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domingo, 23 de novembro de 2025

Fondaco dei Tedeschi em Veneza: História, Arquitetura e Função do Armazém dos Mercadores Alemães

 


Fondaco dei Tedeschi: Estrutura, Função Comercial e Evolução Histórica

Fondaco dei Tedeschi, localizado no sestiere de San Marco, junto à Ponte de Rialto e voltado para o Grande Canal, é um dos mais importantes edifícios ligados à história comercial de Veneza. Sua função original era servir como armazém, residência, centro administrativo e ponto de controle aduaneiro para os mercadores germânicos que atuavam na cidade.

1. Origem e Estrutura Administrativa (século XIII)

Construído inicialmente em 1228, o Fondaco foi projetado para centralizar o fluxo de comércio estrangeiro. Em sua configuração medieval, cumpria funções cruciais:

  • controle fiscal e alfandegário sobre mercadorias oriundas dos territórios germânicos;

  • hospedagem obrigatória dos mercadores alemães, sob regras definidas pelo governo veneziano;

  • vigilância sobre circulação de pessoas e bens;

  • armazenamento regulamentado de produtos como metais, madeira, lã, armas e tecidos.

Seu modelo seguia o padrão dos fondachi venezianos: um edifício fechado, com pátio interno, docas e circulação controlada.

2. Reconstrução Renascentista (1505–1508)

Após um grande incêndio em 1505, o edifício foi totalmente reconstruído entre 1505 e 1508. A República de Veneza empregou os melhores recursos da época para reforçar a importância econômica e diplomática do local. Nesse processo, contratou:

  • Giorgione, para a fachada voltada ao Grande Canal;

  • Tiziano Vecellio, responsável pelos afrescos laterais.

Os afrescos possuíam caráter alegórico e político, destacando a autonomia e o poder da Sereníssima em meio às tensões com o imperador Maximiliano I. Por deterioração natural e exposição climática, restam apenas fragmentos, preservados hoje na Ca’ d’Oro.

3. Função Comercial e Religiosa

No período de maior atividade, o Fondaco reunia:

  • áreas de depósito e carga,

  • escritórios comerciais,

  • dormitórios coletivos e quartos de maior prestígio,

  • setores destinados à fiscalização de produtos e tributos.

A presença germânica estabeleceu vínculos com a igreja de San Bartolomeo, onde os mercadores podiam frequentar cerimônias religiosas. Nesta igreja foi instalado, em 1506, o retábulo "Festa do Rosário" de Albrecht Dürer, obra hoje na Galerie Narodni.

4. Queda da República e Transformações (1797–século XX)

Com o fim da República de Veneza em 1797, durante as campanhas napoleônicas, os fondachi foram desativados. O Fondaco dei Tedeschi passou então a funcionar como alfândega napoleônica, deixando sua função tradicional.

Nos séculos seguintes, o imóvel foi incorporado ao Estado e utilizado pelos Correios e Telecomunicações da Itália, caracterizando uma mudança completa de função administrativa.

5. Restauro Contemporâneo e Uso Atual

Em 2008, o edifício foi adquirido pelo grupo Benetton, passando por uma intervenção arquitetônica de grande escala. O restauro respeitou as estruturas históricas e adaptou o espaço para uso contemporâneo. Atualmente, abriga um centro comercial e cultural, incluindo um terraço panorâmico com vista para o Grande Canal, mantendo a relevância artística e urbanística do edifício.

Nota Explicativa

O Fondaco dei Tedeschi foi criado pela República de Veneza para organizar, controlar e proteger o intenso comércio com os mercadores germânicos, fundamentais para a economia veneziana medieval e renascentista. Sua existência respondia à necessidade de centralizar mercadorias, garantir o pagamento de impostos e manter vigilância sobre os estrangeiros que transitavam pela cidade. Funcionando como armazém, alfândega e alojamento, o edifício tornou-se um instrumento estratégico que fortalecia o poder comercial e político de Veneza no Mediterrâneo.


sexta-feira, 24 de novembro de 2023

Guardiões Peludos: A Saga Épica dos Gatos Venezianos na Batalha Contra a Peste


 


Na encantadora cidade de Veneza, a Festa da Madonna della Salute evoca memórias de uma época sombria: a terrível epidemia de peste que assolou o norte da Itália entre 1630 e 1631. Durante esses dias aflitivos, os gatos venezianos emergiram como heróis silenciosos, desempenhando um papel crucial na proteção da cidade.

À medida que os barcos zarpavam para longas jornadas em direção ao Oriente, os gatos se tornavam tripulantes essenciais, enfrentando a ameaça dos ratos portadores da doença. A meticulosa seleção de raças, como os destemidos "soriani" da Síria, evidencia os esforços dos venezianos em salvaguardar sua cidade da iminente epidemia.

Mesmo com a propagação da peste, os gatos permaneceram, transformando-se em testemunhas afetuosas e silenciosas da história de Veneza. As vielas e praças da cidade se enchiam de gatos, símbolos de resistência em meio às adversidades. Embora o número deles tenha diminuído ao longo do tempo, os gatos modernos de Veneza são herdeiros da coragem de seus antecessores, perambulando pelas ruas estreitas e canais tranquilos, carregando consigo uma herança única e fascinante.

Na Veneza do século XVII, a cidade enfrentou um desafio sem precedentes durante a epidemia de peste bubônica entre 1630 e 1631. Em tempos sombrios, os gatos venezianos desempenharam um papel crucial na defesa da cidade, embarcando nas imbarcazioni que cruzavam os mares em direção ao Oriente. Esses gatos não eram apenas mascotes, mas guardiões essenciais contra os ratos portadores da doença.

A seleção criteriosa de raças, incluindo os destemidos "soriani" da Síria, revela a sagacidade dos venezianos na proteção de sua cidade. À medida que os barcos retornavam das longas jornadas comerciais, os gatos eram soltos pelas calle e campielli da cidade, tornando-se membros apreciados da comunidade veneziana.

Apesar de todos os esforços, a peste deixou suas marcas em Veneza, ceifando vidas e alterando irrevogavelmente o curso da história da cidade. No entanto, os gatos permaneceram, não apenas como símbolos de resistência durante tempos difíceis, mas como testemunhas peludas da resiliência de Veneza diante da adversidade.

O legado dos gatos venezianos não é apenas uma curiosidade histórica; é um testemunho vívido da ligação única entre os seres humanos e esses companheiros felinos. Mesmo agora, ao passear pelas ruas estreitas e pontes pitorescas de Veneza, é possível sentir a presença sutil, mas duradoura, dos gatos que uma vez ajudaram a cidade a enfrentar uma de suas maiores provações.

As águas serenas dos canais de Veneza refletem não apenas a arquitetura grandiosa, mas também a narrativa silenciosa dos gatos que patrulhavam os barcos e becos da cidade. Esses guardiões de quatro patas, ao desbravarem os recantos venezianos, personificam a coragem e a tenacidade que permearam a sociedade durante aquela época desafiadora. Suas pegadas, agora suaves, contam a história de uma cidade resiliente e dos laços indissolúveis entre ela e seus destemidos protetores felinos.




Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS




sábado, 15 de abril de 2023

Campo Santa Maria Maggiore e Basilica de San Giovanni e Paolo: Duas Jóias Escondidas em Veneza


O Campo Santa Maria Maggiore é uma praça em Veneza, localizada no sestiere de Cannaregio. O campo deve seu nome à Igreja de Santa Maria Maggiore, que fica na extremidade norte da praça. A Igreja de Santa Maria Maggiore foi construída no século IX como uma pequena capela dedicada à Virgem Maria. No século XII, foi expandida e reconstruída como uma igreja maior. O edifício atual data principalmente do século XV, com reformas posteriores no século XVIII. 
Além da igreja, o Campo Santa Maria Maggiore abriga vários edifícios históricos, incluindo a Scuola Grande della Misericordia, uma antiga confraria de caridade que agora é um centro cultural e de exposições, e o Palazzo Michiel del Brusà, um palácio renascentista que agora é uma galeria de arte contemporânea. O Campo Santa Maria Maggiore é uma área tranquila e charmosa de Veneza, longe das áreas mais turísticas da cidade. É um lugar popular entre os locais para relaxar, socializar e desfrutar de um café ou gelato em uma das cafeterias ou sorveterias da praça. Zanipolo é uma forma abreviada e popular de se referir à Basílica de San Giovanni e Paolo (em italiano: Basilica di San Giovanni e Paolo), uma das maiores e mais importantes igrejas de Veneza, localizada no sestiere (bairro) de Castello. A Basílica de San Giovanni e Paolo foi construída em estilo gótico entre os séculos XIV e XV e é conhecida por abrigar monumentos funerários de muitos doges (os antigos governantes de Veneza) e outras personalidades importantes da cidade. A igreja é também conhecida como Zanipolo, em referência ao nome dos santos padroeiros no dialeto veneziano onde Zani é o diminutivo de Giovanni e Polo de Paolo.
A Basílica de San Giovanni e Paolo é uma das igrejas mais importantes de Veneza, tanto do ponto de vista histórico quanto artístico. Além dos monumentos funerários, ela também abriga uma grande coleção de obras de arte, incluindo afrescos, pinturas e esculturas de alguns dos mais importantes artistas da Renascença italiana. Além dos monumentos funerários e da arte renascentista, a Basílica de San Giovanni e Paolo também possui uma grande nave central com um teto abobadado impressionante e vitrais coloridos. A fachada da igreja é imponente, com uma grande rosácea e esculturas de pedra que retratam cenas bíblicas. Ela é é um importante marco histórico de Veneza e é frequentemente visitada por turistas e peregrinos. Ela também é usada regularmente para celebrações religiosas, como missas e casamentos.
A igreja fica em uma praça espaçosa que leva o mesmo nome (Campo San Giovanni e Paolo), que é um local popular para passeios e encontros ao ar livre em Veneza. A praça abriga vários edifícios históricos, incluindo a Scuola Grande di San Marco, uma antiga confraria que agora é um centro de exposições e eventos culturais, e o Hospital dos Incuráveis, um antigo hospital que agora é um museu. A Basílica de San Giovanni e Paolo, ou Zanipolo, como é conhecida popularmente em Veneza, é famosa por abrigar os túmulos de muitos dos doges de Veneza, que foram os governantes da cidade durante séculos. Alguns dos doges que estão sepultados na basílica são:

Jacopo Tiepolo (século XIII)
Marco Cornaro (século XIV)
Andrea Vendramin (século XVI)
Leonardo Loredan (século XVI)
Alvise Mocenigo II (século XVIII)
Pasquale Cicogna (século XVIII)

Além dos túmulos dos doges, a Basílica de San Giovanni e Paolo também abriga os túmulos de outras personalidades importantes de Veneza, incluindo artistas, cardeais e líderes militares. Entre eles estão o famoso "condottiere" das tropas venezianas, capitão de guerra Bartolomeo Colleoni, o comandante militar Vittore Pisani e o cardeal Pietro Bembo.


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS