No início da grande emigração italiana, nas montanhas do interior de Cesiomaggiore, na província de Belluno, três irmãos nascidos em uma família numerosa, muito humilde, sonhavam com uma vida melhor. Giovanni, o mais velho, tinha 23 anos, Pietro tinha 21 e Settimo apenas 19. Eles viviam em uma região montanhosa onde a economia de subsistência era a norma, e a pobreza era uma companhia constante. As safras frequentemente eram perdidas para secas implacáveis ou aluviões que devastavam tudo em seu caminho. Após a queda de Veneza tudo somente piorou para os habitantes da região, os impostos e as taxas criadas pelos diversos governos que se seguiram, tornavam a vida de todos ainda mais difícil, especialmente no campo A esperança de uma vida melhor e a real oportunidade de adquirir terras próprias no Brasil atraíram os três irmãos para a aventura da emigração.
Em 1878, eles embarcaram em uma jornada que mudaria suas vidas para sempre. A travessia do oceano era uma experiência desconhecida e assustadora. A bordo do navio, enfrentaram tempestades ferozes que fizeram o mar parecer um monstro enfurecido. Muitos passageiros adoeceram durante a viagem, e a incerteza sobre o que os esperava do outro lado do Atlântico pairava no ar.
Finalmente, após semanas de travessia, o navio finalmente atracou no porto do Rio de Janeiro, mas, para eles ainda não era o fim da viagem. Dois dias depois embarcaram em outro navio, de menor calado, que os levou até o Porto de Rio Grande na província do Rio Grande do Sul, Brasil. Nesse local ficaram hospedados por algumas semanas, em grandes barracões comunitários, esperando pelas lanchas a vapor que atravessando a Lagoa dos Patos os levaria rio acima até um porto perto da colônia Dona Isabel. Os irmãos desembarcaram da lancha com esperanças renovadas, ansiosos para começar uma nova vida. Do porto ainda precisavam caminhar por algumas horas até finalmente chegarem na seda da colônia. Com as economias que trouxeram da Itália, cada um deles comprou um pedaço de terra do governo brasileiro na recém-inaugurada colônia Dona Isabel. Ao todo, eles adquiriram uma área imensa de 150 hectares.
A terra que agora chamavam de lar era um paraíso selvagem e exuberante. Grandes árvores e pinheiros se erguiam majestosamente, criando uma paisagem deslumbrante. Um rio serpenteava pela propriedade, fornecendo água fresca e oportunidades de pesca. Os irmãos começaram a construir suas casas rústicas e a preparar o solo para o cultivo.
A adaptação ao novo país e às suas peculiaridades não foi fácil. A língua não era um grande desafio, pois estavam em local onde todos eram imigrantes italianos. A língua ofial do país, o português eles foram aprendendo aos poucos com o passar do tempo. Aos poucos, estabeleceram relações com outros imigrantes italianos na região e com os brasileiros locais, criando uma comunidade unida. O talian era a língua recém criada que estava se firmando naquela e em outras colônias italianos do Rio Grande do Sul.
Giovanni, o mais velho, se destacou como agricultor. Ele plantou campos vastos de trigo, milho e feijão, aproveitando o solo fértil da região. Pietro, habilidoso artesão, começou a trabalhar como carpinteiro e construiu casas não apenas para sua família, mas também para outros colonos, mais tarde abrindo uma grande carpintaria na sede da colônia que empregava vários outros imigrantes. Settimo, o mais jovem, dedicou-se à pecuária e a criação de suínos que logo se tornou uma parte importante da economia local.
À medida que os anos passavam, a colônia Dona Isabel florescia. A terra generosa e o trabalho árduo dos três irmãos transformaram sua propriedade em uma das mais prósperas da região. Eles não apenas conseguiram sobreviver, mas também prosperar. Os três se casaram com moças de famílias italianas da própria colônia e tiveram numerosos filhos.
Com o tempo, as lembranças da Itália ficaram mais distantes, substituídas pelas conquistas e desafios do Brasil. Ainda assim, em suas conversas à noite, junto à lareira acesa, eles compartilhavam histórias de sua terra natal, mantendo viva a memória da jornada que os trouxera para o outro lado do mundo.
À medida que envelheciam, Giovanni, Pietro e Settimo continuaram a ser pilares de sua comunidade. Eles viram seus filhos e netos crescerem na terra que escolheram chamar de lar, mantendo viva a tradição e a cultura italiana.
A história dos três irmãos italianos que deixaram as montanhas de Cesiomaggiore para buscar uma vida melhor no Brasil é uma história de coragem, determinação e perseverança. Eles enfrentaram desafios inimagináveis, mas através de seu trabalho árduo e espírito inabalável, transformaram um pedaço de terra selvagem em um lar próspero e acolhedor. Suas vidas são um testemunho da capacidade humana de superar adversidades e forjar um futuro melhor, mesmo diante das incertezas de uma jornada rumo ao desconhecido.