Mostrando postagens com marcador preservação da verdade genealógica. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador preservação da verdade genealógica. Mostrar todas as postagens

sábado, 3 de fevereiro de 2024

A Fraude do Antepassado Nobre


 

Muitas pessoas iniciam a busca de informações sobre seus antepassados portando um grau elevado de ilusão, uma pequena esperança de encontrar um nobre entre seus ancestrais. Estar relacionado a uma família nobre ou aristocrática, gera fascinação, prende a atenção e seduz uma grande parcela dos ítalos brasileiros e não só eles. Se o assunto é fascinante, certamente, causa interesse, e é justamente neste contexto que podem ocorrer  as fraudes. E foi isso que aconteceu com os escudos e brasões de família, tão comentados e divulgados com inegável orgulho pelos italo brasileiros, especialmente aqueles com menos conhecimento dos fatos reais que ocorreram na Itália.

Na década de 1990, era muito comum ver em shoppings ou centros comerciais uma gôndola com vendedores que ofereciam um "histórico do sobrenome" e "o brasão de armas" da família, usando um computador. Com o advento do computador e da internet, proliferaram os sites que "fabricam" um brasão de armas para cada sobrenome, um escudo de família inventado do nada. Mas precisamos recordar que o escudo não representa o sobrenome em si, mas sim uma família específica que carregava esse sobrenome, e a realidade é que quase todas as famílias nobres italianas se extinguiram, tornando improvável encontrar uma relação de parentesco com essas famílias.

Devemos antes de tudo clarear certas coisas relacionadas ao tema dos escudos de sobrenomes:

    O brasão de armas está intrinsecamente ligado a uma família nobre específica que ostentava aquele sobrenome, não sendo uma representação direta do sobrenome em si. É importante ressaltar que uma família com o mesmo sobrenome em uma região distinta poderia possuir um brasão diferente, ou até mesmo pertencer a uma linhagem de origem camponesa.A fraude ou a manipulação genealógica tem uma longa história, pois as posições de poder e prestígio nobre sempre foram percebidas como hereditárias ao longo dos tempos. As contendas pelos direitos sucessórios das coroas deram origem a diversas manipulações. A persistência dessas práticas pode ser observada em muitas genealogias, muitas vezes baseadas em evidências documentais falsas ou até mesmo na ausência total delas.
    É irracional considerar que todos os indivíduos que carregam sobrenomes comuns em todo o mundo possam ser representados por um único escudo de armas.
    Nos tempos de nossos avós imigrantes, a maioria da sociedade era formada por pessoas humildes, predominantemente camponeses, enquanto a elite nobre representava uma parcela minoritária. É plausível que em pequenas comunidades tenha ocorrido algum tipo de reconhecimento especial para famílias destacadas, ainda que distantes de possuir um título nobre.
    Com a instauração da República Italiana, o governo deixou de reconhecer os títulos nobiliários, desencadeando uma série de contestações legais. Essa transformação significativa ocorreu com a implementação da constituição republicana.
    O início do parágrafo XIV da disposição transitória da Constituição enfatiza que "os títulos nobiliários não são reconhecidos". 
    Essa declaração não implica na abolição ou supressão dos títulos nobiliários. A Constituição não estabelece proibições quanto ao uso público ou privado desses títulos por parte daqueles que os detêm.
    A ausência de reconhecimento funciona apenas como uma restrição para os funcionários públicos, aos quais é incumbida a responsabilidade de omitir qualquer menção a títulos nobiliários em documentos que assinam.
    Indivíduos, mesmo devidamente investidos com um título nobiliário, não têm o direito de pleitear (não apenas em eventos públicos, mas também em contextos privados, publicações e relacionamentos) o reconhecimento do título nobre que lhes é conferido.
Devido à desautorização constitucional, os títulos nobiliários não são mais considerados elementos do direito à identidade pessoal. Eles foram excluídos do âmbito jurídico italiano pela Constituição, sendo seu uso irrelevante para o Estado, que, ao não reconhecê-los, não os protege. Nos termos da Constituição vigente, nenhum órgão do Estado, seja administrativo ou judicial, está autorizado a conceder oficialmente títulos nobiliários.

Assim, para concluir, não espere encontrar um Barão à sua espera na Idade Média: os aristocratas constituíam apenas uma parcela ínfima da população e, em muitos casos, eram aqueles que menos contribuíam. Exploravam o sangue e o suor dos camponeses, bravos e despretensiosos, verdadeiros antepassados da maioria de nós. Eram esses camponeses que preservavam tradições, compunham canções, transmitiam receitas, e para eles as igrejas eram adornadas. Muitos ramos da aristocracia europeia desapareceram, seja por fatores genéticos ou por carência intelectual, enquanto os descendentes dos "peões" e "agricultores" contemporâneos se destacam em universidades, conquistam títulos, escrevem poesias e educam filhos notáveis destinados a explorar a Lua, Marte e além, revelando um futuro ainda incerto.

É evidente que houve famílias nobres, e os escudos de sobrenomes associados a essas linhagens persistem até hoje. Da mesma forma, há publicações e sites respeitáveis dedicados a esse tema. Logo, para assegurar a confiabilidade de uma informação, é prudente examinar cuidadosamente a fonte, indagando sobre a credibilidade dos escritores e a reputação do veículo de divulgação.


  1. Resumo


    1 - Manipulação Genealógica e Títulos Nobiliários:

    • A manipulação genealógica não é um fenômeno exclusivo da Itália ou de descendentes italianos, sendo uma prática que ocorre em diversas partes do mundo.
    • As lutas pelo poder e prestígio nobre ao longo da história muitas vezes resultaram em manipulações, levando à criação de evidências documentais falsas ou à ausência delas.
    • A descontinuação da aceitação oficial de títulos nobiliários pela República Italiana marcou uma mudança significativa no reconhecimento legal desses privilégios.
  2. 2 - Brasões de Armas e Sobrenomes:

    • É crucial compreender que os brasões de armas estão vinculados a famílias específicas e não diretamente aos sobrenomes em si. Diferentes famílias com o mesmo sobrenome podem ter brasões distintos, especialmente em regiões geográficas diferentes.
    • A comercialização de históricos de sobrenomes e brasões em shoppings e online, muitas vezes usando computadores para criar essas informações, destaca a necessidade de cautela ao avaliar a autenticidade desses registros.
  3. 3 - Transformações Históricas na Itália:

    • A transição para a República Italiana e a subsequente não-reconhecimento oficial dos títulos nobiliários marcaram uma mudança nas estruturas de poder e na forma como a nobreza era percebida legalmente.
  4. 4 - Contribuição dos Camponeses e Descendentes:

    • O texto destaca a importância e a contribuição significativa dos camponeses na preservação de tradições, cultura e conhecimentos, contrastando com a ideia romantizada da aristocracia.
    • Observa-se uma mudança nas dinâmicas sociais ao longo do tempo, com descendentes de camponeses alcançando realizações notáveis em diversas áreas.
  5. 5 - Desaparecimento de Ramos Aristocráticos:

    • O reconhecimento de que muitos ramos da aristocracia europeia desapareceram, seja por fatores genéticos ou intelectuais, destaca a importância de uma abordagem mais equilibrada ao considerar a história das famílias.
  6. 6 - Validação de Informações Genealógicas:

    • A ênfase na necessidade de validar informações genealógicas por meio de fontes confiáveis e respeitáveis destaca a importância de uma abordagem crítica ao explorar o passado da família.

Em suma, embora existam registros autênticos de famílias nobres e brasões de armas associados, é crucial abordar a pesquisa genealógica com realismo, ceticismo e uma compreensão aprofundada das transformações históricas e sociais que moldaram essas narrativas ao longo do tempo.