tarde de 17 de março o navio avistou a Baía de Gibraltar que seria a última parada antes de enfrentarem a longa travessia do Oceano Atlântico. A navegação estava particularmente  muito difícil devido a uma violenta tempestade, cujos fortes ventos sacudiam o velho navio. Devido as condições de tempo desfavoráveis, o comandante decidiu mesmo assim seguir em direção ao porto para garantir um ancoradouro seguro para o navio.





Ao entrar na Baía de Gibraltar o comandante percebeu que havia vários navios de guerra britânicos ancorados no porto e o local, onde normalmente ele atracava o seu navio, estava ocupado por um desses vasos de guerra. Decidiu atravessar o braço de mar em frente aos dois navios da Marinha Real mas, justamente, naquele momento, segundo informou o comandante para a comissão de inquérito, ele ficou deslumbrado com o farol do encouraçado "Anson" que esquadrinhava o porto de Gibraltar durante a tempestade.

Este contratempo não lhe permitiu calcular a distância exata entre a "Utopia" e o navio de guerra. Acreditando que era maior que o real, continuou com a manobra mas, devido ao vendaval e à força da correnteza, o vapor desviou em direção à proa do navio de guerra terminando em se chocar contra uma estrutura submersa  do mesmo. 

De acordo com declarações de outros oficiais do Utopia o abalroamento ocorreu às 18h36. Imediatamente um grande vazamento ocorreu e a água começou a entrar nos porões. O comandante pensou em fazer o navio encalhar, mas, enquanto isso os foguistas desligaram as caldeiras para evitar que explodissem assim que fossem atingidos pela água do mar. 

Incapaz de manobrar deu a ordem de baixar os botes salva-vidas, mas, a inclinação do casco, para estibordo de cerca de 70 graus, nem sequer permitiu esta manobra e os passageiros tinham apenas que confiar no destino e nos seus próprios meios para escaparem. O Utopia afundou rapidamente, em menos de vinte minutos, atingindo o fundo arenoso da Baía de Gibraltar e levando com ele centenas de passageiros.

No naufrágio, 562 emigrantes e tripulantes perderam a vida. Os poucos que foram salvos tiveram sucesso porque se agarraram aos mastros do vapor, ficando assim fora da água, ou. então, porque foram resgatados pelos marinheiros dos navios de guerra ancorados no porto que rapidamente colocaram seus botes salva-vidas no mar.

A contabilidade da tragédia relata que 318 pessoas se salvaram do naufrágio. Entre eles estavam 290 emigrantes de terceira classe, dois passageiros de primeira classe e vinte e seis tripulantes. Todos os outros seguiram o destino do navio. Centenas de passageiros morreram presos no porão do Utopia.

O comandante foi preso pelas autoridades portuárias de Gibraltar, mas, imediatamente libertado após o pagamento de uma fiança de 480 libras. Em 23 de março, o Tribunal Marítimo reuniu-se pela primeira vez para ouvir as testemunhas e avaliar o grau de  culpabilidade da tripulação. Em 24 de março, o tribunal emitiu o veredicto: o comandante McKeague foi considerado "responsável por um grave erro de julgamento no qual seu navio veio a afundar com a perda de vidas humanas". Segundo o tribunal, o comandante do "Utopia" não avaliou adequadamente a presença de outros navios no porto e ordenou uma manobra incorreta.

A questão da indenização se arrastou por meses, inclusive com confrontos judiciais muito violentos. As dificuldades também repercutiram na esfera política, levando os dois países, o Reino da Itália e o Império Britânico, a um passo da ruptura diplomática.

Poucos meses após o naufrágio, o casco do navio afundado foi recuperado pela empresa "Anchor Line" e rebocado para a Escócia, sendo definitivamente desativado.