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segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O Papel da Mulher Italiana Imigrante

 




Nas famílias italianas, sobretudo na época da imigração, a autoridade do pai ou do marido eram incontestes, o homem era a autoridade maior de uma família. Era ele o chefe da família e as suas decisões eram a palavra final.

Por outro lado, a mulher era considerada apenas um braço a mais nos serviços da roça e dos afazeres da casa. A mulher não tinha direito de decidir nada. Precisava ser bastante forte e robusta e a sua missão maior se resumia em gerar muitos filhos saudáveis para o trabalho na roça. Fazia todos os serviços da casa, cuidava da educação dos filhos e ainda ajudava o marido em quase todas as atividades da roça. 

Era sua a responsabilidade de cozinhar as refeições, de confeccionar e remendar as roupas de todos os membros da família, de cultivar a horta, ordenhar as vacas e cuidar da criação. Fazia tudo isso, levantando muito cedo, primeiro de todos e indo por último para a cama, depois de servir o jantar para a família, remendar as roupas e tudo isso sem poder reclamar.

Os imigrantes italianos ao chegarem no Brasil,  traziam consigo tradições e práticas familiares já consolidadas, em uso há centenas de anos, e procuraram recriar aqui o modelo de lar vivido nas suas aldeias de origem.

Durante muito tempo, ainda antes do início da colonização, a mulher italiana muito raramente tinha a liberdade de escolher com quem casar e de estudar.

Os casamentos eram quase sempre acordados entre as famílias, nas condições impostas pelo pai da jovem, a qual, geralmente, acabava indo morar com a família do marido. A presença da sogra, que na verdade era a verdadeira dona da casa, criava conflitos e muitas vezes até dificultava o relacionamento do novo casal.

Por falta de conhecimentos e da presença do médico, um luxo quase inacessível para a grande maioria, a mortalidade de mulheres no parto era muito comum o que se pode aquilatar  pelo frequente casamento de mulheres ainda jovens com homens mais velhos, com filhos do primeiro casamento.





As mulheres não tinham direito a herança, recebiam dos pais um enxoval, o qual, quando os pais podiam, quase sempre incluía uma vaca e, naquelas famílias mais abastadas, uma máquina de costura. Nas colônias italianas do Rio Grande do Sul esse enxoval era confeccionado pela própria jovem, começando desde menina, com recursos economizados por elas provenientes da renda obtida por qualquer trabalho extra ou da venda de ovos, cujas galinhas ela mesma criava.

Elas não opinavam em assuntos de negócios, que eram sempre resolvidos pelos homens. Como quase nunca podiam estudar, mesmo quando ainda na Itália, a maioria das mulheres que chegavam nas colônias e nas fazendas eram na grande maioria analfabetas. 

As mulheres italianas imigrantes que vieram para o Brasil, viveram duas realidades bem diferentes. As que se fixaram no sul do Brasil puderam desde a chegada contribuir com o marido para a construção da casa, no início uma pequena choupana de pau a pique, que aos poucos, com o passar dos anos, foi sendo reformada e ampliada.

Aquelas mulheres que vieram para trabalhar nas grandes fazendas de café de São Paulo e Espírito Santo, precisaram se adaptar a uma outra realidade de vida. Nesse caso precisavam ser ativas e espertas para usufruir o que os patrões ofereciam, economizando com o seu trabalho o dinheiro necessário para que os seus maridos pudessem comprar um lote de terra, abrir um pequeno negócio próprio, em alguma cidade vizinha ou mesmo comprar as passagens de retorno à Itália. 

Nessas fazendas as famílias de imigrantes italianos ocupavam as modestas moradias ou senzalas antes usadas pelos escravos, agora já libertos e que não mais residiam nas fazendas. A vida era muito difícil. A jornada de trabalho extenuante, que ocupava todos os membros da família, se estendia desde o raiar ao por do sol.

Alguns fazendeiros e capatazes, ainda com a mentalidade escravocrata, acostumados com a mulheres negras das quais se aproveitavam ao bel prazer por serem de sua propriedade, tentavam assediar as mulheres italianas e caso fossem contrariados, perseguiam toda a família. Vários foram os relatos de casos semelhantes em muitos locais do interior de São Paulo e Espírito Santo.

As mulheres italianas imigrantes, tanto nas fazendas como nas colônias do sul do país, sempre tiveram uma maior carga de trabalho e sofreram mais que os homens. Contribuíram com a sua presença, e com o seu trabalho, para a fixação dos homens nas fazendas e nas colônias, educando os filhos e concorrendo para o progresso da família.  O sucesso da imigração italiana no Brasil se deve à elas.


Dr. Luiz Carlos Piazzetta
Erechim RS