Até o ano de 1875 a população do Vêneto não pensava muito em atravessar o grande oceano em emigração para o Novo Mundo. Poucos tinham se aventurado até então nessa longa e perigosa viagem e não eram os mais pobres e sim os pequenos proprietários de terra que já não conseguiam mais cumprir com os seus compromissos. Estavam mais atentos no que ocorria na Itália e nos demais países e saíram na frente. Vender as suas pequenas propriedades e emigrar para a América, o Novo Mundo, com suas intermináveis riquezas, que se abria.
A situação econômica da Itália se deteriorava rapidamente e muitas coisas estavam mudando, principalmente, para aqueles mais pobres, que agora já podiam pensar em viajar sem ter o dinheiro para os bilhetes de navio. Essa despesa agora seria paga pelos países que estavam recrutando mão de obra no Vêneto. Assim partiram em massa, para a Argentina emigrantes da Liguria, Lombardia e Piemonte. Os vênetos no entanto foram atraídos pelo Brasil, com os seus amplos espaços vazios, suas grandes florestas e as grandes plantações de café. Os primeiros vênetos a deixarem o país foram os pequenos agricultores provenientes do vale do Brenta, da Valsugana, de Belluno e de Feltre que, em 1876 em número de 275 pessoas, com eles Don Domenico Munari, até então o pároco de Fastro. Em 1877 partiu um outro grupo formado pelo padre Angelo Cavalli com 200 famílias, recrutados no vale do Brenta, Enego e Maróstica, que se dirigiram para o Paraná. Partiram, naqueles primeiros anos da emigração, cerca de 2.000 agricultores de toda essa parte do Vêneto, quase todos vicentinos e trevisanos, em direção ao mítico Brasil, em busca da cucagna.
Povo religioso e respeitador, os vênetos foram ensinados durante séculos, pela igreja católica e forçados pelos senhores, a calar sempre, a obedecer sempre. Assim não tiveram o ímpeto de se rebelar e lutar, como aconteceu em outras regiões da Itália, contra as autoridades e os patrões. Tinham consciência que estavam sendo rápido e impiedosamente expulsos das suas terras, mas, os culpados eram sempre os seus patrões e não a difícil situação político econômica que o Vêneto precisou suportar, principalmente, nos primeiros anos da sua anexação pelo reino da Itália.
A resposta dos vênetos, para essa situação crônica de pobreza e subserviência em que estavam vivendo, foi a emigração definitiva para o Novo Mundo, um verdadeiro movimento de libertação, que pode ser considerado como um ato revolucionário, uma forma de protesto ao estado italiano, aos odiados senhores, os proprietários das terras, sem recorrerem ao uso da violência. Se moveram vilas inteiras, partindo muitas vezes no escuro, em silêncio, como se estivessem fugindo. Saíam dando vivas à América e morte aos insaciáveis patrões! Nós vamos para o Brasil e agora caberá aos senhores proprietários, aos patrões, trabalharem as suas terras, diziam os emigrantes em forma de desafio.
A partida foi vivida, sem dúvida, como um acontecimento doloroso, mas, por outro lado, necessário. Rompeu uma secular situação de miséria sem fim e de vergonhosa subserviência, abriu as portas para esperança.
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