"Os mais fracos não emigram, não navegam nos mares, deixando para trás a pátria e a família, os mais medrosos, mas, em geral, aqueles para quem a vida é uma batalha e a alma é forte o suficiente para lutar mesmo em condições mais difíceis".
Entre 1861 e 1970, o total de emigrantes italianos que deixaram o país foi superior a 27 milhões de pessoas. Os anos de 1901 a 1910 constituem o período de maior número de saídas. De 1941 a 1970, a Itália contabilizou mais de 7 milhões de expatriados.
No período que se seguiu a Segunda Guerra Mundial as cotas de emigração foram consideravelmente mais reduzidas do que nas décadas anteriores e isso aconteceu devido principalmente a melhoria da economia italiana e as mudanças que ocorreram nos principais países que receberam os fluxos migratórios anteriores.
Nessa época inúmeros países europeus, mais ricos, desenvolvidos e industrializados, passaram a ser o destino predileto do emigrante italiano, ultrapassando aqueles tradicionais países ultramarinos, onde agora o processo de recebimento de imigrantes começava a se fechar. Da década de 80 do século XIX até meados da década de 20 do século XX, mais da metade dos emigrantes italianos se dirigiram principalmente para os Estados Unidos, Argentina e Brasil. Em relação a emigração italiana para a Europa, até a década de 1940 a França, Suíça, Alemanha, Áustria e a Bélgica foram os destinos que absorveram todos aqueles emigrantes que deixavam da Itália.
Nas duas ondas entre a emigração transoceânica e a emigração europeia, verificou-se uma maior especialização regional, que marcaram os fluxos migratórios por país de destino. Os italianos do norte da Itália que emigravam, mostravam preferência por países europeus, enquanto os das regiões do sul, ainda preferiram a emigração transoceânica, enquanto as regiões do centro da Itália ficaram em uma posição intermediária.
A localização geográfica, a estrutura e o custo dos meios de transporte devem, portanto, ter desempenhado um papel importante na orientação dessas escolhas regionais. As estatísticas mostram uma situação bem diversificada relativa aos últimos vinte anos do século XIX em que nitidamente tivemos uma corrente imigratória, especialmente, do norte italiano, um total de 80% e no início do século XX esta percentagem já caiu para 50% e 10% são os que saíram do centro da Itália e 40% do sul. A razão para esta mudança na composição dos emigrantes quando se leva em conta a região de proveniência regional da emigração deveu-se a fatores próprios da economia italiana. Após o início da industrialização do norte e, portanto, quando já havia maior disponibilidade de empregos, o número de expatriados diminuiu consideravelmente, enquanto a porcentagem dos que saíam do sul ainda continuou a crescer.
Do final dos anos 1940 a meados dos anos 1950, um aumento significativo dos fluxos migratórios transoceânicos voltou a ocorrer. Ao lado dos antigos destinos dos Estados Unidos, Argentina, Brasil, Canadá e Austrália, um novo destino se estabeleceu na Venezuela. Esta onda migratória era amplamente organizada e assistida pelo governo italiano, no sentido de que através de acordos bilaterais a Itália e os países de imigração garantiam aos emigrantes contribuições, que muitas vezes cobriam integralmente as despesas de viagem. Os países de imigração exigiam categorias específicas de trabalhadores, assim a Austrália comunicava anualmente às autoridades italianas o número e as categorias de imigrantes de que necessitava; o governo brasileiro pagava a viagem e solicitava trabalhadores especialmente para o setor agrícola. No entanto, a assistência do estado italiano estava limitada a viagens só de ida. Ao chegarem ao seu destino, esses emigrantes italianos ficavam praticamente abandonados a sua própria sorte, nem recebiam assistência para um possível repatriamento. Mas o aspecto mais grave foram sem dúvida as dramáticas condições de trabalho. Aos trabalhadores italianos eram atribuídos os trabalhos mais pesados e insalubres, como aqueles nas minas de carvão, pedreiras e no cultivo de grandes plantações.
Entre 1956 e 1960, foram registrados 1.739.000 italianos que deixaram o país. Foi o último grande contingente de emigrantes. A melhoria da economia italiana no período permitiu absorver aquele crônico excedente de força de trabalho no mercado interno. Mas, ao mesmo tempo, iniciou-se uma nova forma de emigração, não mais de mão de obra sem qualificação, mas, sim de quadros técnicos especializados, que ofereciam suas competências para atividades no exterior. Muitas grandes indústrias italianas encontraram pedidos no exterior, especialmente nos vários setores da engenharia.
Ao lado deste novo fenômeno, surgiu um forte aumento do desemprego a nível nacional, e também internacional, em meados da década de 1980 quando ocorreu uma corrente de imigração para a Itália, especialmente provenientes de alguns países africanos e latino americanos.
Tradicionalmente, a emigração para a Itália sempre foi uma emigração proletária com pouca participação de grupos familiares, muitas vezes vinculados a uma fazenda familiar na Itália, que não é autossuficiente. É muito difícil reconstituir a exata composição profissional da emigração italiana: ela tirou proveito principalmente do reservatório da superpopulação latente do campo e dos trabalhadores de baixa qualificação (pedreiros, operários, operários não qualificados). Esta emigração proletária parece fortemente correlacionada com a tendência cíclica da economia nos principais países importadores de força de trabalho italiana. Os italianos geralmente ocupavam os empregos mais pesados, os mais insalubres e perigosos, geralmente rejeitados pela classe trabalhadora local.
Quando se analisa os principais efeitos do fenômeno migratório do ponto de vista do país de emigração, importa sublinhar que as remessas de emigrantes se constituíram em uma alavanca muito importante do crescimento nacional da Itália, contribuindo muito significativamente para o reequilíbrio das contas externas. A emigração na Itália sempre foi substancialmente encorajada, quando não planejada pelas autoridades governamentais italianas; e isso não apenas pelos benefícios que traziam ao balanço de pagamentos, mas também, por ser considerado o mais eficaz antídoto para as crescentes tensões sociais causadas pelo estado de desemprego e miséria. A emigração foi, sem dúvida, a válvula de escape que impediu a explosão de uma sangrenta revolução que já se previa.
No pós guerra imediato a emigração se constituiu em um organizado plano do governo.
Na avaliação desse fenômeno, foi possível constatar uma unanimidade absoluta de julgamentos até a década de 1960: a Itália não conseguir oferecer trabalho para todos, não só nas contingências de um desastroso período pós guerra, mas também nas precárias condições futuras do seu desenvolvimento econômico, a emigração foi reconhecida como uma necessidade difícil, mas, indispensável para o sistema italiano.
Em junho de 1946, o problema do desemprego e da emigração foi novamente tratado pelo governo republicano; o crescimento do fluxo emigratório apresentou-se como a única forma de resolver o problema do desemprego. Decidiu-se, portanto, que a política italiana em direção ao exterior devia se basear em "acordos bilaterais", isto é, em acordos celebrados entre os dois países interessados e que as melhores condições de vida e de trabalho para os emigrantes deviam ser conseguidas junto ao país estrangeiro de imigração.
A necessidade econômica fundamental a que responde a política de migração que será adotada pelo Estado italiano é a necessidade de desencadear um mecanismo de reequilíbrio da balança de pagamentos. Mas há também uma outra necessidade e é a política: num relatório que a Direção Geral da Emigração preparou no final de Março de 1949, está escrito que: «as vantagens da emigração para a Itália não se podem limitar só para o setor econômico: as repercussões sociais podem não ser menos importantes. A partir de uma elevação do padrão de vida, as lutas sociais também podem ser bastante atenuadas ”.
Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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