No final do século XIX existiam no território italiano aproximadamente trinta agências de emigração e mais de 5 mil subagentes, que se espalhavam percorrendo as mais longínquas vilas de norte ao sul, apregoando as riquezas do Novo Mundo e as facilidades de qualquer um alcançar a tão sonhada "cucagna", convencendo os mais pobres a partirem. As pequenas vilas foram inundadas por folhetos de falsa propaganda e cartas de fictícios emigrantes que já tinham partido contando maravilhas dos lugares onde viviam.
Esses angariadores de emigrantes, muitos deles conhecidos pela falta de honestidade, estavam a serviço das companhias de navegação italianas e alguns também dos governos estrangeiros interessados na mão de obra italiana.
A situação desesperadora de penúria que viviam e a raiva acumulada para com os antigos patrões e governo do país, somados com o profundo desejo de propriedade, fizeram 9 milhões de italianos, homens, mulheres e crianças, entre os anos de 1876 e 1920, a atravessarem o grande oceano, em busca de um trabalho que lhes pudesse dar pelo menos um prato de comida diário.
Enfrentaram com coragem várias semanas de uma longa viagem, precariamente embarcados em velhos e lentos navios, alguns deles verdadeiras sucatas, em busca de melhores condições da vida.
O grande sonho, uma espécie de paraíso terrestre, a terra prometida, exageradamente descrita pelos agentes de viagem era a tão falada América. Para a maioria daqueles pequenos agricultores e artesãos que embarcavam era a última chance de vencer e não morrer de fome.
Os primeiros destinos foram o Brasil, Argentina e Estados Unidos, que receberam em poucos anos milhões de emigrantes italianos.
Nas regiões montanhosas do Vêneto, por onde teve início o grande êxodo e nas zonas agrícolas do sul, os trabalhadores rurais com o seu trabalho ganhavam apenas o suficiente para comer uma magra refeição e pagar os impostos. Qualquer outra dificuldade que porventura surgisse, simplesmente, morriam de fome.
Com a formação do reino da Itália, após o período de unificação, que ficou conhecido como "Risorgimento", as ondas de emigrações aumentaram muito e a classe dominante nada fez para conter o êxodo, ao contrário, foi visto com alívio, uma verdadeira válvula de escape para conter as crescentes tensões sociais que se espalhavam rapidamente por todo o país.
Aqueles que emigravam enfrentaram muitas dificuldades para conseguir embarcar e chegar até a terra prometida. Tomada a decisão de abandonar o país, convencidos pelos agentes de viagem, o passo seguinte era se desfazer de algum bem que porventura possuíssem para pagar aos recrutadores, que muitas vezes desapareciam com o dinheiro.
Agora precisavam chegar ao porto de embarque no dia informado. Dependendo de onde viviam, o porto poderia ser o de Gênova, para os emigrantes do centro-norte da Itália ou o de Nápoles, para os que saíam do sul.
A grande maioria daqueles que embarcavam eram pequenos trabalhadores rurais, mas, com eles emigravam também artesãos, pequenos proprietários de terra e profissionais de inúmeras outras atividades, que seriam de extrema utilidade nas colônias do Novo Mundo.
A viagem, embarcados em precários navios a vapor, através daquele oceano desconhecido podia durar de 21 a 30 dias, dependendo do destino. As condições higiênicas encontradas a bordo eram muito precárias, naqueles primeiros 25 anos anos do início da grande emigração.
Os navios então disponíveis, colocados para o transporte dos emigrantes italianos, eram navios adaptados apressadamente, que antes carregavam carvão ou outras mercadorias em seus grandes porões. Os passageiros, geralmente, sempre eram em número superior ao indicado, alojados naqueles fétidos e mal ventilados porões, dormindo pelo chão ou sobre sujos colchões de palha, em beliches colocados em longas fileiras.
As famílias eram separadas: homens e meninos maiores de 10 anos em um compartimento e as mulheres com os filhos menores em outro. Não tinham qualquer privacidade. Não havia água corrente e nem instalações sanitárias nesses grandes salões. Baldes de madeira com tampa, colocados nas extremidades das longas filas de beliches e catres, serviam de latrinas para todos os passageiros. Animais de corte eram alojados em currais e sacrificados durante a travessia para complementar a dieta dos passageiros. A alimentação servida a bordo era muitas vezes insuficiente e de má qualidade.
Devido a essas precárias condições de higiene, epidemias de doenças graves surgiam repentinamente durante a viagem, ceifando a vida daqueles mais fracos: as crianças e os idosos, que eram sepultados no mar, envoltos em uma sinistra mortalha de pano, costurado com grandes pontos e com uma grande pedra amarrada nos pés, para afundar mais depressa.
A emigração italiana foi uma oportunidade de ouro para os interesses dos armadores e das companhias de navegação italianas. Visavam obter a maior vantagem possível com este novo fenômeno social. O lucro estava na frente de tudo, inclusive da saúde e da vida dos novos passageiros.
Nos 25 últimos anos do século XIX a Itália possuía uma frota de velhos navios a vapor, alguns deles eram ainda movidos a vela, que sempre transportavam, em seus porões, quase que exclusivamente, mercadorias, geralmente, a granel, como o carvão. Aqueles milhões de novos passageiros, que se acotovelavam nos portos para deixar a Itália, trouxeram com o passar dos anos, a modernização da antiquada frota italiana.
Estes velhos e lentos barcos de mercadorias, alguns deles verdadeiras sucatas, rapidamente foram transformados em navios para transporte de passageiros, através de uma precária e quase sempre incompleta adaptação. Eles foram responsáveis pelas inúmeras mortes que aconteciam durante a longa travessia do oceano.
Navios como o Matteo Bruzzo, o Carlo Raggio, o Frisca, o Remo e o Sirio e alguns outros mais, foram responsáveis por milhares de mortes de emigrantes italianos a caminho de uma nova vida no Brasil, Argentina, Uruguai e Estados Unidos.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
2 comentários:
Boa noite, parabéns pelo trabalho de resgate histórico, gostaria de saber se existe algum registro fotográfico do navio italiano Parà?
Meus antepassados vieram nele em 1896.
Obrigado pela atenção!
Bom dia Janones
Obrigado pelo contato. Ainda não encontrei fotos do navio Pará. Não quer dizer que não existam. Quando eu encontrar acrescentarei ao blog https://emigrazioneveneta.blogspot.com/2022/04/fotos-de-alguns-navios-que-traziam.html
Abraço
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