A Última Jornada de Helena
Helena tinha 70 anos e a sua vida estava chegando ao fim. A recidiva do câncer de mama tinha se espalhado para outros órgãos, e ela sabia que o tempo restante era curto. Em sua pequena cidade, onde a vida corria devagar, Helena era cuidada por seus três filhos, uma filha e dois filhos, e por uma enfermeira contratada. Seu marido, Jorge, permanecia ao seu lado, segurando sua mão sempre que podia, tentando confortá-la com palavras suaves e amorosas.
Helena estava em casa agora, pois o hospital não tinha mais nada a oferecer. As injeções de opiáceos a mantinham em um estado de calma, mas sua mente ainda estava afiada em momentos de lucidez. Nesses períodos, ela refletia sobre sua vida, suas escolhas, seus arrependimentos e suas alegrias.
A sala de estar, onde Helena passava a maior parte do tempo, estava cheia de memórias. Fotos dos filhos em várias fases da vida, dos netos brincando no jardim, e de viagens feitas com Jorge estavam espalhadas pelas paredes. O aroma do café fresco que sua filha Ana preparava todas as manhãs trazia um conforto familiar, mesmo que Helena não pudesse mais saboreá-lo.
A dor era constante, mas Helena tentava não demonstrá-la. Os filhos faziam o possível para mantê-la confortável. Pedro, o mais velho, lia para ela todas as tardes, escolhendo seus livros favoritos de poesia. Marcos, o do meio, era prático e cuidava dos aspectos logísticos dos cuidados, garantindo que nunca faltassem medicamentos e suprimentos. Ana, a caçula, passava horas conversando com a mãe, relembrando momentos felizes e chorando juntas em silêncio. Jorge era um homem forte, mas a situação de Helena o devastava. Ele a amava profundamente, e vê-la sofrer era insuportável. À noite, quando todos dormiam, ele sentava ao lado dela, segurava sua mão e sussurrava palavras de amor, prometendo que ficaria tudo bem, mesmo que soubesse que o fim estava próximo.
Helena, em seus momentos de lucidez, refletia sobre sua vida. Lembrava-se do casamento com Jorge, da construção da família, dos desafios superados e das alegrias compartilhadas. Pensava nos filhos, agora adultos, e nos netos, que traziam esperança e alegria a uma casa marcada pela tristeza da doença. Ela se perguntava como seria para eles depois que ela partisse.
Uma tarde, sentindo-se particularmente lúcida, Helena pediu para falar com cada um dos filhos a sós. Com Pedro, ela falou sobre a importância de continuar a ler poesia e de encontrar beleza nas pequenas coisas. Com Marcos, discutiu a necessidade de cuidar da família e de ser o pilar de apoio que sempre foi. Com Ana, falou sobre o amor e a importância de manter viva a memória dos momentos felizes.
Finalmente, chamou Jorge. Ele se aproximou, sentou-se ao lado dela e segurou sua mão. "Jorge, meu amor, não fique triste. Vivemos uma vida cheia de amor e aventuras. Cuide dos nossos filhos e netos. Lembre-se sempre do nosso amor e saiba que estarei sempre com você, em espírito", disse Helena com a voz trêmula, mas cheia de amor.
Jorge não conseguiu conter as lágrimas. "Helena, você é o meu tudo. Prometo cuidar de nossa família e manter vivo o seu legado. Amo você para sempre", respondeu, beijando sua mão.
Nos dias seguintes, Helena continuou a lutar contra a dor e o sofrimento, mas o amor e o cuidado de sua família lhe davam forças. Sabia que o fim estava próximo, mas sentia-se em paz, cercada pelas pessoas que amava.
Uma manhã tranquila, enquanto o sol nascia e os pássaros cantavam, Helena deu seu último suspiro. Estava em paz, com a certeza de ter vivido uma vida plena e amada. Sua família, embora devastada pela perda, encontrou conforto nas suas últimas palavras e na certeza de que ela estava agora livre do sofrimento.