quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Pobres Feios e Sujos




Poveri Brutti e Sporchi

Arrendatários de minúsculos terrenos, vergados por altos aluguéis, atrasados métodos agrícolas, baixa fertilidade da terra. Trabalhadores esfalfados pelos míseros salários e escasso emprego. Eram agricultores que perdiam as terras, incapazes de pagarem os novos impostos.
A unificação aprofundara a incorporação da península ao mercado mundial, determinando a queda dos preços dos grãos e o retrocesso do artesanato rural. Mesmo no Norte, a indústria não absorvia a população expulsa do campo. Morria-se de fome na Itália.
Enchentes, secas, invernos duros, epidemias vergavam definitivamente famílias vivendo na quase indigência. A temida pelagra era síntese dos males sociais peninsulares. Com sequelas cutâneas, gastrointestinais e nervosas, a doença devia-se a uma dieta baseada nos cereais e em quase nenhuma proteína animal. No inverno, famílias inteiras alimentavam-se apenas de polenta. A caça ao passarinho era desesperado recurso dos pobres do campo contra a inanição, e não o atual refinamento gastronômico politicamente incorreto. Em 1881, no Vêneto, havia mais de 55 mil pelagrosos.
Greves de trabalhadores e de arrendatários, incêndios de plantações, associações rurais, movimentos messiânicos de cunho comunista-distributivo agitavam os campos sem vencer a coesão das classes ruralistas. Desesperados, homens sozinhos, famílias isoladas, grupo de parentes, aldeias inteiras partiam para o Novo-Mundo.
A rescisão dos arrendamentos e o abandono dos empregos eram vistos como libertação. A despedida assumia cunho quase revolucionário. Emigrantes percorriam estradas, malas às costas, aos gritos “Viva l’America, morte ai padroni!” No Novo-Mundo não havia senhores! Melhor ainda, na terra da cucagna, país do leite e do mel, todos seriam patrões!
Em 1875, há precisamente 133 anos, chegava a primeira grande leva de imigrantes do norte da península destinada à Encosta Superior da Serra. Na época, o Rio Grande do Sul era uma província atrasada, com a economia exportadora apoiada sobretudo nas carnes salgadas e couros, produzidos por trabalhadores escravizados.
Como ocorrera para a imigração alemã, que ocupara o pé da Serra, a partir de 1824, o movimento colonizador fora iniciativa e obra do poder central, interessado em incentivar a ocupação de territórios e a produção de gêneros alimentícios e de recrutas para os exércitos.
Como no resto do Brasil, os proprietários rurais sulinos viam com desgosto e opunham-se à chegada dessas multidões de miseráveis que não se empregariam nos latifúndios, pois receberiam terras financiadas, onde trabalhar. A população pobre nacional ficou à margem da liberalidade imperial.
De 1875 ao início da I Guerra Mundial em 1914, oitenta mil italianos instalaram-se no Sul, como pequenos proprietários rurais, sobretudo. Essa multitudinária transferência de força de trabalho e democratização da posse da terra modificariam radicalmente a história do Rio Grande do Sul, livrando-o para sempre da maldição de tornar-se, no melhor dos casos, um Uruguai caboclo, no pior, um imenso Bagé!

                                                                                                            Artigo do Prof. Mário Maestri 

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Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS



Um comentário:

Unknown disse...

A luta pela vida...sobrevivência e esperança de um povo que modificou o Brasil
com sua força e coragem. Trabalho árduo mas com a certeza de dias melhores!