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sábado, 6 de julho de 2024

Raízes de Esperança: A Saga da Família de Mario e Angelina Speranzetti


 


A história da família de Mario Speranzetti e Angelina Valentinelli começou nos aprazíveis campos do interior da província de Padova, na Itália, no ano de 1879. Ambos nasceram em famílias numerosas e também pobres, cujos sonhos estavam profundamente enraizados na terra que cultivavam. Seus pais eram trabalhadores rurais, sem terra própria, e dedicavam suas vidas a trabalhar para os verdadeiros donos da propriedade, com os quais deviam dividir o resultado das colheitas. O sonho de ambas as famílias era um dia se tornarem donas das terras que cultivavam, de serem os próprios patrões, de saírem da pobreza e da submissão, de poderem deixar de calar sempre e só saberem trabalhar.

No entanto, a situação na Itália, e em particular na região do Vêneto, onde as duas famílias viviam desde séculos, estava cada vez mais sombria. A situação começou a piorar para eles, principalmente, para aqueles mais pobres, a partir da conquista da Sereníssima República de Veneza por Napoleão e outra vez mais tarde, com o ressurgimento que deu lugar à criação do reino da Itália. Foram dois longos e atribulados episódios, com muitas guerras, períodos dramáticos e decisivos para o país, especialmente para o povo das regiões norte e sul da Itália, que viviam da agricultura. Esses dois episódios levaram a um empobrecimento contínuo e acelerado de todo o Vêneto. Nos últimos, antes de emigrarem, os grãos eram importados a preços muito mais baratos que os produzidos na Itália, que tinha uma das agriculturas mais atrasadas da Europa. Os camponeses italianos cultivavam a terra da mesma maneira que faziam seus avós, m século atrás, usando os mesmos ultrapassados instrumentos agrícolas e métodos de manejo do solo. No últimos decênios do século XIX, várias catástrofes naturais se abateram sobre a península, com secas, enchentes,  avalanches, desmoronamentos que colaboraram para a diminuição das já insuficientes colheitas. Isso fez com que muitos patrões, aqueles que davam emprego à tantos, desistissem e fossem forçados a vender suas terras gravadas com novas taxas governamentais opressivas. Isso resultou em desemprego em massa no campo, causando desespero e até mesmo fome. Mario e Angelina também trabalhavam para um rico produtor rural que, devido todas essas circunstâncias, se viu obrigado a se desfazer de suas terras e, com toda a família, emigrar para a Argentina.

Foi assim que a família de Mario e Angelina  depois de avaliarem as possibilidades, tomou a difícil decisão de deixar sua terra natal e também partir em emigração, em busca de um futuro melhor. Em 1892, com quatro meninos e uma menina chamada Chiara, com apenas 2 anos de idade, eles embarcaram no navio Giulio Cesare, iniciando uma perigosa e demorada viagem em direção ao Brasil.

A tão temida travessia marítima foi uma jornada repleta de desafios, com o mar agitado e condições desconfortáveis a bordo. No entanto, a esperança os manteve firmes durante aquelas semanas angustiantes.

Finalmente, a família de Mario e Angelina chegou ao Brasil, desembarcando em um país completamente novo e desconhecido, que desde os primeiros momentos os impressionou bastante. O movimentado porto era o do Rio de Janeiro, onde atracavam a maioria dos navios que traziam imigrantes para o Brasil. Com suas economias limitadas, alguns dias depois eles tiveram que fazer outra viagem, desta vez em um navio de menor calado, em direção ao Rio Grande do Sul, para, depois de várias peripécias, finalmente chegarem na Colônia Caxias.

A vida na Colônia Caxias era inicialmente árdua, com desafios como o clima tropical e a adaptação à agricultura local. Mas Mario e Angelina eram pessoas trabalhadoras e determinadas. Com o tempo, aprenderam a cultivar a terra e cuidar do gado e dos suínos, transformando seu pedaço de chão em um lar próspero.

Enquanto Mario e Angelina se esforçavam para construir uma nova vida, seus filhos cresciam. Tommaso, o mais velho, ajudava os pais no difícil trabalho rural, era o braço direito da família. Mattia, Davide e Lorenzo também aprenderam o valor do trabalho árduo. Chiara, apelidada Chiaretta, a menina que chegou tão jovem ao Brasil, cresceu em um ambiente de amor e apoio, tornando-se uma jovem forte, cheia de vida e esperança.

À medida que os anos passavam, a família de Mario e Angelina se tornou uma parte essencial da comunidade da Colônia Caxias, inseridos em vários segmentos da sociedade local. Eles compartilhavam com os amigos e vizinhos suas experiências e histórias vividas na Itália, criando laços fortes.

Com o tempo, a família conseguiu comprar mais terras, realizando o antigo sonho de serem agora os próprios patrões, trabalhando em suas terras, não precisando mais dividir as colheitas  com ninguém  A história de Mario e Angelina se transformou em uma inspiração para outros colonos, mostrando que com trabalho duro e determinação, era possível transformar a adversidade em sucesso.

E assim, a família continuou a escrever sua história na Colônia Caxias, mantendo viva a tradição italiana e os valores que os guiaram desde o momento em que deixaram a Itália em busca de uma vida melhor no Brasil. A jornada da emigração se tornou uma história de resiliência, sucesso e uma lição de vida para as gerações futuras.

Os filhos cresceram em um ambiente de trabalho árduo e valores familiares fortes. Tommaso, o mais velho, tornou-se rapaz alto e muito robusto, que ajudava o pai no trabalho pesado da agricultura e, ao longo dos anos, casou e expandiu ainda mais as terras da família, tornando-se um próspero colono, principalmente com o incremento do cultivo da uva e a produção industrial do vinho.
Mattia mostrou talento para a carpintaria e marcenaria desde jovem, e seu dom para trabalhar com madeira o levou a criar belos móveis e construir casas para a comunidade da Colônia Caxias. Era muito requisitado e acabou investindo em uma pequena fábrica de móveis que com o tempo seus filhos e netos a transformaram em um grande complexo industrial, fabricando móveis para cozinhas.
Davide, por sua vez, demonstrou aptidão para a educação e com o tempo se tornou professor na escola rural local. Ele era apaixonado por compartilhar conhecimento com as crianças da região. Se casou com uma belo moça filha de descendentes de imigrantes italianos, a qual tinha o tino comercial que faltava a Davide, tornando-se uma respeitada comerciante.
Lorenzo, o caçula dos cinco primeiros filhos que vieram da Itália, era conhecido por seu espírito aventureiro. Ele se tornou um explorador e desbravador das vastas terras da região e não só, mapeando áreas desconhecidas fora da  colônia, no estado do Rio Grande do Sul, chegando até mesmo a descobrir novos recursos naturais. Com o tempo se casou e teve vários filhos.
Chiara, a filha mais nova dos cinco primeiros filhos, também nascida na Itália, cresceu como a alegria da família. Com seu jeito carinhoso, ela mais tarde se tornou enfermeira, cuidando dos doentes na comunidade, quando da inauguração do primeiro hospital.
Quanto aos quatro filhos do casal que nasceram no Brasil, Aurora cresceu como uma líder nata, casou, teve 8 filhos e se tornou uma professora respeitada na Colônia Caxias, seguindo os passos do irmão Davide. Seu marido era  um rico criador de suínos e proprietário de uma fábrica de banha.
Giada, a filha mais franzina, era conhecida, desde criança, por sua voz angelical e desde cedo era uma talentosa cantora, enriquecendo os encontros festivos e religiosos da comunidade com sua música.
Giuseppe, com seu forte espírito empreendedor, abriu um pequeno comércio que rapidamente, com o crescimento da colônia que passou a ser município de Bento Gonçalves, se transformou em um próspero negócio de compra e venda de alimentos essenciais para a comunidade. Com o tempo, visionário que era, aproveitou o rápido  crescimento da cidade e investiu em um hotel para viajantes que em grande número chegavam e que mais tarde, seus filhos e netos transformaram em um grande complexo hoteleiro para turistas, muito conceituado.
Anna, a caçula da família, cresceu apaixonada pelas artes, não se casou e alguns anos antes de sua morte se tornou em uma artista renomada, cujas pinturas celebravam a beleza da natureza da Colônia Caxias. Suas obras estão expostas em alguns museus.

A família de Mario e Angelina continuou a crescer e prosperar, contribuindo de maneiras únicas para a comunidade. Eles eram um exemplo de união, trabalho duro e determinação, e suas histórias de sucesso se tornaram parte integral da rica tapeçaria da vida na Colônia Caxias e além. Juntos, eles deixaram um legado duradouro de amor, dedicação e superação e seus inúmeros descendentes ainda hoje são figuras proeminentes em Bento Gonçalves.