sábado, 8 de junho de 2024

A Jornada de Matteo e Rosetta: de San Benedetto Po até Taubaté


 
A Jornada de Matteo e Rosetta: de San Benedetto Po até Taubaté


A Partida de San Benedetto Po

Matteo Rossi e sua esposa Rosetta abraçavam-se enquanto caminhavam pelas ruas estreitas de San Benedetto Po, uma pequena cidade na zona rural da província de Mantova. Era uma manhã fria de janeiro e o vento soprava pelos becos, trazendo consigo o cheiro familiar do rio Po. Com eles, seguravam pelas mãos seus dois filhos, Daniele, de quatro anos, e a pequena Rosina, de dois anos e meio. Estavam indo em direção a prefeitura local para ultimar o necessário passaporte para toda a família emigrar. A decisão de deixar sua amada cidade não foi fácil, mas a pobreza e a falta de trabalho os levaram a buscar uma vida melhor longe, no Brasil.
No pequeno quintal da casa da família, os parentes se reuniram para se despedir de Matteo, Rosetta e as crianças. Tios, primos, todos com rostos marcados pelo cansaço e preocupação. Matteo abraçou seu pai Antonio e sua mãe Maria, sabendo que talvez nunca mais os veria. “Prometo que escreverei assim que possível”, disse, tentando esconder as lágrimas que queimavam seus olhos. Com a benção dos pais deixaram para trás a família, os amigos e a pequena vila do interior onde moravam.
A estação de Mantova estava lotada de gente como eles, com malas de papelão amarradas com cordas e sacos de pano cheios do que podiam levar. Subiram no trem que os levaria a Gênova, onde embarcariam no navio para o Brasil. Durante a viagem de trem, as crianças adormeceram nos joelhos dos pais, enquanto Matteo e Rosetta olhavam pela janela, observando as paisagens familiares desaparecerem lentamente.

A Viagem de Navio

Em Gênova, o porto era um mar de humanidade em movimento. Famílias inteiras, grupos de jovens, idosos e crianças aglomeravam-se ao redor do cais, aguardando para embarcar. O navio a vapor que os levaria ao Brasil era uma grande embarcação de ferro, cujo nome, “Esperança”, parecia prometer um futuro melhor.
A viagem pelo mar foi tudo, menos confortável. O navio estava superlotado e as condições a bordo eram precárias. Os beliches eram apertados e os passageiros tinham que compartilhar o espaço com outras famílias. O ar estava saturado de odores desagradáveis e a comida era escassa. A travessia do Atlântico durou semanas, com o mar frequentemente se tornando turbulento.
Uma noite, uma tempestade atingiu o navio com violência. O céu estava coberto de nuvens negras e o vento uivava através das estruturas de metal do navio, fazendo a madeira e os cabos rangerem. As ondas gigantescas batiam contra o casco do navio, levantando-o e depois jogando-o nas profundezas do oceano como um brinquedo.
Dentro do porão, o medo se espalhou rapidamente entre os passageiros. As mães seguravam seus filhos, tentando protegê-los do movimento incessante do navio. Matteo abraçou Rosetta e as crianças, sentindo o coração bater furiosamente no peito. Cada vez que o navio se inclinava perigosamente, parecia que ele poderia virar a qualquer momento. As crianças choravam assustadas e as orações e os gritos dos passageiros enchiam o ar.
“Luz da minha vida, proteja nossos pequenos”, sussurrou Rosetta, sua voz trêmula de terror. Matteo não conseguia encontrar palavras de conforto; só podia segurar sua família apertado, esperando que a tempestade passasse logo. Cada minuto parecia uma eternidade enquanto o navio lutava contra as forças da natureza.
O capitão e a tripulação faziam o possível para manter o navio no curso, mas a tempestade era implacável. Relâmpagos rasgavam o céu, iluminando brevemente os rostos pálidos e assustados dos passageiros. A chuva caía em torrentes, filtrando-se por todas as frestas e criando poças no chão do porão.
Após horas que pareceram intermináveis, a tempestade finalmente começou a diminuir. As ondas, embora ainda altas, perderam um pouco da sua fúria. O navio parou de ser jogado de um lado para o outro e seu movimento tornou-se mais estável. Lentamente, os passageiros começaram a relaxar, embora o terror daquela noite permanecesse gravado em seus corações.
Matteo e Rosetta, exaustos, mas aliviados, desmoronaram um ao lado do outro, tentando acalmar as crianças. “Conseguimos”, disse Matteo com um suspiro de alívio. “Estamos vivos.” Rosetta assentiu, os olhos ainda cheios de lágrimas, mas com uma centelha de esperança. Eles haviam superado a tempestade e, juntos, podiam enfrentar qualquer coisa que os esperasse em seu novo mundo.

A Chegada no Brasil

Finalmente, após dias que pareceram intermináveis, a costa brasileira apareceu no horizonte. O navio atracou na Ilha das Flores, no porto do Rio de Janeiro. Matteo e Rosetta desceram do navio, segurando firmemente seus filhos, enquanto um funcionário da alfândega brasileira verificava seus documentos.
Foram conduzidos à Hospedaria dos Imigrantes, um grande edifício onde os imigrantes encontravam abrigo temporário. As condições eram espartanas, mas pela primeira vez em semanas, podiam dormir em camas de verdade e comer uma refeição quente. Após alguns dias de espera, foram embarcados em outro navio, que os levaria ao porto de Santos.

Taubaté e a Fazenda Girassol

Em Santos, foram recebidos pelo capataz das fazendas que os levariam às plantações de café. Matteo e Rosetta, junto com outros membros da família, foram designados para a Fazenda Girassol, situada no fértil vale do Paraíba, no município de Taubaté. A viagem de trem através de São Paulo foi longa e cansativa, mas a vista dos vastos campos verdes que se estendiam infinitamente lhes dava esperança.
Na pequena estação de Taubaté, carruagens enviadas pelos proprietários das fazendas os aguardavam. Durante o trajeto até sua nova casa, Matteo observava a paisagem, tentando imaginar o futuro que os esperava. A Fazenda Girassol era uma propriedade vasta, com quase um milhão de pés de café. Para acomodar os imigrantes, havia uma série de pequenas casas de madeira, a maioria antigas habitações que anteriormente eram usadas pelos escravos.
Sua nova vida começou ao amanhecer do dia seguinte. O trabalho nos campos de café era extenuante e começava às seis da manhã, continuando até o pôr do sol. Matteo e Rosetta trabalhavam lado a lado, sempre de olho nas crianças que descansavam à sombra dos cafeeiros. Os dias eram longos e duros, e o contrato de trabalho era rígido e severo.

A Esperança de um Futuro Melhor

Após quatro anos de trabalho intenso e economizando cada centavo, Matteo e Rosetta finalmente conseguiram comprar um pequeno terreno nos arredores de Taubaté. Estavam orgulhosos da aquisição: agora seriam proprietários, um sonho cultivado por várias gerações de antepassados. Durante o período em que viveram na fazenda, a família havia crescido com o nascimento de mais dois filhos, que chamaram de Antonio e Maria, em homenagem aos pais de Matteo.
Deixar a fazenda não foi fácil. Com o término do contrato de trabalho de quatro anos e depois de pagar todas as suas dívidas, foram livres para começar uma nova vida. Seu novo terreno representava uma nova esperança, um futuro que podiam construir com suas próprias mãos. Matteo encontrou trabalho em uma das novas fábricas que estavam surgindo na cidade, enquanto Rosetta cuidava da casa e das crianças.
A vida na cidade era diferente, mas trazia consigo novas oportunidades. As crianças começaram a frequentar a escola e aprenderam o português, integrando-se na nova comunidade. Matteo e Rosetta nunca esqueceram suas raízes italianas, mas abraçaram com gratidão a nova vida que haviam construído no Brasil.
Assim, com determinação e sacrifício, Matteo e Rosetta conseguiram transformar um sonho em realidade, construindo uma nova vida para eles e seus filhos, em uma terra distante, mas cheia de promessas.

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