sexta-feira, 31 de março de 2023

O Barroco na Veneza do Século XVIII: O legado de Piazzetta na história da arte italiana

Giovanni Battista Piazzetta


Giovanni Battista Piazzetta (1682-1754) foi um dos mais importantes artistas italianos do século XVIII. Ele nasceu em Veneza, onde passou a maior parte de sua vida e desenvolveu sua carreira artística.

Piazzetta estudou com grandes artistas como Gregorio Lazzarini e Sebastiano Ricci, que eram famosos pela elaboração de cenas mitológicas e alegóricas, e com quem aprendeu a utilizar cores vivas e dramáticas em suas obras.

Piazzetta é conhecido por seu estilo dramático e expressivo, que frequentemente apresentava figuras humanas com grande emoção e movimento. Ele também era um mestre na representação da luz e sombra em suas obras, criando efeitos impressionantes de profundidade e contraste.

Na arte, Piazzetta foi considerado um dos principais representantes do rococó veneziano, um estilo artístico caracterizado por ornamentos elegantes, cores vibrantes e uma atmosfera teatral. Ele foi responsável por influenciar muitos outros artistas em Veneza e além, incluindo Giambattista Tiepolo e Canaletto.

Em 1750 Piazzetta tornou-se no primeiro diretor da recentemente fundada Scuola di Nudo, e dedicou-se nos últimos anos da sua vida ao ensino. Foi eleito membro da Academia Clementina de Bolonha em 1727. Entre os pintores da sua oficina contaram-se Domenico Maggiotto, Francesco Dagiu (il Capella), Francis Krause, John Henry Tischbien o Velho, Egidio Dall'Oglio, e Antonio Marinetti. Entre os jovens pintores que imitaram o seu estilo estão Giulia Lama, Federico Bencovich, e Francesco Polazzo (1683-1753).

Algumas de suas obras mais famosas incluem: 

"O Milagre de Santa Isabel de Portugal" (c. 1730-35) - localização atual desconhecida
"São Francisco de Paula curando os doentes" (c. 1720-25) - localização atual desconhecida
"Cena de circo com cavalo" (c. 1725-30) - localização atual desconhecida
"São Tiago Maior e São Filipe Néri" (c. 1740-45) - na Igreja de San Stae em Veneza, Itália
"A Assunção da Virgem" (c. 1725-30) - na Igreja de San Stae em Veneza, Itália
"O Banquete de Cleópatra" (c. 1740-45) - na Ca' Rezzonico em Veneza, Itália
"Moisés Salvo das Águas" (c. 1730-35) - localização atual desconhecida
"Retrato de uma jovem" (c. 1740-45) - no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, Portugal
"Retrato de um homem idoso" (c. 1740-45) - no Museu Thyssen-Bornemisza em Madrid, Espanha
"A Adoração dos Reis Magos" (c. 1730-35) - na Igreja de San Pantalon em Veneza, Itália
"A Flagelação de Cristo" (c. 1735-40) - na Igreja de San Zaccaria em Veneza, Itália
"Retrato de Antonio Riccobono" (c. 1735-40) - localização atual desconhecida
"São João Batista" (c. 1740-45) - na Igreja de San Giorgio Maggiore em Veneza, Itália
"A Sagrada Família com Santa Isabel e São João Batista" (c. 1725-30) - na Igreja de San Stae em Veneza, Itália
"O Sonho de Jacó" (c. 1730-35) - na Igreja de San Giorgio Maggiore em Veneza, Itália
"Retrato de um homem com turbante" (c. 1740-45) - no Museu de Belas Artes de Boston, EUA
"Retrato de uma dama" (c. 1735-40) - no Museu de Arte de Toledo, EUA
"Cristo na Cruz" (c. 1735-40) - na Igreja de Santa Maria degli Angeli em Murano, Itália
"São Pedro curando o paralítico" (c. 1730-35) - na Igreja de San Stae em Veneza, Itália
"Retrato de um jovem nobre" (c. 1740-45) - na Galeria Nacional de Arte em Washington, EUA
"A Sagrada Família" (c. 1735-40) - na Igreja de San Zaccaria em Veneza, Itália
"Retrato de uma dama com leque" (c. 1740-45) - na Pinacoteca di Brera em Milão, Itália
"O Batismo de Cristo" (c. 1730-35) - na Igreja de San Stae em Veneza, Itália
"Retrato de um jovem com um cão" (c. 1740-45) - no Museu Nacional de Arte Antiga em Lisboa, Portugal
"A Pregação de São João Batista" (c. 1730-35) - na Igreja de San Giorgio Maggiore em Veneza, Itália
"Retrato de uma dama com um violoncelo" (c. 1740-45) - na Galeria Nacional de Arte em Washington, EUA
"A Última Ceia" (c. 1725-30) - na Igreja de San Stae em Veneza, Itália
"Retrato de um homem com um livro" (c. 1740-45) - na Galeria Nacional de Arte em Washington, EUA
"A Ressurreição de Cristo" (c. 1735-40) - na Igreja de San Stae em Veneza, Itália
"Retrato de uma jovem nobre" (c. 1740-45) - no Museu de Arte de São Paulo em São Paulo, Brasil.

Além de suas obras de arte, Piazzetta também foi um importante professor de arte, tendo influenciado muitos jovens artistas que se tornaram importantes membros da comunidade artística veneziana. Sua obra e ensinamentos tiveram um papel fundamental na formação do estilo veneziano de arte rococó e ajudaram a estabelecer Veneza como um importante centro de arte na Europa do século XVIII.

Giovanni Battista Piazzetta se casou em 1720 com uma mulher chamada Rosa Elena, com quem teve quatro filhos: Giuseppe, Francesco, Maria e Caterina. 

Giuseppe Piazzetta seguiu os passos do pai e se tornou um pintor e gravador de sucesso, trabalhando principalmente em Gênova e Nápoles. Francesco, por sua vez, se tornou um pintor de teatro e trabalhou em várias produções de ópera em Veneza.

Maria e Caterina, por outro lado, se casaram com artistas. Maria se casou com o pintor Francesco Simonini, e Caterina se casou com o pintor Francesco Zugno. Embora nenhum dos filhos de Piazzetta tenha atingido a mesma fama e prestígio que o pai, eles foram influentes em suas próprias carreiras e contribuíram para a continuação da tradição artística da família Piazzetta.

O pai de Giovanni Battista Piazzetta chamava-se Giacomo Piazzetta e nasceu em Pederobba, província de Treviso, na região de Veneto, Itália. Giacomo Piazzetta era um escultor de prestígio, com muitas dezenas de obras famosas nos museus e coleções particulares em todo o mundo. Ele se transferiu para a cidade de Veneza, onde Giovanni Battista nasceu e passou a maior parte de sua vida. Acredita-se que a formação artística de Giovanni Battista tenha sido influenciada pelo trabalho de seu pai, que o incentivou a seguir uma carreira nas artes visuais.

Giovanni Battista Piazzetta viveu a maior parte de sua vida adulta em Veneza, na região de Cannaregio, no sestiere de mesmo nome. Cannaregio é um dos seis sestieri (distritos) históricos de Veneza, localizado no norte da cidade.


Chiesa di Santa Maria degli Scalzi



A paróquia de Giovanni Battista Piazzetta era a Igreja de Santa Maria degli Scalzi, também localizada em Cannaregio. Essa igreja é conhecida por sua bela fachada barroca e por suas decorações internas elaboradas. Além disso, Santa Maria degli Scalzi é uma das igrejas mais importantes de Veneza em termos de arte, pois contém obras de artistas como Tiepolo, Tintoretto e, é claro, Piazzetta.

Chiesa di San Stae


Giovanni Battista Piazzetta está enterrado na Igreja de San Stae, em Veneza. Essa igreja é conhecida por sua fachada barroca e por suas decorações internas elaboradas, que incluem várias obras de arte importantes. Piazzetta foi sepultado na igreja após sua morte, em 1754, e seu túmulo pode ser encontrado no transepto esquerdo da igreja.

Giovanni Battista Piazzetta morreu em 28 de abril de 1754, aos 71 anos de idade. Piazzetta foi um dos artistas mais importantes da cena artística veneziana do século XVIII e deixou um legado significativo na história da arte italiana.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS





quinta-feira, 30 de março de 2023

Curiosidades Sobre a Origem de Alguns Sobrenomes Italianos




Com o crescimento acelerado da população, com as cidades ficando cada vez maiores, já no período romano sentiu-se a necessidade de identificar melhor um individuo para evitar confusões que o mesmo nome causava. Assim foram criados três nomes para identificar as pessoas.
O primeiro nome "praenomen", era o nome próprio da pessoa e era imposto no nono dia de nascimento, denominado "dies nominalis". Somente os membros mais chegados da família chamavam uma pessoa pelo seu prenome. 
O segundo, o "nomen", indicava a "gens" e era o mesmo para todos os seus membros. 
O terceiro, o "cognomen", cuja origem etimológica da palavra "sobrenome" do latim "cognomen", composto por "cum" e "nomen", enfatizava uma característica física ou moral ou o local de origem e, tendo se tornado hereditário, passou a designar a "família" a que pertencia, ou seja, um dos ramos, patrícios ou plebeus, em qual era subdividida a "gens" original. Além disso, alguns nobres adicionavam outros nomes e sobrenomes a seu gosto, às vezes criando longas listas.
O uso sistemático do sobrenome latino cessou no fim do império romano do ocidente em 476 d.C. com o período de decadência política, cultural e social que se seguiu passando o seu uso ao esquecimento. 
Nessa época da Alta Idade Média prevaleceu o uso do primeiro nome, aquele recebido por ocasião do batismo. Assim, cada pessoa voltou a ser identificada apenas pelo nome de batismo pessoal, às vezes também referindo-se às características da pessoa ou ao lugar de origem ou paternidade.
A confusão progressivamente foi aumentando e os casos de inúmeras pessoas tendo o mesmo nome criava enorme confusão nas cidades que estavam novamente em expansão.
Foi por volta dos séculos IX e X que novamente a sociedade da época sentiu a necessidade de distinguir melhor os diversos indivíduos com o mesmo nome, de os identificar claramente para os devidos atos legais. Usava-se a expressão "filho de fulano" ou quando o genitor já era morto de "filho do falecido fulano".
Essa medida não durou por muito tempo, pois a formação de combinações possíveis começou a escassear e a confusão novamente se instalou tornando-se necessário diferenciar os indivíduos. Assim surgiu o sobrenome moderno o qual poderia ser originado do nome paterno ou materno, de um apelido, de um local de origem, de um ofício ou de uma profissão. 
Com o passar dos anos o sobrenome tornou-se hereditário e passou a ser obrigatório por lei. Ao longo dos séculos, o sobrenome sofreu transformações sucessivas e a forma usada atualmente pode ser muito diferente da que se usava no começo.
Na Itália, o uso de sobrenomes no início foi exclusividade de famílias ricas, mas em 1200 em Veneza e no século seguinte em outras áreas, ainda que com alguma resistência e demora, o uso se estendeu às camadas menos abastadas da população. Com o Concílio de Trento de 1564, foi sancionada a obrigação dos párocos de manterem um registro ordenado dos batismos com nome e sobrenome, para evitar casamentos entre parentes. O sobrenome tornou-se finalmente hereditário.


Alguns sobrenomes e suas prováveis origens:

Astuti - com a variante Astuto surgiram de um apelido que indicava uma característica intelectual de um indivíduo, sendo com o tempo incorporado como seu sobrenome.

Barbieri - e variantes Barbiera, Barbere, Barberio, Barbero, Barbera, Barbè, Barberaz, De Barbieri, Debarbieri, De Barberis; La Barbera, Barberini, Barbierato é um sobrenome originário do apelido dado à quem exercia a profissão de cortar a barba, cabelos e bigode. Em tempos mais antigos se usava para denominar aquele que fazia as sangrias, extrações ou pequenas cirurgias. 

Basso - com as variantes Bassi, Bassa, Bassis, Bascio, Basciu, De Bassis, Bassich, Lo Basso, Lobasso, Li Bassi, Lobascio, Lovascio, Bassetti, Bassetto, Bassini, Bassin, Bassoli, Bassolino é um sobrenome que indicava pessoa de estatura baixa, no início apenas um apelido e depois passou a ser incorporado como sobrenome.

Bellagamba - com a variante Bellegambe, é um sobrenome derivado de um apelido de constatação que com o passar do  tempo foi incorporado como um sobrenome.

Bellaver -  e as variantes Bellavere, Bonavera significa a “bonita conquista”, tem caráter gratulatório. 

Belli - com as numerosas variantes Bello, Bella, De Bello, De Bella, De Belli, Debelli, De Bei, De Bellis, Di Bello, Di Bella, Del Bello, Debello, Della Bella, Bellich, Lo Bello, Lobello, Lubello, Lubelli, La Bella, Labella, Bellelli, Belleli, Belletti, Bellettini, Bellini, Bellino, Bellin, Belloli, Belloi, Bellucci, Belluzzi, Bellotti,Bellocci, Bellozzi, Bellotti, Belotti, Bellotto, Bellotta, Belloni, Bellacci, Bellaccini, Bellacchini, Bellazzi, Bellami, Bellemo, Bellen, Bellandi, Bellando, Bellendi, Bellanti, Bellante, Bellentani, Bellani, Bellano, Bellan, Bellardo, Bellasi e Bellocchi sobrenome originado pela constatação de beleza de uma pessoas ou mesmo de augúrio dirigido à um filho para que crescesse bonito.

Benedetti - e as variantes Benedetto, Benedet, De Benedetti, De Benedetto, De Benedettis, De Benedictis, De Beneditti, De Benedittis, Di Benedetto, Benedettini, Benditti, Benetti, Benetto, Benet, Benetelli era um sobrenome muito usado para dar uma origem familiar para as crianças enjeitadas, abandonadas pelos pais nas "Ruota degli esposti", acolhidas e adotadas por instituições religiosas e tinha relação com o culto de São Benedito.

Benigni - com as suas variantes Benigno, Benigna, Benignetti era também um sobrenome muito usado como sobrenome pelos gestores dos orfanatos para as crianças enjeitadas, abandonadas pelos pais e adotadas pelas instituições e tem o significado de benévolo.

Benvenuto - e as variantes Benvenuti, Benvegnù, Venuti, Venutti, Venuto, Venutelli, Begnudelli, Vignudelli, Vignodelli, Vignudini, Nuti, Nutini, Gnuti, Gnudi. Esse sobrenome tem caráter congratulatório, referido a um filho muito desejado. O sentido que o sobrenome encerrava era o de que “a criança era bem-vinda”. 

Bergamo - com as variantes Bergami, Bergomi, Bergamelli, Bergamini, Bergamino e Bergamin, Bergamaschi, Bergamasco, Bergamas, Bergamasi sobrenome toponímico que surgia do apelido que exprime que o indivíduo é proveniente de um determinado lugar, no caso de Bergamo

Bevilacqua - com as variantes Beviacqua, Bevacqua, Bevelacqua, Bevillaqua é um sobrenome jocoso e irônico de ordem comportamental, originado de um apelido, dado para quem era um conhecido bebedor de vinho ou "grappa". Por outro lado também poderia ser o contrário, um apelido dado à alguém que fosse abstêmio. 

Bianchi - e suas variantes Bianco, Bianca, Blanco, Blanca, Blanc, De Bianchi, Del Bianco, Della Bianca, Lo Bianco, Lobianco, La Bianca, Labianca, Bianchetti, Bianchetto, Bianchet, Bianchini, Bianchinotti, Biancucci, Biancoli, Biancolini, Biancotti, Biancotto, Bianciotti, Bianconi, Biancone, Bianconcini; Biancani, Biancato, Biancat, Bianchedi, Biancheda, Biancheri, Bianchera, Bianchessi e Bianchessi sobrenome que deriva de apelidos relativos de característica física, da constatação da cor da pele, dos cabelos, da barba, etc.   

Biondo - e as suas variantes Bionda, Biondi, Biundo, Biunno, Biunni, Blondi, Blundo, Blunno, Brundu, Biondelli, Biondellini, Biondetti, Bionducci, Biondelli, Biondetti, Blondetti, Blondet, Blundetto originam-se de um apelido de constatação física, como a cor dos cabelos loiros, pele clara, barba loira e que posteriormente passaram a ser sobrenomes.

Bonafortuna - e a variante Buonafortuna. É sobrenome derivado de um nome pessoal de caráter gratulatório, de significado transparente, augurio de boa sorte. 

Bonaventura - e a variante Buonaventura. É um sobrenome de caráter augurante e gratulatório. Era usado como augúrio no sentido de que a criança recém-nascida se constituísse “para a família boa ventura, sorte”. 

Boschetti - e suas variantes Boschetto, Boschet, Boschi, Boschis, Bosco, Boschi, Bosche, Busco; Busca, Boschian, Boscato, Boscati, Boscaro, Boscari, Boscarini, Boscarin, Boscardin, Boscain, Boscarello, Boscolo é um sobrenome toponímico derivado de Boschetto ou derivado de profissão de quem trabalhava num bosque ou que nele vivia.

Brescia - e suas variantes Bresci, Bressa e Bressi; Bressani, Bressano, Bressan, Bressanelli, Bressanini, Bressanin Bressanutti sobrenome de origem toponímica de um indivíduo ou família cuja origem estava em Brescia ou era proveniente dela.

Caccialupi - como também Fumagalli, Pappalardoapelidos que se tornaram sobrenomes e aludem a ações ou fatos ocasionais.

Capitani - com as variantes Capitanio, Capitano indica posto militar de um indivíduo e que passou a ser usado como sobrenome. 

Cardinali - com as variantes Cardinal, Cardinale é um sobrenome indicativo de cargo religioso que passou a ser sobrenome.

Casagrande - e suas variantes Casagranda, Casagrandi, Case, Dalla Casa, Dallacasa, Della Casa, Da Ca, Duccà, Da Cha, Dachà, Dalla Ca, Dallacà, Dalla Cha, Dallachà, Casella, Casello, Caselli, Casel, Casiello Casetta, Casetti, Caset Casina, Casine, Casabianca, Casabassa, Casabella, Casagrande sobrenome composto muito usado para as crianças enjeitadas que significava casa grande, orfanato. Casadei, Casadio, Cadei, Casadidio também usados para dar sobrenomes aos órfãos enjeitados, adotadas e criadas por um orfanato, instituto religioso ou hospital de caridade.

Colombo - e suas variantes Colombi, Colomba, Columbo, Colombro, Columbro, Colombani, Colomban, Colombetti, Colombetta, Colombini, Colombin, Colombrino, Colombazzi, Colombari, Colombara, Colombarini, Colombera, Colomberini, Colomberotto significam inocência, pureza e mansidão até mesmo de escuro. Muito usado para sobrenome das crianças enjeitadas.

De Martino - e outros como Di Giulio, Di Maria, Lo Monaco, La Franca, Della Marta, são sobrenomes patronímicos e matronímicos que indicam o nome pessoal do pai ou da mãe.

Diotaiuti  - usado para dar um sobrenome para as crianças abandonadas pelos pais na "ruota" dos orfanatos e acolhidas e adotadas pelas instituição religiosas.

Diotallevi - o mesmo que o sobrenome anterior.

Fabris -  com as variantes Fabbro, Fabbri, Fabbris Fabro, Fabri, Faber, Favro, Fàveri, Fàvero, Fàvaro, Fabrini, aquele que trabalhava com ferro, isto é, ferreiro; era usado também em sentido mais amplo para designar o artesão. 

Fattori - com as variantes Fattor, Fattore, Fattor, Fattur, Fator, Fattorelli, Fattorello, Fattoretto, Fattoretti, Fattorini, Fattorino denominava o caseiro, administrador e feitor de propriedade ou empresa agrícola 

Ferrara - e as variantes Ferrarese, Ferraresi sobrenome que deriva de ferraria ou também um sobrenome toponímico como pessoa ou família proveniente de Ferrara.

Ferro - variantes Ferri, Fierro, Ferretti, Ferretto, Ferin, Ferrini, Ferrucci, Ferruzzi Ferraro, Ferrario, Ferraris, Ferrai, Ferrero, Ferreri, Ferreli, Ferèr nome dado a alguém que exercia a profissão de ferreiro, ou o caráter da pessoa ou ainda a cor do ferro.

Fontana - com as variantes Fontani, Fontanella, Fontinelli, Fontanelle, Fontanino, Fontanini, Fontanin, Fontanotti, Fontanot, Fontanazzi, Fontanari, Fontanesi é um sobrenome toponímico proveniente de uma localidade onde surgia uma fonte, tanto na zona urbana como rural.

Genovese - com as variantes Genovesi, Genoves sobrenome que indica lugar de origem, ou procedência de uma família ou de uma única pessoa, no caso de Gênova.  

Gobbo - e as variantes Gobbe, Gobbi, Gobbino partiu de um apelido irônico por constatação de um defeito físico o qual  passou com o tempo se incorporando ao nome de uma pessoa como o seu sobrenome.

Innocenti - e as variantes Innocente, Degli Innocenti, Nocenti, Nocentini e Nocentino, Innocentin, Innocentini com o significado de não faz o mal, era também um dos sobrenomes dados no passado para as crianças abandonadas pelos pais e confiadas e adotadas por um orfanato.  

Longhi - e suas variantes Longo, Longa, Luongo, Lunga, Del Lungo, Lunghi, Del Lungo, Della Lunga, Del Luongo, Slongo, Longhini, Longhin, Lunghini, Lungherini, Longhetti, Lunghetti, Longato, Longoni, Longon de apelido para pessoas altas e magras passou a ser sobrenome.

Magnani - variantes Magnano, Magnan, Magnino, Magnini, Magnanelli, Magnanini, Maagno, Magni nome de profissão para o fabricante de chaves, de buracos de fechaduras, de corrimões e dobradiças; funileiro, estanhador ambulante que com o tempo foi incorporado como sobrenome. 

Magro - com suas variantes Magri, Magris, Magheri, Magretti, Magrini, Magrino, Magrin, Magrello, Magherini, Magrotti, Magroni e Magrone é um sobrenome que indica uma característica corporal contrária a gordo.

Mancini - com as variantes Mancino, Mancin, Manciana, Mancinelli, Mancinetti derivado do apelido dado à pessoas que usam mais a mão esquerda ou que nela tem mais força. É o chamado canhoto.

Mantovani - com as variantes Mantova, Mantovi, Mantovano, Mantovan, Mantovano, Mantovanelli, Mantoani, Mantoan, Mantuano, Mantuan é um sobrenome toponímico que indica ser proveniente da cidade de Mantova. Geralmente era um apelido que depois passou a ser usado como sobrenome. 

Marangon - e as variantes Marangone, Marangoni dizia da profissão de quem trabalhava a madeira que em vêneto podia também ser carpentiere, de carpinteiro. 

Milani - com as variantes Milano, Milan, Milana, Milanese, Milanesi, Milanesio, Milanello, Milaneschi, Milanetti, Milanetto é um sobrenome toponímico indicando proveniência  de Milano 

Muratori - com as suas variantes Muratore, Murador, Muratorio derivado da profissão de pedreiro 

Omoboni - e a variante Omobono no significado de homem bom, ou um augúrio para o bebe para que seja um homem ou mulher para o bem.

Pellizzer - e suas variantes Pelliccia, Pelliccio, Pellizzaro, Pellizzari, Pellizzieri, Pellizzeri, Pellizza, Pellizzi, Pelliccioni, Pellicciari, Pellicciaro, Pellissero, Pelissero, Pelisèr, Pelisseri, Pelison sobrenome derivado de que trabalhava ou vendia peles.

Piazza - com as variantes Piazzi, Piazzetta, Piassetta,  Del Piazzo, Del Piaz, Del Piaz, Piazzini, Piazzola, Piazzolla, Piazzoli, Piazzese, Piazzera e Piazzesi é um sobrenome toponímico de piazza como lugar aberto, mercado, pátio ou mesmo estrada larga. De um apelido com tempo passou a ser usado como sobrenome.

Preti - com a variante Dal Prete, Dal Prette sobrenome que indica cargo religioso.

Proietti - e as suas variantes Proietto, Proietta, Projetto, derivado de "jogado fora", abandonado, usado para as crianças rejeitadas pelos pais e era o sobrenome dado nos orfanatos que os abrigou e adotou.

Rossi - com as variantes Rosso, Rossa, Russi, Russo, Russa, Ruggiu, Ruiu, Ruju, Rubiu, Del Rosso, De’ Rossi, De Rossi, De Russi, De Rubeis, Della Rossa, Lo Russo, Lorusso, La Russa, Larussa, Rosselli, Rossello, Rossellini, Rossellino, Rosselo, Rossillo, Rossetti, Rossetto, Rosset, Rossettini derivado provavelmente da cor rosada da pele, dos cabelos e barba de um indivíduo. Primeiramente podia ser um apelido, posteriormente foi usado como sobrenome.

Spagnolo - e as variantes Spagnoli, Spagnol é um outro sobrenome que indica lugar de origem, ou prodecedência de uma família ou de apenas uma única pessoa. 

Sartori - e suas variantes Sarti, Sarto, Sarta, Sartin, Sartini, Sartori, Sartor, Sartore, Sartorio, Sartoris, Sartorel, Sartorelli, Sartorello sobrenome derivado da profissão de quem fazia corte e costura de tecidos para a confecção de roupas como o alfaiate e a costureira.

Sperindio - e a variante Sperandio sobrenomes muito usados pelos orfanatos para vários enjeitados abandonados na "ruota" acolhidos e adotados pela instituição.  

Trovato - e as variantes Trovati, Trovatello, Trovatelli, Trovarelli, Trovarello, Trovarella, Trovè, Trovò era dado pelas instituições ou ordens religiosas que acolhiam as crianças abandonadas pelos pais, encontrados pelas estradas, ruas ou mesmo deixadas na roda dos orfanatos.

Vassallo - com a variante Vassali é um sobrenome que indica um cargo, título ou posto social.


Observação: 

Na Itália do século XVIII, era comum que os sobrenomes dados às crianças encontradas fossem genéricos e compartilhados com outras crianças na mesma situação. No entanto, em algumas regiões da Itália, havia sobrenomes que eram exclusivos para crianças encontradas ou abandonadas. Aqui estão alguns exemplos: 

Trovato - "encontrado" 
Esposito - "exposto" 
Proietti - "lançado" 
Sgariglia - "andarilho" 
Troiano - "troiano" (referência a Troia) 
Egidi - "filho de Giles" 
Voltaggio - "volta à estrada" 
Oliva - "azeitona" 
Pace - "paz" 
De Santis - "do santo" 
Diotallevi - "Deus te ajude" 
Acquaroli - "pequena água" 
Corazza - "armadura" 
De Carolis - "do Carlos" 
Dragoni - "dragões" 
Genovesi - "de Gênova" 
Leone - "leão" 
Marcantoni - "Marcos Antônio" 
Paci - "paciência" 
Pirozzi - "pimenta" 


É importante lembrar que esses sobrenomes exclusivos não eram universais na Itália e podem ter sido limitados a certas regiões ou instituições que cuidavam de crianças encontradas. Além disso, muitas vezes esses sobrenomes eram alterados posteriormente à medida que informações adicionais sobre a origem da criança se tornavam conhecidas.



quarta-feira, 29 de março de 2023

Sobrevivendo à Tempestade: O Relato Emocionante de Imigrantes que Buscavam uma Nova Vida no Brasil




Era o ano de 1886, muitos italianos estavam deixando a sua terra natal em busca de uma vida melhor no Brasil. Entre eles, estavam os seis membros da família Rossi, o casal e quatro filhos menores de idade, que embarcaram no navio Utopia rumo ao novo mundo. A viagem prometia ser longa e desafiadora, mas eles estavam determinados a chegar ao seu destino.

Na pequena vila onde viviam, os Rossi se despediram dos amigos e parentes com lágrimas nos olhos, mas com a esperança de um futuro melhor. O Utopia partiu do porto de Gênova, na Itália, em uma manhã ensolarada, porém com muito frio, característica do começo do inverno. Durante os primeiros dias de viagem, tudo correu bem. O navio fez uma parada programada no porto de Nápoles, onde subiram à bordo mais algumas centenas de imigrantes provenientes do sul da Itália. Os passageiros à bordo eram todos imigrantes italianos, e se acostumaram com a dura rotina do navio. A bordo se ouvia a algazarra provocada pelas dezenas de dialetos dos passageiros, muitos deles incompreensíveis entre si, como se fossem falados por pessoas de um outro país. 

Quando atingiram a linha do Equador, a calmaria da viagem logo seria interrompida por uma tempestade terrível. Os ventos aumentaram e as ondas ficaram mais altas, balançando violentamente o antigo navio. Os Rossi se agarraram aos corrimãos e aos móveis para não cairem no chão. O barulho dos trovões era ensurdecedor e o mar parecia querer engolir o navio com volumosas ondas que despejavam toneladas de água no convés.

A tempestade durou mais do que um dia e os passageiros tiveram que se amarrar uns aos outros para não serem jogados para fora do navio. A comida ficou escassa pela dificuldade de se cozinhar e a água também começou a ser racionada. A esperança de sobreviver a essa tempestade parecia estar cada vez mais distante.

Mas, mesmo diante de todas as dificuldades, os imigrantes italianos mantiveram a esperança de chegar ao Brasil. Eles rezaram para os seus santos de devoção e pediram forças para suportar aquela tempestade. Em meio às orações e às lágrimas, a família Rossi se uniu aos demais passageiros em um coro de esperança e fé.

Finalmente, na parte da tarde do segundo dia a tempestade começou a diminuir e o sol aos poucos voltou a brilhar. Os passageiros puderam sair dos seus pavilhões e sentir o cheiro do mar. O navio Utopia havia sobrevivido à tempestade e a esperança voltou a se renovar nos corações dos imigrantes italianos.

Após alguns dias de calmaria, o navio Utopia finalmente avistou a costa brasileira. A emoção tomou conta de todos os passageiros, que aguardavam ansiosamente para desembarcar. Os Rossi avistaram a cidade do Rio de Janeiro ao longe e não puderam conter as lágrimas de felicidade.

Ao desembarcarem no porto do Rio de Janeiro, a família Rossi e os demais imigrantes italianos foram recebidos com muita alegria. Eles se abraçaram, cantaram e dançaram em agradecimento por terem sobrevivido à tempestade. As autoridades brasileiras os receberam com carinho e os encaminharam para os alojamentos, onde ficariam hospedados  nas instalações da Hospedaria dos Imigrantes até serem encaminhados ao lugar de destino e se instalarem definitivamente no país. Depois de alguns dias continuaram a viagem, agora embarcados em um pequeno vapor costeiro que os levou até o porto de Santos. Desta cidade foram de trem até uma pequena cidade do interior de São Paulo, perto de onde onde uma irmã do Sr. Rossi estava vivendo já há alguns anos.

Os Rossi começaram a vida no Brasil com muita dificuldade, mas com muita determinação. Eles trabalharam duro para conseguir emprego e garantir o sustento da família. Aos poucos aprenderam a língua portuguesa e se adaptaram aos costumes do novo país. Mas a esperança de uma vida melhor sempre esteve presente em seus corações.

Com o tempo, quando também os filhos começaram a trabalhar, a família Rossi conseguiu comprar um pequeno sítio na zona rural e começaram a produzir alimentos para vender nas cidades vizinhas. O trabalho árduo era recompensado com o sorriso dos clientes satisfeitos e com o dinheiro que ajudava a sustentar a família.

Ao longo dos anos, os filhos cresceram e se tornaram brasileiros de coração. Eles aprenderam a valorizar a cultura e as tradições do Brasil, sem esquecerem as suas raízes italianas. Os Rossi nunca esqueceram a tempestade que enfrentaram no navio Utopia, mas também nunca esqueceram a esperança que os guiou até o novo mundo.

A história da família Rossi se tornou uma das muitas histórias de imigrantes que enfrentaram desafios para construir uma nova vida no Brasil. Eles ajudaram a construir o país com o seu trabalho e a sua determinação. Hoje, muitos brasileiros descendem de italianos que enfrentaram a tempestade no navio Utopia e que nunca perderam a esperança de uma vida melhor.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




terça-feira, 28 de março de 2023

A História dos Sobrenomes Dados à Crianças Enjeitadas

“Volta e meia gira a roda junto da porta fechada, muito mal iluminada. E quando gira introduz dentro da sala de entrada uma criança, um embrulho de cobertores, numa alcofa, muito bem agasalhada, ou então assim assim, ou então mesmo sem nada.”

Vasco Graça Moura “Ronda dos Meninos Expostos”. 1987

Obs - Alcofa é uma cesta acolchoada ou berço portátil para transportar uma criança recém-nascida.

As crianças enjeitadas eram conhecidas na França pela expressão "l’enfant trouvé", literalmente, a criança encontrada, que designava um recém nascido de filiação desconhecida. Na Itália, a palavra usada com esse mesmo sentido era "trovatelli", literalmente, quero dizer "encontradinhos". Enquanto, nos países de língua portuguesa, conhecemos simplesmente por crianças abandonadas, expostas ou enjeitadas. No registro civil desses países, no entanto constava a expressão filho ou filha de pais incógnitos ou desconhecidos, ou filho natural ou ainda mais antigamente a expressão filho bastardo. Era, assim, um estigma que acompanharia essas crianças por toda a vida e, o sobrenome inventado e imposto passava para os seus herdeiros. Esses sobrenome traziam por toda a vida à memória “as condições de seu nascimento”. No começo eram sobrenomes fáceis de serem reconhecidos. como o nome de santo. Outros sobrenomes tinham caráter genérico, como Champi (encontrado num terreno) ou Trouvé (Encontrado), por exemplo. Nos nomes dados a crianças enjeitadas, alguns chegavam a ser chocantes, constituindo para os descendentes uma herança penosa.


Bilhete com fita em Portugal


Na Itália, não foi muito diferente. As crianças abandonadas, de modo geral, eram deixadas nas ruas, nas portas de igrejas ou de casas de famílias, nas entradas de Institutos de Caridade, em portas de hospitais, nas rodas de expostos dos orfanatos, igrejas ou ordens religiosas. Os nomes eram escolhidos pelas pessoas prepostas às funções de administração dessas casas ou, algumas vezes, eram determinados e impostos pelo próprio tabelião no momento de efetuar o registro de nascimento. As crianças enjeitadas frequentemente eram colocadas na Ruota degli Esposti ou Ruota dei Trovatelli. Essa Roda giratória existente nos orfanatos e em certos edifícios de ordens religiosos era destinada a receber anonimamente as crianças abandonadas. Muitos desses sobrenomes impostos foram preservados e chegaram até o Brasil com a imigração italiana. Eles hoje são uma dor de cabeça para aqueles que estão buscando o reconhecimento da cidadania italiana ou organizando a própria árvore genealógica, pois, com frequência  não encontram os documentos exigidos.
Muitas vezes as crianças abandonadas pela mãe traziam junto algum bilhete solicitando um nome específico ou o batismo para a criança, como no bilhetes acima. Em outras ocasiões deixavam como identificação, junto ao bebê, uma metade de uma moeda, de uma imagem ou mesmo de uma fotografia, para poderem mais tarde serem encontradas confrontando as duas metades. Em muitas ocasiões, nos casos de pais ou mães de famílias de maior poder aquisitivo,  as crianças vinham acompanhadas de uma jóia com brasão de família, ou uma jóia quebrada na metade, além de um rico enxoval. Em todos os orfanatos os objetos e elementos indicativos que vinham com o bebê eram rigorosamente catalogados e guardados em arquivos construídos para esse fim. Muitos foram os expostos que mais tarde puderam encontrar a sua família legítima. Todos as crianças que não traziam indicação de terem sido batizadas, principalmente aquelas mais fracas e debilitadas, eram batizadas de imediato, para evitar que alguma falecesse sem receber este sacramento. Na certidão de batismo constava a data de batismo, a igreja onde foi batizada, o nome que lhe foi dado e quem foram os padrinhos. Sendo desconhecida a família natural, o batismo também permitia aos expostos receber uma outra “família”: os padrinhos. 
Em muitos orfanatos à todos os expostos era atribuído um número. Este e outros elementos identificativos essenciais eram gravados numa chapa de chumbo que ficaria suspensa ao pescoço da criança. Esta chapa era designada de colar. De acordo com o referido regulamento, haveria em cada orfanato, bem como em órgãos municipais, um alicate próprio, geralmente timbrado em alto relevo para apertar e imprimir os selos nos colares das crianças. Estes selos ou lacres eram a garantia para evitar a possível troca de crianças. Todos os expostos tinham um livreto e eram matriculados. Da matrícula constavam dados como a data em que foi apresentada a matrícula, sexo da criança, descrição dos sinais, hora, dia e mês em que foi encontrada, nome e local de moradia de quem a encontrou, descrição dos objetos que vieram com ela, número do selo que lhe foi colocado ao pescoço, a data em que foi batizada, nome dos padrinhos, nome que foi dado à criança, nome da ama definitiva, número de registro da ama e moradia, número do livreto e por vezes a data de falecimento.
A sobrevivência dos recém-nascidos abandonados, encontrados com vida, dependia da disponibilidade nem sempre fácil de amas de leite que os amamentassem. Entre as muitas obrigações impostas às amas estavam: ter de lhes dar um bom tratamento, fazê-los vacinar; apresentá-los ao médico, sempre que os mesmos adoecessem, fazerem-se acompanhar dos expostos quando viessem receber os salários e apresentá-los nas revistas gerais ou, em casos de força maior, como alternativa, devia trazer um atestado assinado pelo pároco, declarando que estavam vivos e bem criados, sob pena de lhe serem recusados os respetivos pagamentos; mandá-los à escola caso completassem 7 anos e em caso de falecimento, apresentar a criança ao médico para passar o respectivo atestado de óbito.  Às amas era também atribuído um livreto, onde para além de outras informações, eram registados os seus vencimentos.

Para os expostos que tinham a sorte de sobreviver após serem admitidos no orfanato eram entregues à amas de leite, e depois da criação pela referida ama, as crianças passariam para a ama seca até fazerem 7 anos. A partir desta idade passariam para os cuidados outros órgãos públicos municipais, federais ou instituições religiosas até completarem os 18 anos. Durante esse período eram devidamente alfabetizados e aprendiam uma profissão ou um ofício, os meninos mais fortes passavam a trabalhar como aprendizes em diversas oficinas de artesãos, que ofereciam vagas para ajudar o trabalho das ordens religiosas. As meninas e os meninos mais franzinos ou doentes  aprendiam trabalhos manuais e muitos deles encaminhados para seguir a vida religiosa. Tanto os meninos como as meninas que tinham dom para as artes, como a música e o canto, eram matriculados para fazer estágios com compositores e maestros famosos para a sua devida preparação artística. Em muitos orfanatos, como por exemplo em Veneza, essas crianças que tinham pendor artístico, depois de serem devidamente educadas e preparadas, se apresentavam publicamente em recitais e o lucro da venda dos bilhetes destinada à manutenção do orfanato que os tinham adotados.

Na Itália do século XVIII, era comum que os sobrenomes dados às crianças encontradas fossem genéricos e compartilhados com outras crianças na mesma situação. No entanto, em algumas regiões da Itália, havia sobrenomes que eram exclusivos para crianças encontradas ou abandonadas. Aqui estão alguns exemplos: 

Trovato - "encontrado" 
Esposito - "exposto" 
Proietti - "lançado" 
Sgariglia - "andarilho" 
Troiano - "troiano" (referência a Troia) 
Egidi - "filho de Giles" 
Voltaggio - "volta à estrada" 
Oliva - "azeitona" 
Pace - "paz" 
De Santis - "do santo" 
Diotallevi - "Deus nos ajude" 
Acquaroli - "pequena água" 
Corazza - "armadura" 
De Carolis - "do Carlos" 
Dragoni - "dragões" 
Genovesi - "de Gênova" 
Leone - "leão" 
Marcantoni - "Marcos Antônio" 
Paci - "paciência" 
Pirozzi - "pimenta" 


É importante lembrar que esses sobrenomes exclusivos não eram universais na Itália e podem ter sido limitados a certas regiões ou instituições que cuidavam de crianças encontradas. Além disso, muitas vezes esses sobrenomes eram alterados posteriormente à medida que informações adicionais sobre a origem da criança se tornavam conhecidas.






segunda-feira, 27 de março de 2023

Alguns Sobrenomes de Origem Italiana em Paraguaçu MG

 



Arcella
Baccoli 
Bagne
Bagni
Bechis 
Benedetti 
Benedetto 
Bocchi  
Bonetti 
Borin 
Bortolazzo 
Buzzetti 
Caproni
Carratta 
Chiavone 
Cimbolini 
Codignola 
Codignoli/Codignole 
Corsini
Cosenza
Della Villa
Dolci
Faggion 
Fagioli
Fattini
Foresti 
Fressato 
Frezzato 
Garotti 
Gavioli 
Gravina 
Labecca 
Lourenzeti 
Mazzeo  
Milani
Modenese 
Motteran / Moterani 
Muoio
Nagliati 
Perna 
Perna, Pagano 
Piazza 
Piazzalunga
Pizzi
Quaglio 
Rizzieri 
Rizzolo
Rizzotto 
Rosse, Rosa 
Rossi 
Schiassi
Schiassi 
Selicani /Silicani
Semolini 
Sepini /Ceppini/ Sepino)
Sgarboza
Soglia
Taglialegna 
Terzetti /Tersetti / Tercetti
Tosatti
Valerio
Vigato
Villa
Zampier /Zampieri 


sábado, 25 de março de 2023

Os Tiroleses em Terras do Paraná: Aspectos da Imigração do Trentino

 





Um grupo de imigrantes, a maior parte provenientes de Primiero, região do Tirol, uma zona bastante montanhosa, encravada entre a Itália e a Áustria, que naquela época e até o ano de 1918, ainda fazia parte do Império Austro-Húngaro, conhecidos pela denominação genérica de "tiroleses", no ano de ano de 1878 foram instalados na Colônia Imperial Santa Maria Novo Tirol da Boca da Serra, próxima a Piraquara, a única colônia imigrantes trentinos do Paraná. 

A colônia foi inicialmente instalada com 59 famílias de tiroleses, totalizando cerca de 300 indivíduos. Estava situada a aproximadamente 45 Km de capital paranaense. A sua área estava inicialmente em terras do município de São José dos Pinhais e a partir de 1890 passou então ao novo município de Piraquara.

Entre os primeiros documentos da colônia que foram localizados, encontrou-se 64 assinaturas dos primeiros imigrantes ali alocados, dessas cerca de 40 eram de originários de Primiero e as demais de vênetos. Sabe-se que no início de 1879, estes imigrantes nascidos em Primiero, eram a maioria dos habitantes da colônia, com um número total de 160 a 180 pessoas.

Na colônia foram medidos 66 lotes rurais e 86 urbanos, nos quais se estabeleceram as 59 famílias de imigrantes com um total de 251 indivíduos.

As autoridades provinciais criaram um centro urbano na colônia onde colocaram provisoriamente os recém chegados. Os lotes urbanos mediam entre 1800 m2 e 4370 m2, onde a maioria media 2000 m2. O pequeno centro habitado tinha 3 praças e uma série de ruas.

Cada família recebia uma casa no centro urbano e um lote rural que ficava distante alguns quilômetros. Assim que uma família tinha condições, construía uma pequena casa nesse lote rural. 

Segundo o Pe. Colbacchini que visitou a Colônia alguns anos depois, já no século XX, considerou esta experiência falida, uma vez que somente um quarto das famílias tinham uma residência no pequeno centro urbano.

Os lotes rurais distribuídos na colônia mediam entre 15 e 18 hectares. As casas eram construídas pelos homens enquanto as famílias ficavam hospedadas nos barracões.

Todos os colono escolheram pagar pelo seu lote em cinco prestações anuais, com um período de carência de dois anos desde sua instalação na colônia, acrescido de 20% de juros.

Conforme o contrato o governo provincial providenciou sementes e os principais instrumentos de trabalho aos agricultores. Às vezes em vez das sementes fornecia uma certa soma de dinheiro.

A Colônia com menos de oito meses de vida conseguiu a sua emancipação em Fevereiro de 1879.

Como as demais colônias italianas instaladas no litoral paranaense, teve uma vida bastante breve.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS