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segunda-feira, 11 de janeiro de 2021

Quando os Italianos eram Trocados por Carvão



O acordo assinado entre a Itália e a Bélgica para o envio de trabalhadores italianos para as minas belgas em troca de carvão, foi sem dúvida alguma uma das páginas mais tristes de todas do período em que durou a emigração italiana. 

Esse acordo  permaneceu válido entre os anos de 1946 e 1957, denunciado logo depois do desastre de Marcinelle ocorrido no ano anterior, ocasião em que o governo italiano não mais permitiu a saída desses emigrantes. Durante todos esses anos, mais de 140.000 homens, 17.000 mulheres e 29.000 crianças emigraram para a Bélgica, para trabalharem na extração do carvão. Se deslocaram para localidades como Borinage, Charleroi e Liège.

O trabalho nas profundas e escuras minas de carvão, onde algumas delas ultrapassavam os mil metros, implicava em um serviço de grande risco  e muito insalubre, onde depois de algum tempo de exposição ao pó do carvão, os pulmões eram severamente comprometidos, levando os mineiros à uma morte  precoce ou a uma invalidez   permanente para o trabalho, na sua grande maioria ainda jovens.  

As barracas que serviam de dormitórios estavam construídas em volta das minas, onde ficavam alojados esses trabalhadores, eram também muito precárias, quase sempre sem aquecimento e a água fornecida provinha de fonte situada fora do perímetro das barracas, ao ar livre, o que contribuía para debilitar a saúde dos mineiros e dos seus familiares que moravam com eles no acampamento. As minas dessa região eram muito profundas e dispunham de equipamentos já desatualizados e os acidentes eram frequentes. 

Em 1956, entre os 142.000 mineiros empregados, 63.000 eram estrangeiros dos quais 44.000 eram italianos



O acidente ocorreu na manhã de 8 de agosto de 1956 na mina de carvão Bois du Cazier em Marcinelle, Bélgica. Era um incêndio, provocado pela combustão de óleo em alta pressão por faísca elétrica. O incêndio, inicialmente desenvolvido no duto principal de entrada de ar, encheu de fumaça toda a planta subterrânea, causando a morte de 262 das 275 pessoas presentes, das quais 136 eram imigrantes italianos. O acidente é o terceiro em número de vítimas entre os imigrantes italianos no exterior após os desastres de Monongah e Dawson. O sítio Bois du Cazier, agora abandonado, faz parte do patrimônio histórico da UNESCO

A tragédia de Marcinelle foi o primeiro grande acidente transmitido em direta pela televisão, durante mais de duas semanas. 




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS