sábado, 29 de outubro de 2022

Os Emigrantes - poema de Edmondo De Amicis

 



Os Emigrantes 

de Edmondo De Amicis


Com olhos apagados, com as bochechas encovadas, 
Pálidos, com uma postura dolente e grave, 
Amparando as mulheres abatidas e desvanecidas, 
Sobem no navio
Como se sobe no palco da morte.

E no peito trêmulo cada um deles carrega 
Tudo o que possui na terra,
Alguns um mísero pacote, outros uma 
Criança definhada, que agarra firme
No pescoço, aterrorizado pelas águas gigantescas.

Sobem numa longa fila, humildes e calados, 
E nos rostos parecem tristes e esmorecidos 
Ainda fresca a dor desconsolada
Das últimas despedidas
Feitas às montanhas que não voltarão a ver.

Sobem, e os olhos agitados de cada um deles 
Detêm-se sobre a rica e elegante Gênova, 
Atentos em profundo espanto
Como numa festa.

Um moribundo fixaria o olhar. 
Amontoados ali como jumentos
Na gélida proa castigada pelos ventos, 
Migram para terras inóspitas e distantes; 
Dilacerados e macilentos, 
Sangram os mares em busca de pão.

Traídos por um negociante mentiroso, 

Partem; objeto de escárnio do estrangeiro, 

Animais de carga, desprezados hilotas,

Carne de cemitério,
Vão viver de angústia em países desconhecidos.

Partem; ignaros de tudo, onde os leva 
A fome, em terras onde outros morreram; 
Como o mendigo cego ou vagabundo 
Erra de porta em porta,
Eles vão de mundo em mundo.

Partem com os filhos como um grande tesouro 
Escondendo no peito uma moeda de ouro, 
Fruto secreto de privações infinitas,
E as mulheres com eles, 
Atordoadas mártires chorosas.

Mesmo na angústia daquele último momento 
O solo que os rejeita ainda amam, 
Ainda amam o maldito solo
Que devora seus filhos
Onde labutam milhares e vive apenas um.

E trazem no coração naqueles instantes solenes 
As lindas colinas de alegres águas borbulhantes, 
E as igrejinhas cândidas, e os pacatos  
Lagos rodeados de plantas,
E os vilarejos tranquilos onde nasceram!

E cada um deles talvez soltando um grito, 
Se pudesse, voltaria para a terra firme; 
Voltaria para morrer nas montanhas 
Nativas, no triste ninho
Onde choram os seus velhos moribundos.

Adeus, pobres velhos! Em menos de um ano 

Corroídos pela miséria e pelo sofrimento

Talvez morrereis lá sem pesar
E os filhos não saberão,
E ireis ignaros e sós para o campo santo.

Pobres velhos, adeus! 
Talvez a esta hora 
Das colinas emudecidas que o pôr do sol doura 
Ergueis a mão para benzer os filhos... 
Benzei-los ainda:
Todos vão sofrer, muitos morrerão.
Eis que o navio majestoso e lento 
Zarpa, Gênova se mexe, sopra o vento,
No lido vazio um lenço é estendido,
E o grupo desesperado
Solta um grito desolado para o céu.

Há quem no lido erga os braços,
Quem pouse a cabeça sobre o seu embrulho, 
Quem vertendo uma lágrima amarga dos olhos 
Abrace a sua companheira,
Quem suplicando a Deus se ajoelhe.

Adeus, irmãos! Adeus, multidão aflita!
Que o céu tenha piedade de vós e o mar vos tenha clemência, Que o sol alegre a mísera viagem;
Adeus, pobre gente,
Dai-vos paz e criem coragem.

Apertem o nó das amizades fraternas, 
Protejam do frio as criancinhas, 
Dividam os trapos, o dinheiro, o pão, 
Desafiais unidos e juntos
A fúria das desgraças humanas.

E que Deus vos faça cruzar novamente aqueles mares, 

E voltar aos vilarejos humildes e queridos,

E ainda reencontrar as casas desabitadas 
E nas soleiras
Os vossos velhos de braços abertos.
E ainda reencontrar as casas desabitadas 
E nas soleiras

Os vossos velhos de braços abertos.








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