A vida nas colônias italianas no Rio Grande do Sul era muito dura, principalmente nos primeiros anos da chegada dos imigrantes. Quando finalmente puderam construir as primeiras casas, essas ficavam muito distantes umas das outras. Estavam no meio de uma densa floresta, com uma pequena roça entorno da casa e não havia estradas, somente caminhos estreitos, cercados pela escuridão da mata e os gritos dos animais que a povoavam.
Os lotes eram formados por imensas áreas de terra, com montes, precipícios e às vezes até pequenos rios. Os vizinhos só se encontravam quando transitavam por meio desses caminhos, que eram então chamados de linhas. A cidade mais próxima, geralmente, ficava a muitos quilômetros de distância e precisavam de horas para chegar até lá. Ao mesmo tempo que as distâncias eram muito grandes, as estradas eram de péssima qualidade ou mesmo inexistentes nos primeiros anos, os recursos médicos disponíveis eram escassos.
Os poucos médicos que existiam, sobretudo nos primeiros anos na nova pátria, só poderiam ser encontrados em apenas algumas cidades maiores, sempre muito distantes das colônias. Para fazer frente a essa dramática situação se desenvolveu uma medicina doméstica, baseada em conhecimentos empíricos alguns trazidos da Itália e muitos outros adquiridos ao longo do tempo, com as populações nativas locais, como os mestiços e os índios. O uso de plantas medicinais foi largamente utilizado pelos imigrantes italianos, existindo então uma erva para cada tipo de doença e o conhecimento desta arte era exercido por algumas pessoas geralmente mulheres, aquelas de mais idade. Nesse contesto, aos poucos, foram aparecendo importantes figuras para as colônias, como as parteiras, também conhecidas pelos colonos como comadres ou cegonhas, muitas das quais já traziam consigo uma experiência familiar de várias gerações atendendo as mulheres no período da gravidez e nos partos. À elas cabia orientar a futura mãe nos cuidados de higiene pré natal e assisti-la no momento do parto. Atendiam na casa das parturientes e se deslocavam a pé por grandes distâncias, mais tarde iam à cavalo, independente do tempo que fazia. Eram conhecidas por todos e algumas delas alcançaram grande fama que se perpetuou por muitos anos.
Outro personagem importante nas colônias eram os arrumadores de ossos, procurados por muitos até nos dias de hoje, eram conhecidos na zona colonial italiana, como os "giusta ossi". Esta arte já era de muito tempo um "mestieri" tradicional na Itália, cujo conhecimento geralmente era transmitido de pai para filho, como uma espécie de herança. Os arrumadores de ossos, quase sempre homens, mas, também existiram diversas mulheres que exerciam esta atividade, tinham a função de recompor e imobilizar fraturas, curar entorses e distensões musculares, usando diversas técnicas de manipulação, massagens executadas com movimentos firmes de suas mãos e aplicação local de calor e remédios naturais, em forma de emplastros.
Uma outra figura muito requisitada, com fama até nos dias de hoje, são as benzedeiras, que usando um conhecimento empírico, adquirido principalmente dos caboclos locais ou mesmo dos índios, que conviviam entorno das colônias, procuravam curar as doenças e minimizar as dores, estimulando a auto sugestão do doente, em um ambiente místico de ladainhas, rezas, banhos de infusão de ervas, chás e defumações. No início essas mulheres, mas também alguns homens, eram, geralmente, caboclos mestiços, ou ainda negros, escravos libertos, que moravam vizinhos às pequenas vilas, perto das colônias de imigrantes. Com o tempo os próprios emigrantes foram aprendendo e desenvolvendo essa arte e eles mesmos passaram a exercer esse trabalho.
Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS
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