O Destino de Giuseppe Veraldi
Com o passar dos anos, Giuseppe percebeu que a Itália não lhe oferecia um futuro digno. Assim, em 1875, aos vinte e um anos, embarcou em um navio rumo ao Brasil, em busca da prosperidade que tantos conterrâneos diziam encontrar no Novo Mundo.
O porto de Santos o recebeu com uma mistura de promessas e dificuldades. A cidade fervilhava de emigrantes, sonhadores e oportunistas. No início, Giuseppe encontrou trabalho em Campinas, no interior de São Paulo, onde passou anos trabalhando com a terra e as plantações de café. Não demorou muito para entender que a verdadeira riqueza não estava apenas no trabalho manual, mas na capacidade de organização e investimento.
Com algumas economias, em 1884 mudou-se para Jundiaí, onde montou uma casa comercial. O comércio, ao contrário da agricultura, lhe dava mais controle sobre os ganhos e menos dependência das intempéries. Com sua visão empreendedora, Giuseppe expandiu seus negócios para além da simples venda de produtos: criou uma empresa chamada Fazenda Verona, que fornecia terras, ferramentas e crédito aos italianos que chegavam sem nada além da esperança. Os colonos pagavam com parte de sua colheita, e Giuseppe, sempre atento às oportunidades, também cobrava pelo uso da terra.
A fama da Fazenda Verona cresceu rapidamente. O próprio governo paulista, interessado em expandir a colonização da região, via com bons olhos a iniciativa de Veraldi. Até os indígenas da área, que a princípio desconfiavam dos estrangeiros, foram incluídos no sistema. Trabalhando ao lado dos italianos, aprenderam novas técnicas agrícolas e se tornaram parte da cadeia produtiva que transformou Jundiaí em um polo agrícola de grande destaque.
Em 1889, já um homem rico, Giuseppe comprou uma fazenda de 22.000 hectares em São Carlos, batizando-a de Fazenda Coqueiro. Juntas, a Fazenda Verona e a Fazenda Coqueiro garantiam uma produção anual de 30.000 toneladas de grãos, a ponto de a imprensa lhe dar o apelido de “O Rei do Milho”.
Mas Giuseppe nunca foi apenas um comerciante ávido. Lembrava-se bem das dificuldades de sua infância e da falta de oportunidades na Itália. Por isso, financiou a construção de escolas, asilos e hospitais em suas propriedades, garantindo que tanto os colonos quanto os indígenas pudessem ter uma vida mais digna.
Quando a Primeira Guerra Mundial devastou a Europa, Giuseppe não hesitou em enviar navios carregados de cereais para a Itália, ajudando sua terra natal em tempos de grande miséria. O governo italiano o homenageou, concedendo-lhe o título de Comendador da Fazenda Coqueiro.
Ele faleceu em 1935, retornando à terra que o viu nascer, mas que não lhe havia dado oportunidades. Contudo, seu nome permaneceu gravado na história do interior paulista, não apenas como um magnata do trigo, mas como um homem que soube transformar dificuldades em prosperidade – para si e para muitos outros.