segunda-feira, 22 de agosto de 2022

A Emigração Italiana e Preconceitos

Bairro italiano em New York

 

À partir de 1861 uma verdadeira multidão de italianos, do norte ao sul do país, calculada em aproximadamente 30 milhões de pessoas: homens, mulheres e crianças, deixaram suas vilas e pequenas cidades, transladando-se para o exterior, em busca de uma vida melhor.

Os detratores desse grande movimento migratório, geralmente, em artigos da imprensa que refletiam o pensamento dos grandes empresários e proprietários de terras, que viam a até então farta mão de obra, obediente e barata, escassear, diziam que essas pessoas que abandonavam a Itália eram indivíduos gananciosos que estavam deixando o país em busca da "cucagna", aventurando-se além mar em terras do Novo Mundo.

Entretanto, na realidade, essa "cucagna" que buscavam nada mais era que um trabalho digno  que pudesse garantir um prato de comida e um futuro melhor.

No exterior, esses pobres emigrantes quase sempre, eram recebidos com  reservas e preconceitos pelas populações locais, que viam esses novos recém chegados como competidores desleais nos diversos postos de trabalho



A situação econômica cada vez pior e o aumento da convulsão social no novo país criado, agravada pelos anos conturbados para a unificação, foi o estopim que faltava para desencadear o grande êxodo. 

A emigração começou pelos pequenos agricultores e artesãos do norte da Itália, para destinos tão distantes como o Brasil, Argentina e Estados Unidos. 

Os primeiros contingentes de emigrantes eram formados por inteiras, predominantemente do Vêneto e da Lombardia,  que emigravam definitivamente para as recém criadas colônias italianas do sul do Brasil, onde o governo imperial brasileiro iniciava um vasto programa de ocupação da terra e de colonização ou, também,  para as grandes plantações de café dos estados de São Paulo e Espírito Santo, em substituição da mão de obra escrava, liberta alguns anos antes.

Esses primeiros contigentes de emigrantes italianos destinados ao Brasil, tiveram a sua viagem subsidiada pelo governo ou pelos grandes proprietários rurais, interessados naquela mão de obra.  

Aqueles que saíam das regiões centro norte no início embarcavam no porto de Gênova e aqueles das províncias do sul italiano pelo porto de Nápoles. 

A quase totalidade dos emigrantes eram colocados nas acomodações de terceira classe, mal acomodados nos porões dos navios, em situação bastante precárias de conforto e higiene. Nos primeiros anos da grande emigração, esses navios, alguns deles verdadeiras sucatas, com suas estivas recém  adaptadas para transportar pessoas, não possuíam instalações sanitárias ou mesmo água corrente para os passageiros. Baldes de madeira com tampa, colocados nas extremidades das longas filas de beliches, era tudo que existia para os emigrantes satisfazerem as suas necessidades, durante toda a travessia, que poderia durar mais que um mês de viagem.

Muitos deles não tiveram oportunidade de conhecer o Novo Mundo, morrendo por epidemias  que frequentemente surgiam a bordo. Outros deles, e não foram poucos, uma vez alcançado o tão sonhado destino, não puderam desembarcar e tiveram que retornar ao porto de origem. Graves epidemias surgidas a bordo, ocasionando inúmeras mortes, principalmente pelo cólera, fizeram com que as autoridades sanitárias do porto não dessem o aval para o desembarque. 

Nem mesmo os membros das tripulações tinham ordem para desembarcar e o navio só podia ancorar fora do porto, alguns quilômetros em alto mar, para reabastecimento de água, víveres e carvão. 

Esses navios,  com toda a sua carga de infelizes emigrantes, tiveram que empreender a viagem de retorno, para o mesmo porto na Itália de onde tinham saído. Como as epidemias demoravam para serem vencidas, muitas outras mortes ocorreriam nessas viagens de retorno.

Nos Estados Unidos, a conquista de um lugar na nova pátria foi ainda mais complicado que nos países da América do Sul. O trabalho também era muito árduo e a competição bastante severa. 

As constantes perseguições sofridas pelos imigrantes italianos, por preconceito racial e medo da concorrência, por parte dos americanos e de imigrantes de outras nacionalidades, fizeram com que passassem a morar em guetos, ou bairros de italianos e  frequentar escolas paroquiais, retardando a disseminação do inglês nessas comunidades. 

Os americanos, no auge do preconceito diziam que "os italianos não eram brancos, nem descaradamente negros".  Eram considerados por muitos, uma raça inferior "uma linhagem de assassinos, anarquistas e mafiosos". Esse preconceito dos americanos para com os italianos perdurou praticamente até os anos da segunda guerra mundial. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS