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sexta-feira, 11 de março de 2022

Morte a Bordo O Emocionante Relato de uma Mãe em um Navio de Emigrantes Italianos






Em uma reportagem publicada pelo jornal italiano Corriere della Sera podemos avaliar o sofrimento de uma mãe emigrante ao perder a sua filha durante a travessia.

"Durante a viagem no lento vapor a minha filha começou a ter febre. Era uma febre muito forte, cada vez mais alta. Eu ficava com ela dia e noite, apavorada não sabia o que fazer. Uma noite a ouvi gemer, estava suando frio, tremendo; tentei aquecê-la e segurá-la perto de mim, mas de repente ela parou de tremer. Estava morta. Morta! Talvez porque não haviam remédios, talvez porque não havia nenhum atendimento médico à bordo; não sei. Talvez ela tivesse contraído uma febre mortal”.
"Arrancaram ela dos meus braços, a enfaixaram bem apertado da cabeça aos pés e amarraram uma grande pedra ao pescoço; durante a noite, às duas horas da madrugada, com aquelas ondas tão negras, a jogaram ao mar. Eu gritava, gritava, não queria me afastar dela, queria me afogar com minha filhinha; alguns braços me seguraram, homens eu creio. Eu não queria que minha filhinha tão pequenina acabasse naquele mar tão frio, tão escuro, certamente seria devorada pelos peixes. Eu queria ir com ela, protegê-la de alguma forma, defendê-la, para que eles não a devorassem. Eu não queria deixá-la sozinha, pobre criança, mas eles me seguraram enquanto a jogavam ao mar. Aquele baque na água, nunca mais consegui esquecer”.

Durante o grande êxodo italiano, período da grande emigração italiana compreendido entre o final do século XIX até a eclosão da I Grande Guerra Mundial, milhões de italianos tiveram de abandonar os seus lares para enfrentar o desconhecido em direção ao continente americano na esperança de uma vida melhor.

Para transportar esses milhões de desesperados emigrantes foram então necessárias milhares de travessias do oceano Atlantico em navios. Nos primeiros anos elas eram feitas em velhos barcos, alguns deles inclusive à vela, muito lentos e sem qualquer conforto à bordo, para enfrentarem muitas vezes mais de um mês de travessia.

Devido as precárias acomodações disponíveis à bordo, os emigrantes eram sujeitos a uma vida promiscua nos porões dessas embarcações. A falta de ventilação adequada, a deficiente higiene pessoal dos passageiros e dos locais onde dormiam, a falta de água e de instalações sanitárias adequadas para os dejectos dos imigrantes, o excesso de passageiros, às vezes muito além da cota permitida pelas autoridades portuárias, a péssima qualidade dos alimentos fornecidos, em muitos casos até a quantidade ficava abaixo do ideal, minavam a resistência física dos embarcados que ficavam assim mais sujeitos as doenças infecciosas.

O exame médico feito ao embarcarem, quando o faziam, era muito superficial e doenças transmissíveis podiam estar circulando entre os passageiros, sem serem detectadas. Quando então, em condições favoráveis, ocorria uma epidemia à bordo, que era um acontecimento muito sério pois, em poucos dias, podia matar dezenas e dezenas de passageiros.

Algumas doenças hoje controladas eram muito frequentes naquele período, algumas vezes podiam estar ocorrendo graves epidemias em cidades européias ou americanas. 

Entre essas doenças com potencial para eclodir fatais epidemias à bordo temos a difteria, que atingia especialmente as crianças, podendo matá-las em poucos dias. Ela causava febre muito alta e obstrução das vias aéreas superiores, matando por sufocamento o pequeno doente. A transmissão é por via aerea, através de gotículas de saliva ou de catarro, expulsos durante a tosse. O cólera também era uma doença muito grave, especialmente, em um ambiente confinado como de um navio com higiene precária. É uma infecção que além de febre muito alta, ataca as vias digestivas provocando vômitos e diarréia profusa. Sem tratamento pode levar à morte por desidratação em poucos dias. Atinge crianças e adultos, não respeitando a idade.

As intoxicações alimentares, as infecções respiratórias, o sarampo, a coqueluche e a tuberculose também ceifaram muitas vidas de emigrantes à bordo.