Uma vez tomada a difícil decisão de emigrar e após terem dado os nomes ao agente recrutador, representante da companhia que promovia a viagem, a primeira providência era conseguir o devido passaporte, necessário para toda a família. Para tanto necessitava de uma declaração obtida junto a prefeitura da sua cidade. Também tinham que providenciar a obrigatória vacina.
Eram meses de preparativos, que começava com a venda de tudo que não podiam levar consigo. As roupas, objetos de uso pessoal, instrumentos musicais e ferramentas, eram acondicionadas em grandes caixas de madeira, os baús, nas arcas ou em sacos.
Faziam encontros com os que não iriam viajar, oportunidade que aproveitavam para se despedir dos amigos e familiares, não esquecendo também da obrigatória e sentimental última visita ao cemitério da localidade, para dar o ultimo adeus aos parentes e amigos já falecidos.
Visitavam também o pároco da localidade, do qual pediam a benção e a sua interseção para afrontarem a longa, temida e desconhecida travessia.
No dia marcado para iniciarem a viagem, com destino ao porto de Gênova, emocionados despediam-se mais uma vez dos familiares que ficavam e, ainda bem cedo, partiam banhados em lágrimas. Davam uma derradeira e demorada olhada para trás e seguiam confiantes no seu destino. Chegavam a estação ferroviária mais próxima e junto com tantos outros que lá se encontravam, seguiam para o porto de Gênova.
Durante o trajeto, em cada parada do trem, em estações do Vêneto ou de outras províncias da Lombardia, passagem até o porto, a mesma cena se repetia: dezenas de homens, mulheres e crianças, subiam carregados de bagagens, colocadas em malas de papelão, sacos ou baús de madeira.
Muitas vezes eram vilas inteiras que partiam, tendo o pároco local à frente do grupo. Às vezes também partiam de noite, no escuro e em silencio, como estivessem em tempo de guerra e o inimigo estivesse na espera. Muitas vezes centenas de pessoas se movimentavam juntas, lentamente, ao som dos sinos, como acontecia nas grandes festas. Na frente do grupo puxando a marcha estava um grande crucifixo ou o estandarte de um santo que os emigrantes pretendiam levar consigo na nova pátria.
Para a grande maioria desses emigrantes esta viagem até a estação ferroviária já se constituía na distância mais longa que até então tinham se afastado dos seus povoados. A viagem de trem também era desconhecida para a maioria deles e isso gerava ainda mais medo e apreensão.
O destino de todos eles era o Porto de Gênova e quando ali desembarcavam, pela primeira vez, a grande maioria vinha a conhecer o mar.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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