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quarta-feira, 12 de junho de 2024

O Naufrágio do Transatlântico Principessa Mafalda

 

Transatlântico Principessa Mafalda



O SS Principessa Mafalda foi um transatlântico italiano, lançado ao mar em 22 de outubro de 1908, batizado com este nome em homenagem à segunda filha do Rei Vítor Emanuel III, Mafalda de Savoia. O navio ficou marcado na história pelo naufrágio ocorrido em 24 de outubro de 1927 na costa do estado brasileiro da Bahia. 

As famílias ricas uruguaias, argentinas e brasileiras frequentemente faziam o trajeto de ida e volta para a Europa a bordo do luxuoso transatlântico Principessa Mafalda. Além dos 62 passageiros da primeira classe, dos quais 5 tinham como destino o Rio de Janeiro, 16 se dirigiam para Santos e 41 para Buenos Aires, mais cerca de 83 passageiros da segunda classe, e o restante quase todos imigrantes procedentes de Marche, com destino maioritariamente à capital argentina. 

Muitos deles eram trabalhadores temporários que após um período determinado de atividade, recebiam o pagamento e voltavam para a terra natal. No total, na sua última viagem, o navio levava por volta de 1300 passageiros e tripulantes. Transportava também uma fortuna de 250 mil liras em ouro que o governo italiano estava enviando à Argentina. 

Desde quando o navio zarpou o capitão e a tripulação se preocupavam com o estado das máquinas que não pareciam funcionar adequadamente. 

La Navigazione Generale Italiana, a empresa proprietária do transatlântico, já havia declarado que o navio não estava em condições de fazer as longas travessias do Atlântico. 

Assim que ele zarpou, os problemas começaram. Em Barcelona, tiveram ​​muitas horas de atraso. Em seguida, uma pane nos motores de bordo e tiveram que parar por várias horas. Enfim continuou a navegação, com uma inclinação a bordo. Os vasos sanitários não funcionavam bem e a refrigeração falhava, colocando os alimentos em risco. 

Foi realizada uma parada obrigatória em San Vicente, Dakar, segundo informado, para o reabastecimento de carvão. 

A navegação pelo Oceano Atlântico prosseguiu com relativa normalidade, ainda que, com fortes vibrações e constantes problemas com o motor .

Quando na parada, o Capitão Gulì a pediu à companhia o envio de outro transatlântico em substituição da Princesa Mafalda para o transbordo dos passageiros. No entanto, o pedido foi indeferido e ele foi condenado a seguir até a próxima parada programada no porto do Rio de Janeiro, enquanto aguardava novas instruções.

Na manhã de terça-feira, 25 de outubro, o navio avançou a uma velocidade de apenas 13 nós e com uma rotação visível que o fez inclinar para a esquerda. Ele também foi ultrapassado pelo cargueiro holandês Alhena que, no entanto, não recebendo relatórios específicos, continuou imperturbável. 

Às 17h10, quando o navio estava a cerca de 80 milhas da costa do Brasil entre Salvador da Bahia e Rio de Janeiro, um choque muito forte foi sentido em todo o navio; os passageiros, preocupados, subiram ao convés para tentar entender o que estava acontecendo, apesar do navio seguir de forma aparentemente regular, embora visivelmente diminuindo a velocidade. 

O primeiro pensamento da tripulação foi que o choque poderia ser sido causado pela perda de uma hélice, o que certamente era sério, mas não necessariamente perigoso. Porém, o engenheiro-chefe subiu até a ponte e informou ao capitão que havia identificado o verdadeiro problema: o eixo da hélice esquerda havia sido totalmente arrancado e, continuando com seu movimento rotativo, havia causado um corte fatal no casco de popa.  

A água, portanto, entrava copiosamente, inundando a casa das máquinas e em breve invadiria também o porão, pois os dispositivos das portas estanques não funcionavam bem; eles imediatamente tentaram consertar o vazamento com painéis de metal, mas sem sucesso. 

Após as primeiras garantias aos passageiros, o comandante deu ordem para parar os motores e soou a sirene de alarme para reunir a tripulação, enquanto o primeiro oficial deu ordens aos operadores de rádio para lançar um primeiro S.O.S.

O transatlântico afundava lentamente de popa e o Comandante Guli ainda tenta coordenar uma evacuação ordenada, o que infelizmente não se concretizou. O pedido de socorro enviado pelos radio-telegrafistas do transatlântico foi rapidamente atendido. O navio holandês Alhena resgatou mais de 500 pessoas, o inglês Empire Star, 180; o Formose, 200; o Mosella e o Rosett pouco mais de 20. Alguns barcos brasileiros também responderam ao chamado de ajuda, mas quando chegaram ao local do naufrágio já não havia mais quem resgatar.

O Principessa transportava passageiros provenientes de diversos países, principalmente italianos, sírios e espanhóis. Também haviam brasileiros, uruguaios, argentinos, iugoslavos, austríacos, húngaros e suíços. 

Quase 400 pessoas faleceram nessa tragédia e alguns dos sobreviventes acabaram passando pela Hospedaria de Imigrantes do Brás, na cidade de São Paulo. 

Em 31 de outubro de 1927 chegam na Hospedaria 42 sobreviventes do naufrágio. No dia 1 de novembro, mais um. Eram 7 húngaros e 36 italianos. Eram as famílias Yori, Rupolo, Petina, Silvino, Massassite, De Rossi, Strufaldi, Forner, Lovato, Panarotti, Puldeghinio, Da Tonia, Beck, Strobel, Piretto e Ban. 

Eram indivíduos que vinham para o Brasil pela primeira vez e outros até já acostumados com as viagens, que já tinham habitado São Paulo por algum tempo. 

Dentre tais pessoas, algumas crianças: Maria Rupolo, de 2 anos e meio; os irmãos Aldo Silvino, de 3 anos e meio e Marcella Silvino de 6 anos; as irmãs Octavia e Maria Petina, de 2 anos e 3 meses respectivamente; os irmãos Ginita (7 anos), Puscheira (6 anos), Rino (4 anos) e Danilo (2 anos) acompanhados da mãe Maria Forner; Augusto, de 3 anos; mais uma Maria e um Eurico, ambos com apenas um ano. 

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS