A pelagra era a mais difusa e a mais característica doença das populações rurais do Vêneto e só não estava presente nas zonas montanhosas da região e nas zonas costeiras do Mar Adriático. Também muitas outras doenças afligiam o Vêneto, causando anualmente um grande número de vítimas, tais como a difteria, o tifo, a varíola e inúmeras outras do trato respiratório, todas favorecidas pela higiene precária, pelas habitações insalubres e pelo costume dos vênetos de se reunirem nas estrebarias, junto com os animais domésticos, principalmente, nos úmidos meses de inverno, nos tradicionais filós. Entretanto, a doença mais difusa e odiosa era a pelagra, uma forma de anemia que exterminava lentamente com as forças. Ela podia se apresentar em três formas: cutânea, intestinal e, finalmente, a mais grave, nervosa.
A primeira forma atingia os membros superiores e inferiores do corpo, o tronco e a cabeça que apresentavam feridas cutâneas de coloração azulada, a qual se não tratada adequadamente progredia rapidamente para as outras duas fases. A forma intestinal atacava o aparelho digestivo causando aumento de volume da língua, vômitos e diarréia que levavam a desidratação.
A terceira fase irreversível causava graves distúrbios nervosos, depressão e confusão mental, levando muitos doentes à loucura, que muitas vezes, sem qualquer aviso, se enforcavam ou se atiravam em rios.
A pelagra também é conhecida como a doença dos 3 D, pelos seus três principais sintomas que começam com a letra D: dermatite, diarréia e demência. A doença tinha causas desconhecidas na época, mas, na realidade hoje sabemos que era causada por um dieta muito pobre de vitaminas e determinados elementos necessários à vida, devido alimentação do povo ser basicamente à base de polenta.
Em 1935 foi descoberto que a pelagagra era uma doença causada pela falta de aminoácidos essenciais como a niacina (ácido nicotínico, vitamina B e vitamina PP).
A província vêneta mais atingida por esta doença era a de Padova, a qual nos anos 1890 registrou um número de 13 mil pelagrosos.
Em Mogliano Veneto, na província de Treviso, foi instalado um dos maiores e mais importantes pelagrosários da região do Vêneto. Em certos municípios a doença chegou a atingir 25% dos seus habitantes. Essas doença tornava muito precária a existência das pessoas atingidas.
A vida média da população na zona de Bassano, Asiago, Marostica e Thiene, todas na província de Vicenza, era logo depois de 1870, em torno dos 27,5 anos de idade, de acordo relatórios oficiais dos serviços sanitários. Isso se devia a grande mortalidade infantil no Vêneto em geral, onde uma em cada quatro crianças morria no seu primeiro ano de vida e a mortalidade ainda permanecia muito alta até os quinze anos de idade.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS