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segunda-feira, 28 de março de 2022

Os Imigrantes Friulanos no Brasil

 

Fogolar Furlan



Foi somente no ano de 1872 que, no Friuli Venezia Giulia, chegaram as primeiras notícias da possibilidade de emigrar para as terras brasileiras. Neste ano o cônsul geral do Brasil, lotado na cidade giuliana de Trieste, entregou às autoridades do governo local, cópia do contrato firmado em Porto Alegre, entre o presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul com as empresas de imigração Caetano Pinto & Irmão e Holtzweissig & Company, para introdução nas terras da província de 40 mil colonos no período de dez anos. Deveriam emigrar com a família e gozarem de boa saúde.

Segundo aquele contrato os candidatos a serem recebidos na província meridional do Brasil deveriam ser originais metade da parte sul e a outra metade do norte da Europa: escandinavos, ingleses, escoceses, holandeses, belgas, suíços, austríacos, alemães, franceses, húngaros, bascos e portugueses.


Grupo Furlan



Também especificava que o número de imigrantes alemães não poderia ultrapassar da metade do total de imigrantes. O número de imigrantes a serem introduzidos anualmente seria de no máximo 6 mil e no mínimo de 2 mil, salvo força maior que deveria ser previamente justificada ao governo da província.

No contrato também haviam as cláusulas que estabeleciam a compensação financeira aos agentes de emigração por cada emigrante que arrecadassem: sessenta mil réis por cada indivíduo maior de 14 anos, 55 mil réis pelos de 10 anos até 14 anos e 25 mil réis para os com idade compreendida entre 2 e os 10 anos de idade completos.





O contrato com as companhias de emigração também estipulava que os imigrantes seriam recebidos pelo governo provincial no Porto de Rio Grande ou no de Porto Alegre, garantindo transporte, alojamento e alimentação para todos desde o momento da chegada até a instalação definitiva nas colônias provinciais

Na carta, que acompanhava as cópias dos contratos, o cônsul solicitava para as autoridades giulianas darem a maior publicidade e ao mesmo tempo alertava para os cuidados para que os colonos não fossem enganados pelos angariadores de mão de obra, já em grande número circulando por toda parte.

Os habitantes do Friuli Venezia Giulia, os friulanos, furlani, também eram conhecidos por austríacos, pois, estavam sujeitos à administração do Império Austro-Húngaro, não foram rapidamente seduzidos pelas facilidades que estavam sendo ofertadas pelo governo imperial brasileiro. 

Foram ainda necessários mais 5 anos para que em 1877 o número de emigrantes pudesse alcançar um nível mais significativo. Isso certamente se deveu pelas medidas de dissuasão postas em prática pelo ministério do interior austríaco com a finalidade de dificultar a emigração para o Brasil. 

Entre essas medidas constaram também a divulgação pública de experiências negativas de imigração que estavam ocorrendo em algumas colônias de imigrantes nos estados de Minas Gerais, Bahia e São Paulo.

Foram os agricultores do Friuli italiano, de Udine, a participar dos fluxos migratórios para o Brasil. Em 1878, no boletim da associação agrária friulana, vemos a indicação dos vários "comunes" de onde emigraram centenas de agricultores friulanos: Ampezzo, Forni di Sopra, Cuja, Gemona, Cimolais, Frisando, Cordenons, Fontanafredda,Rive d'Arcano, Roveredo in Piano, Caneva e Polcenigo.






Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS








sexta-feira, 27 de novembro de 2020

Imigração Friulana para o Brasil




As primeiras notícias sobre a possibilidade dos habitantes da atual região de Friuli Venezia Giulia poderem viajar para o Brasil como emigrantes datam do ano de 1872. No dia 8 de junho desse ano,  o cônsul geral do Brasil em Trieste enviou ao governo da cidade juliana alguns exemplares com a relativa tradução do contrato firmado no dia 31 de janeiro anterior em Porto Alegre, no estado do Rio Grande do Sul, entre  o presidente da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul e de Caetano Pinto & Irmão e Holtzweissig & C.ª para  introduzir quarenta mil colonos em dez anos. Na carta que acompanha a cópia do contrato, o cônsul geral pede que se faça o acordo "de publicidade para ciência e conhecimento dos interessados ​​nesta estipulação por aquele governo para não serem eventualmente enganados pelas empreiteiras ou seus prepostos". 

Pelo acordo, o Governo da Província de São Pedro do Rio Grande do Sul "receberá os assentados na cidade de Rio Grande ou na capital Porto Alegre" e “garante aos colonos hospitalidade e alimentação na cidade de Rio Grande, bem como transporte de lá para esta capital ou para as Colônias Provinciais”. 





O ano de 1875 é quando os historiadores traçam o início da grande emigração italiana para o Brasil. Nos 50 anos seguintes, aproximadamente, um milhão e meio de italianos desembarcaram nos portos de São Paulo e Porto Alegre. Foram protagonistas de muitas das transformações da época: da abolição da escravatura à expansão da agricultura, da consolidação da economia exportadora à incipiente industrialização. E foi justamente com a abolição da escravidão em 1888 que a demanda de mão-de-obra nas plantações de café e cana-de-açúcar aumentou muito e atraiu muitos emigrantes europeus.
Naquele mesmo período, muitos outros italianos emigraram para diferentes regiões do mundo, mas poucos tiveram que passar por condições de trabalho e vida tão adversas como no Brasil. 

A situação sócio econômica do Friuli no final do século XIX

Na segunda metade do séculoXIX, a economia enfraqueceu porque o artesanato local e as fiações estavam em dificuldade devido à competição das indústrias mecanizadas lombardas que suplantaram a tecelagem manual local. Mas também devido ao aumento dos impostos com a Áustria, impostos sobre o solo e o sal. Os trabalhadores pobres, os meeiros, os inquilinos tiveram que se adaptar a salários de fome ou emigrar. Poucos foram os latifundiários que modernizaram a agricultura, em crise devido à propagação da doença da videira e à competição do trigo importado da América. Imediatamente após a anexação de Friuli à Itália, em 1866, a emigração assumiu proporções alarmantes. 
Todos os melhores trabalhadores partiram em busca de trabalho no vizinho estado austro-húngaro, na Baviera e na Alemanha. Apenas mulheres e crianças permaneceram em casa.
Em 1875, a emigração sazonal temporária foi acompanhada pela emigração transoceânica permanente para a Argentina, Brasil e Estados Unidos. Os pequenos agricultores venderam suas casas e fazendas e emigraram permanentemente.
América parecia significar espaço, terra, liberdade, emancipação e significava um rompimento limpo com adversidades e privações. 

A partida dos primeiros emigrantes 

Do município de San Giorgio della Richinvelda (3.000 680 habitantes) saíram cerca de 420 pessoas entre 1878 e 1898, famílias completas com idosos e filhos (analfabetos em sua maioria) que emigraram para o Brasil e Argentina onde eles encontraram extensões de terra para serem recuperadas e cultivadas sem equipamento adequado e qualquer tipo de apoio e assistência.
Nesse período, partiram para o Brasil as famílias de Luigi Biasutti com sua esposa, Ferdinando Venier, chamada de Bispo, com 6 membros, de seu irmão Giovanni Battista Venier com 5 membros, de Onorio Bisutti com 5. Para a Argentina Família de Giobatta Lenarduzzi com 10 membros, Luigi Pellegrin com 8, De Paoli conhecido como Maccanin com 9, Giuseppe Guerra com 8, Luigi Del Pin com 24: 74 pessoas ao todo. 




A odisséia da viagem

Saíram de Gênova em um navio a vapor (os veleiros terminaram as longas travessias por volta de 1850). O pernoite a bordo ocorreu nos dormitórios que continham centenas de pessoas amontoadas, verdadeira confusão, sujos, úmidos, com o ar irrespirável devido ao fedor chamado "fedor de emigrante" gerado pela elevada temperatura e secreções dos corpos sem banho (fezes, urina e vômito). Os dormitórios eram divididos por gênero, as crianças até certa idade podiam ficar com a mãe nos reservados para mulheres. Os homens e os meninos em outra parte da embarcação. As refeições foram distribuídas com o sistema de ração segundo critérios de justiça, em folha de flandres com colher e garfo. A mortalidade segundo as estatísticas da época era, para a América do Sul, de três a sete pessoas por viagem: as maiores vítimas eram as crianças que morriam principalmente de sarampo devido o aumento dos contatos pela superlotação; os partos foram de 3 a 4 unidades.
Após 30-35 dias de travessia eles chegaram ao Rio de Janeiro onde com outro barco menor navegaram ao longo da costa por cerca de dez dias para Porto Alegre, capital da Província do Rio Grande do Sul. Ao desembarcarem, iniciaram a longa caminhada de 10-15 dias para o interior da província, com uma carroça para bagagem e comida, passando por florestas e caminhos quase impenetráveis, até os lotes, a eles designados pelas autoridades, para serem desmatados e cultivados. O primeiro ano foi péssimo para todos, não tanto pelo trabalho com meios inadequados ou pela alimentação insuficiente que consistia em caça, feijão bravo e pinhão cozido de araucária, mais pelas crianças chorando que perguntavam aos pais à noite: “Pai, mãe quando vamos para casa? " Eles não entenderam que essa emigração era sem volta.
As famílias de Venier Ferdinando (n.1842) com sua esposa Amabile Fornasier, seus filhos Rosa (1877), Vincenza (1880), Elisabetta (1881), Angelo (1883), Luigi (1885) e seu irmão Venier Giovanni Battista (1848) ) com sua esposa Meret Santa (1857) e seus filhos Rodolfo (1884), Giuseppe (1886) e Catterina (1888) partiram para o Brasil em 1889. Cada família foi atribuída um lote a "Linha Pitanga" no estado de Santa Caterina.
Foram os pequenos agricultores do Friuli italiano que mais emigraram para o Brasil, principalmente os originários dos municípios de Ampezzo, Forni di Sopra, Buja, Gemona, Cimolais, Frisanco, Cordenons, Fontanafredda, Rive d'Arcano Roveredo em Piano, Caneva e Polcenigo. 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS