A Pelagra no Vêneto
Esta é doença endêmica se fez notar inicialmente em algumas partes do Vêneto, ainda no final do século XVIII, para depois, rapidamente, se espalhar por quase todo o território. Em 1776, a autoridade responsável pela saúde da Sereníssima República de Veneza publicou um decreto em que dava conta dessa nova situação e alertava as autoridades, dizia: “Os efeitos perniciosos que poderão causar prejuizo a saúde dos mais pobres, especialmente aqueles habitantes da zona rural do Polesine, Padovano e Veronese, devido a alimentação com sorgo turco imaturo e de má qualidade, em grande parte, colhidos de terrenos alagados pelas enchentes e aluviões, fazem necessário uma maior vigilância e atenção desta autoridade para prevenir as ameaçadoras doenças que poderão surgir com tais hábitos”. Presume-se que as autoridades venezianas já estavam pensando nesta doença e nas implicações à saúde do povo, quando proibiram o comércio e a moagem de milho deteriorado. As primeiras investigações oficiais que se tem notícias aconteceram em 1805, quanto o Vêneto estava sob o domínio do governo austríaco, as quais exortavam os médicos a fazerem estudos e observações sobre o progresso da doença no departamento de Treviso. Na ocasião eles chegaram a conclusão que a causa da doença era devido a qualidade do alimento ingerido pelas popoluções mais pobres, o que não foi aceito por muitos estudiosos que afirmavam que a etiologia era de origem tóxica. As duas correntes de pensamentos, a carencialista e a toxicológica, dividiram o pensamento dos estudiosos da época até 1883 quando foi criado o primeiro pelagrosário italiano, na cidade de Mogliano Veneto. Em 1935 com o isolamento da chamada vitamina PP (pelagra preventing fator) uma substância que não é assimilável pelo organismo na ausência de niacina, triptofano e vitaminas B2 e B6, todos presentes nas carnes, ovos e leite, ficou finalmente demonstrado a etiologia da pelagra. A pelagra é uma doença causada pela falta de niacina (ácido nicotínico ou vitamina B ou vitamina PP) e ou de aminoácidos essenciais, como o triptofano. A pelagra é uma doença que se apresenta clinicamente com três fases: cutânea, intestinal e nervosa. Atualmente ela é conhecida pelo nome de doença dos 3 D, pelos seus três principais sintomas que começam com a letra D. São eles: na fase inicial Dermatite, com o aparecimento de manchas cor escura na pele, eritema, pele seca e áspera, seguido mais tarde pelo aparecimento de crostas. Na segunda fase aparecem as Diarréias, acompanhadas de sangramento intestinal e vômitos. Na terceira e irreverssível fase aparecem as alterações mentais com alterações da conduta e do comportamento, seguindo para a Demência. Atualmente ela é uma doença pouco comum e os casos de pelagra encontrados estão relacionados especialmente com o alcoolismo crônico.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS