sexta-feira, 28 de agosto de 2020

A Necessidade de Emigrar



Na Europa do final do século XVIII, se iniciaram profundas transformações sociais e econômicas que estabeleceram mudanças importantes dos fluxos migratórios de todo o continente. De emigrações temporárias que tinham como destino alguns poucos países mais ricos e desenvolvidos, migrações essas já conhecidas desde muito tempo, os povos europeus se voltaram para emigrações visando os novos países em fase de desenvolvimento do outro lado do oceano. Essas emigrações tinham como característica principal o fato de serem de caracter definitivo e abrangiam famílias inteiras. que deixavam os países onde tinham nascido para nunca mais retornarem.

Entre as principais causas, que levaram a essa necessidade de emigrar, estavam mudanças demográficas, principalmente o aumento da população rural em alguns países que levaram a uma crise econômica. Também fatores sociais e políticos ocorridas nesse período criaram condições desfavoráveis para os mais pobres. 



Na segunda metade do século XIX a Itália foi atingida por grandes mudanças políticas geradoras de guerras e conflitos especialmente quando da formação e unificação do reino, que levaram ao aumento do desemprego no campo, agravado pelo aumento populacional decorrente da maior expectativa de vida da população, pela melhoria das condições da saúde e higiene em relação aos séculos precedentes. Também as condições meteorológicas desfavoráveis nesse período ocasionaram grandes enchentes e deslizamentos de terra no norte e muita seca no sul, aumentando rapidamente a fuga do campo e o consequente  desabastecimento nas cidades. O aumento repentino de desempregados forjou o aparecimento nas cidades de uma força de trabalho mal remunerada

Estas alterações drásticas do clima, somadas ao aumento populacional, especialmente no campo, atingiram ao mesmo tempo a maioria dos países europeus, agravadas em alguns grandes centros, pelo incipiente desenvolvimento industrial.

A melhoria do transporte marítimo oceânico, dos meios de comunicação internos, aqueles com o surgimento de navios à vapor em substituição aos antigos e mais lentos veleiros e estes com a popularização do trem, também contribuíram para aumentar a emigração das populações européias. Devemos lembrar também a grande importância da criação de novas políticas públicas que vieram favorecer a emigração, tanto nos países europeus como naqueles do outro lado do oceano que necessitavam de mão de obra. 


Emigrantes Italianos no Porto de Genova


O pico dessa grande emigração, principalmente para os italianos, alcançou o seu ápice nos últimos vinte anos do século XIX e início do século XX, diminuindo somente com o desencadeamento da I Grande Guerra Mundial para repreender logo após a essa até a década de 1930. Nesse período mais de 50 milhões de europeus, protagonizaram o maior êxodo  ocorrido em toda a história da humanidade até então, somente comparável a fuga dos judeus do Egito, deixaram definitivamente suas casas para fixarem residência em países distantes e não mais voltarem. 

Estudos posteriores apontaram que o crescimento populacional da Europa no século XVIII multiplicou por mais de dois a população de todo o continente até o início da I Grande Guerra Mundial, passando de 190 milhões para alcançar a cifra de 458 milhões de habitantes.  

Esse rápido aumento populacional se deve a diminuição  da  mortalidade, tão característica nas sociedade europeia e italiana em particular; pelo progresso da medicina e pela diminuição da insegurança alimentar. Por outro lado, esse aumento de expectativa de vida não foi acompanhado por uma redução da taxa de natalidade que ainda continuou alta.  Esse fenômeno se manteve até meados do século XX quando, começaram a surgir os primeiros programas de controle da natalidade. 

As revoluções agrícola e industrial  também exerceram pressão para o aumento dos fluxos migratórios em massa. A Itália do século XIX era um dos países menos desenvolvidos da Europa. Praticava uma agricultura bastante atrasada, baseada em conhecimentos já ultrapassados de muitos séculos atrás. 

A importação de grãos, especialmente dos Estados Unidos, que chegavam na Itália com preços muito mais competitivos do que aqueles produzidos no país,  contribuíram para a diminuição dos lucros e o empobrecimento dos proprietários rurais, aumentando assim o desemprego e o consequente êxodo do campo para as cidades.

O melhoramento das ferramentas agrícolas e a mecanização da lavoura em algumas regiões italianas, apesar de ainda serem praticadas de forma muito incipiente, em comparação com outros países europeus, também já estava colaborando com o aumento do desemprego no campo. Ao mesmo tempo em que as cidades se inchavam, os salários por sua vez diminuíam vertiginosamente e o número de desempregados rurais era cada dia maior. O empobrecimento do campo também atingiu em cheio os pequenos artesãos, que viram o fruto do seu trabalho ficar sem mercado.

Após a unificação do Reino da Itália, em 1866, as condições de vida dos  pequenos camponeses e artesãos se tornou cada vez mais crítica, principalmente, após a introdução de novos impostos para sustentar a unificação do Reino da Itália. O imposto sobre o sal e dos produtos que deviam ser moídos, é o caso da farinha de milho, principal ingrediente da polenta, na maioria das regiões italianas, alimento consumido pelos mais pobres. Este famigerado imposto na maceração de grãos era pago diretamente no moinho, onde todos precisavam levar as suas pequenas produções a fim de obter a farinha de milho. Esses dois impostos gravavam de maneira muito forte os mais  desprotegidos e pobres da população italiana.

A fome já começava a bater à porta das casas  dessa grande massa de trabalhadores e foi nesse amplo  contesto que apareceram os primeiros recrutadores de mão de obra, composta inicialmente, por  desempregados,  desesperados, prontos para embarcarem para os destinos mais longínquos, em busca da tão sonhada "cucagna", a sorte que nada mais era do que a posse de um lote de terra para cultivar e um pedaço de pão para comer.

Nesse período na Itália e também em muitos outros países europeus, a  revogação de leis e decretos que até então dificultavam e reduziam  a emigração para o exterior, também influenciaram diretamente para o aumento do fluxo emigratório. 




As políticas praticadas pelos países americanos, como no caso do Brasil, após 1888, no sentido de facilitar o recebimento de emigrantes,  as quais no início chegavam a oferecer  transporte e crédito a longo prazo para a aquisição de terras em colônias recém criadas, muito facilitaram para o aumento do fluxo emigratório. 


Dr. Luiz Carlos Piazzetta




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