quinta-feira, 17 de setembro de 2020

As Remessas de Dinheiro que Fizeram a Itália

Entre os últimos anos do século XIX e as primeiras décadas do século XX, as remessas regulares de dinheiro para os parentes que haviam ficado na Itália, feitas pelos seus milhares de emigrantes, desempenharam um papel fundamental na história econômica italiana, atuando como uma espécie de alavanca para a industrialização do país. 

É justamente neste período que as remessas assumem um papel fundamental na história econômica italiana, em particular durante a fase de decolagem industrial durante a era Giolitti. Este foi um momento muito delicado para a Itália que nessa época chegava atrasada à industrialização e muitas vezes precisava importar bens e capitais, mas ainda não conseguia garantir exportações de igual valor, tendo assim um grande déficit na balança de pagamentos. 


Este fenômeno migratório massivo, além de funcionar uma válvula de escape para o crescente superávit populacional e as consequentes tensões sociais, contribuiu consideravelmente para o desenvolvimento da economia italiana. Por um lado, porque as remessas dos emigrantes vinham cobrir naqueles anos mais da metade da parte ativa da balança de pagamentos e isso permitia fazer face à importação de matérias-primas e bens de capital essenciais às necessidades cada vez maiores da produção industrial. Também por outro lado, as numerosas comunidades de emigrantes, uma vez fixadas nos países de destino, abriram ou ampliaram as portas dos mercados locais para as exportações italianas, de alimentos a têxteis.

 Inicialmente essas remessas regulares chegavam à Itália por vale postal, mas os correios só podiam ser  encontrados nas cidades maiores e muitas vezes estavam ausentes nos centros de mineração e nas longínquas colônias onde os emigrantes estavam fixados. Na dificuldade desses emigrantes acessarem os correios também se somava a difícil comunicação, pois, a grande maioria deles era composta de pessoas que só se comunicavam nos seus dialetos de origem. Para o grosso das remessas, outros canais também foram usados: às vezes as cédulas de dinheiro eram tão somente fechadas em envelopes de cartas, e enviadas pelo correio como no caso daqueles emigrantes que chegaram ao Brasil. Em outros casos se utilizaram de pequenos e pouco confiáveis bancos italianos para efetuarem as remessas de valores. Nos Estados Unidos muitas foram as queixas de abusos e fraudes nessas remessas, sendo que o assunto chegou a ser tratado na imprensa, a qual chamou a atenção das autoridades do governo americano. Mas também havia muitos bancos honestos que operavam  na  intermediação dessas remessas. A lei de fevereiro de 1901 interveio precisamente para proteger as economias dos emigrantes e facilitar o influxo de remessas para a Itália. Essa intervenção legislativa pretendia certamente proteger os emigrantes e as suas poupanças, mas principalmente encorajar a chegada de remessas, tão importantes para a economia italiana da época. 


Podemos concluir que as remessas dos emigrantes são um recurso fundamental para os países mais pobres, ainda que no caso da Itália, entre o final do século XIX e o início do século XX, o efeito sobre a economia tenha sido bem maior, relevante mesmo, na medida em que chegou a acontecer em um momento importante para a economia do país, que caminhava para sua verdadeira revolução industrial. 

A importância para a Itália dessas remessas regulares feitas pelos emigrantes pode muito bem ser avaliada pelas palavras de um ministro, ao se referir sobre o assunto, em seu discurso no parlamento italiano: "As remessas regulares de valores enviadas do exterior pelos nossos emigrantes se constituem em um verdadeiro rio de ouro". 


Dr. Luiz Carlos Piazzetta

Erechim RS




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