Mostrando postagens com marcador Cadore. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Cadore. Mostrar todas as postagens

quarta-feira, 10 de setembro de 2025

O Caminho das Estações: A Vida de uma Cròmera


 

O Caminho das Estações: A Vida de uma Cròmera

Maria Santina nasceu em 1835, em uma encantadora localidade de Valle di Cadore, um dos recantos mais pitorescos da província de Beluno, no norte da Itália. O vale, aninhado sob a sombra das majestosas Dolomitas, parecia um quadro vivo, com montanhas cujos cumes de tons avermelhados no fim da tarde, se fundiam ao céu e cujos bosques mudavam de cor conforme o ritmo das estações. Era uma terra de beleza austera, mas também de desafios implacáveis. Ali, o som cristalino dos riachos que cortavam os prados misturava-se ao canto dos pássaros, enquanto o cheiro da terra revolvida trazia a promessa — nem sempre cumprida — de fartura.

Filha de camponeses, Maria cresceu em uma rotina onde cada amanhecer trazia a dura realidade do trabalho. Suas mãos pequenas logo se habituaram ao toque áspero do solo e às ferramentas de madeira que, embora simples, eram essenciais para a sobrevivência. A incerteza das colheitas, ameaçadas por chuvas repentinas com avalanches ou secas prolongadas, moldavam o espírito resiliente dos habitantes do vale. No inverno, quando a neve cobria os campos e as montanhas assumiam uma imponência quase inacessível, a aldeia tornava-se um reduto de resistência, com famílias unidas em torno do fogo, tentando driblar o frio intenso que parecia eterno. Maria, mesmo jovem, absorvia esse espírito de luta e adaptação, aprendendo que a simplicidade da vida exigia tanto força quanto sabedoria.

Naquela época, toda a região do Cadore fazia parte do vasto Império Austro-Húngaro, uma realidade que influenciava profundamente a vida dos cadorinos. Sob o domínio imperial, as terras eram administradas por uma burocracia distante, que pouco se importava com as dificuldades enfrentadas pelas comunidades montanhesas. A identidade italiana dos habitantes do vale convivia com as imposições culturais e políticas do império, gerando um sentimento de pertencimento dividido.

As decisões tomadas em Viena pareciam tão distantes quanto as montanhas que cercavam o vale, e os camponeses precisavam lutar com determinação para preservar suas tradições, idioma e modo de vida. Mesmo assim, a dureza das condições econômicas e a falta de oportunidades ultrapassavam qualquer questão de lealdade política. A necessidade de sobreviver obrigava famílias inteiras a buscar alternativas fora da terra natal, muitas vezes desafiando as fronteiras do império em busca de sustento.

Esse cenário moldou o espírito resiliente de Maria Santina e de tantos outros que, embora submetidos às restrições impostas pelo domínio austro-húngaro, mantinham viva a chama de suas raízes italianas e a esperança de um futuro melhor.

A vida no Valle di Cadore era uma constante luta contra as adversidades. Muitos cadorinos enfrentavam a dura realidade de que o trabalho no campo, por mais árduo que fosse, raramente era suficiente para garantir o sustento de suas famílias. As terras, ainda que férteis em algumas partes, eram limitadas e nem sempre generosas. As colheitas dependiam do humor instável das estações, e os invernos rigorosos frequentemente deixavam os celeiros vazios, obrigando os moradores a buscar alternativas para sobreviver.

Os homens cadorinos, em sua maioria, desde o início do século XIX já migravam sazonalmente, no período de menor atividade nas suas propriedades, para trabalhar como vendedores ambulantes, operários nas pedreiras, carpinteiros em florestas distantes ou trabalhadores braçais e prestadores de serviços em vilarejos vizinhos de países confinantes. Durante esse êxodo temporário, que durava alguns meses, porém, deixava as mulheres com a responsabilidade de cuidar da terra, da casa e dos filhos. Ainda assim, muitas delas não se limitavam ao lar. Corajosas e resilientes, as mulheres cadorinas encontravam na emigração sazonal com a venda ambulante uma forma de sustentar suas famílias e preservar a dignidade diante das dificuldades. Maria, observando essas mulheres, inspirou-se na determinação delas em ajudar na manutenção da família e decidiu seguir o mesmo caminho. Tornou-se uma cròmera, uma vendedora ambulante que carregava às costas não apenas mercadorias, mas também a alma de sua terra natal. Ela começou a cruzar as trilhas sinuosas das montanhas, atravessando fronteiras para levar os tesouros do Cadore a outras paragens. Lenços delicadamente bordados, ervas aromáticas, espelhos, vidros, pequenas esculturas de madeira e outros produtos que refletiam o talento artesanal de sua aldeia tornaram-se os instrumentos de seu trabalho. Essas vendedoras também comercializavam estampas com motivos variados, inclusive calendários e imagens de santos católicos, coloridas em cromo, provenientes de uma famosa estamparia do Veneto. Para Maria, cada peça vendida era mais do que uma simples transação; era uma maneira de compartilhar a história e a essência do povo cadorino, enquanto construía, passo a passo, um futuro melhor para os seus.

A estrada era longa e solitária, uma travessia que colocava à prova tanto o corpo quanto o espírito. Maria caminhava por dias inteiros, com os pés protegidos apenas por sapatos de couro que, às vezes, não resistiam bem às pedras afiadas das estradas montanhosas. Enfrentava chuvas repentinas que encharcavam suas roupas e tornavam os caminhos cheios de lama, e o frio cortante da primavera, que parecia entrar até nos ossos. Mas ela seguia em frente, guiada pela determinação que a vida entre as Dolomitas lhe ensinara desde pequena: a sobrevivência era uma luta, mas a luta valia a pena.

Quando cruzava a fronteira da Áustria e chegava ao primeiro vilarejo, sentia o coração bater mais forte. As paisagens conhecidas davam lugar a algo diferente: casas robustas de pedra com telhados inclinados, ruas bem arrumadas que pareciam feitas para resistir ao rigor do inverno e pessoas de rostos reservados, mas curiosas. Era uma terra nova, mas Maria não se intimidava.

A cada porta que batia, oferecia não só suas mercadorias, mas também um sorriso caloroso que parecia dissipar toda a desconfiança. Com a voz firme, falava de sua aldeia, descrevendo as montanhas, os riachos e a vida simples, mas cheia de significado. Apresentava os lençóis como se fossem pedaços da paisagem que deixara para trás, os artefatos de madeira como representações do trabalho habilidoso de seu povo e as ervas aromáticas como uma promessa de saúde e bem-estar. Cada venda não era apenas uma transação comercial; era uma troca de cultura, um momento em que Maria compartilhava um pedaço de sua história e, em troca, aprendia sobre o mundo além das fronteiras do Vale de Cadore.

As noites talvez fossem a parte mais difícil. Depois de um dia inteiro de caminhada e negociações, ela procurava abrigo onde podia: estábulos, casas de famílias generosas ou, às vezes, sob o céu estrelado, envolta em um grosso cobertor para espantar o frio. Mesmo nos momentos de solidão, sentia o calor de sua missão. Para ela, cada passo era um avanço em direção a um futuro mais promissor, e cada encontro com austríacos e suíços era uma oportunidade de mostrar o valor de sua terra e de seu trabalho.

Maria logo descobriu que a vida de uma cròmera exigia mais do que força física. Cada dia era um teste de resistência e astúcia. A habilidade para negociar era essencial; ela precisava avaliar rapidamente o interesse de seus clientes e ajustar suas estratégias. Às vezes, isso significava oferecer um desconto sutil, contar uma história sobre as origens dos produtos ou simplesmente ouvir com paciência as reclamações daqueles que não tinham intenção de comprar. A paciência era sua maior aliada, especialmente diante das recusas. Nem todos abriam suas portas para uma estrangeira, e os olhares desconfiados frequentemente a seguiam pelas ruas. Mas Maria carregava consigo um espírito resiliente que parecia crescer diante das adversidades.

O que a sustentava era a ideia de que cada moeda obtida representava mais do que um ganho material; era um passo rumo a um futuro melhor para sua família. Cada centavo acumulado era uma promessa de que Angelina, sua filha, teria uma vida mais confortável, e que Pietro, seu marido, poderia cultivar suas terras sem as preocupações incessantes da subsistência. Era essa visão que a fazia continuar, mesmo quando seus pés doíam de tanto caminhar ou quando o peso da sacola parecia insuportável.

Ao longo dos anos, Maria retornava sempre na mesma época, tornando-se uma presença familiar e querida nos vilarejos que visitava. Seu sotaque italiano, marcado pela cadência suave dos cadorinos, era cativante, e sua voz melodiosa muitas vezes transformava uma simples interação comercial em um momento de conexão humana. As crianças a seguiam pelas ruas como se ela fosse uma espécie de fada viajante, fascinadas pelos pequenos brinquedos de madeira que ela habilmente exibia. Para os adultos, Maria era uma mulher forte, determinada e bondosa. Os agricultores a admiravam por sua coragem e trabalho árduo, enquanto as donas de casa viam nela uma amiga com quem podiam compartilhar confidências e risos.

Foi no cantão de Schaffhausen, próximo a fronteira com a Alemanha, com suas colinas suaves e vinhedos impecavelmente alinhados, que Maria encontrou uma espécie de segunda casa. Lá, ela se hospedava com Maddalena, uma prima que com o casamento havia emigrado anos antes e que a acolheu com os braços abertos. As duas tinham a mesma idade e se correspondiam com frequência. Durante as noites frias, as duas mulheres, unidas por suas histórias de resistência, sentavam-se perto do fogo e compartilhavam memórias da juventude. Maddalena contava sobre as dificuldades dos primeiros anos na Suíça, enquanto Maria falava das saudades da família e das paisagens de Valle di Cadore. Entre risos e lágrimas, elas encontravam consolo uma na outra.

Depois dessas noites de conversa, Maria organizava sua caixa com cuidado quase cerimonial, dobrando os lenços bordados e verificando se os artefatos de madeira estavam intactos. Cada peça representava horas de trabalho e esperança. Apesar da rotina árdua, Maria nunca deixava de escrever cartas para Pietro, relatando seus progressos e perguntando sobre a evolução da plantação, e para Angelina, enchendo as páginas de ternura e promessas de que voltaria com histórias para contar e presentes para dividir. Essas cartas, enviadas religiosamente, eram sua forma de permanecer conectada à terra que deixara para trás e ao futuro pelo qual lutava com tanta determinação.

Quando Pietro adoeceu gravemente, Maria compreendeu que sua vida tomaria um novo rumo. Sem hesitar, quando retornou ao vale para cuidar do marido, o que encontrou foi uma terra ainda mais castigada pela pobreza. As colheitas continuavam escassas, os invernos pareciam mais rigorosos, e o desespero estava estampado nos rostos de seus vizinhos. Diante desse cenário, a ideia de emigrar para o Brasil, que circulava nas conversas sussurradas ao redor da lareira, começou a tomar forma como uma possibilidade real. A promessa do governo brasileiro de terras férteis, onde o trabalho duro poderia finalmente trazer frutos, soava como um chamado, embora carregasse consigo o medo do desconhecido e a dor de deixar para trás tudo o que conheciam.

Em 1879, com 44 anos e o coração dividido entre a esperança de um futuro melhor e o pesar da despedida, Maria, Pietro e a jovem Angelina embarcaram no porto de Gênova em direção a um destino desconhecido e incerto. A travessia marítima se revelou uma verdadeira odisseia. Nos porões do navio, dezenas de famílias se espremiam em espaços apertados, e o cheiro de sal e óleo impregnava o ar. As condições eram precárias: a água potável era racionada, o alimento, escasso e monótono, e doenças se espalhavam rapidamente entre os passageiros, com uma velocidade alarmante.

Maria, no entanto, se recusava a ceder ao desespero. Sua determinação era uma chama que mantinha aceso o espírito daqueles ao seu redor. Nos momentos mais difíceis, ela recorria ao que sabia fazer de melhor: cuidar. Com seu estoque de ervas e remédios caseiros cuidadosamente guardados, preparava infusões para acalmar os doentes e aliviar as dores. Dividia o pouco que tinha, sempre com palavras de conforto e um sorriso que parecia desafiar a adversidade. Enquanto muitos sucumbiam ao cansaço e à tristeza, Maria mostrava que a solidariedade poderia transformar até os dias mais sombrios em lampejos de esperança.

Assim, ao longo das semanas de viagem, ela não apenas cuidou de sua família, mas também se tornou uma espécie de guardiã improvisada para muitos no navio. Crianças corriam até ela em busca de atenção, mães exaustas encontravam nela uma confidente, e homens preocupados com o futuro viam em sua força um lembrete de que o esforço valia a pena. Embora a travessia fosse extenuante, Maria sabia que, do outro lado do oceano, uma nova página os aguardava — e isso era suficiente para mantê-la firme, dia após dia.

Quando finalmente desembarcaram no Brasil, foram enviados para a colônia Azambuja, no interior de Santa Catarina. A floresta parecia infinita e intransponível, e os desafios eram assustadores. Era preciso abrir clareiras, construir uma casa e começar o cultivo em terras desconhecidas. Maria não se deixou intimidar. A experiência como cròmera a havia ensinado a resistir e a encontrar soluções criativas para os problemas. Em pouco tempo, ela organizou uma pequena rede de trocas entre os vizinhos, oferecendo artesanato e ervas em troca de sementes e ferramentas. Aos poucos, a comunidade começou a prosperar.

Maria viveu até os 68 anos, quatro a mais que o seu marido Pietro, tempo suficiente para ver Angelina casar-se e construir uma família no Brasil. Mesmo em seus últimos anos, era lembrada por sua força e generosidade. As histórias de suas viagens como cròmera tornaram-se lendas entre os netos, que ouviam com fascinação sobre os caminhos percorridos e as pessoas que ela conheceu.

No interior de Santa Catarina, Maria Santina deixou um legado de perseverança e fé. Seu exemplo inspirou gerações a acreditarem na possibilidade de recomeços, mesmo diante das maiores adversidades. Assim, a mulher que atravessou montanhas e oceanos encontrou seu lugar em um novo mundo, onde as sementes de seu trabalho e coragem floresceram para sempre.


Nota do Autor

O romance O Caminho das Estações: A Vida de uma Cròmera é uma obra que busca capturar a essência de um tempo e de um povo cujas histórias, muitas vezes, permanecem esquecidas nas dobras do passado. Embora fictícia, a narrativa foi profundamente inspirada por fatos históricos e relatos que o autor teve a oportunidade de conhecer, sejam eles registros escritos ou memórias transmitidas oralmente por descendentes de famílias que viveram na região do Cadore e em suas adjacências.

A trajetória de Maria Santina é, ao mesmo tempo, uma homenagem e um tributo às mulheres cadorinas que, com coragem e resiliência, enfrentaram os desafios de uma vida de sacrifícios e, ainda assim, encontraram força para preservar sua identidade, sua cultura e seu legado. Essas mulheres, representadas na figura de Maria, personificam o espírito de luta, adaptação e esperança que transcendem gerações e fronteiras.

Este livro, portanto, é mais do que uma narrativa fictícia; é uma janela para o mundo daquelas que cruzaram montanhas não apenas para sustentar suas famílias, mas também para levar consigo a alma de sua terra. Que esta história inspire em cada leitor a mesma admiração e respeito que motivaram sua criação.

Com gratidão,

Dr. Piazzetta


quarta-feira, 6 de agosto de 2025

El Camino de le Stagion: La Vita de ´na Cròmera


 El Camino de le Stagion: 

La Vita de ´na Cròmera


Maria Santina lei la ze nassesta ´ntel 1835, ´nte 'na picolina località de Val de Cadore, uno dei posti pì béi de la provìnsia de Beluno, su ´ntel nord de l’Itàlia. El vale, incantonà soto l’ombra de le maestose Dolomiti, pareva ‘na pintura viva, con le montagne dai cimi rosàstro che se scomissiava col celo e coi boschi che cambiava color seguendo el ritmo de le stagion. La zera ‘na tera bèa ma dura. Là, el brusìo de l’aqua dei fiumi che se sentiva tra i prati se mescolava con el canto dei osei, mentre l’odor de tera fresca te dava la promessa — no sempre mantegnù — de abondansa.

Fiola de contadin, Maria la ze cressiù ´nte ‘na vita che ogni matina ghe portava la fatica. Le so man picinine le se ga insegnà presto con el toco rùstego de la tera e con i strumenti de legno che, anca se semplissi, i zera fondamentai par sopraviver. La insertessa de le recolte, minassià da piove improvisà o sechie lunghe, la gavea fato forti tuti i abitanti del vale. ´Nte ‘l inverno, quando la neve la copriva tuti i campi e le montagne le pareva inassessìbili, la vila la se tornava un refùgio de resistensa. Le famèie le stava tute al calor del fogo, tentando de sbatar via el fredo che no finìa mai. Maria, anca zòvene, la ga imparà a viver cussì: con forsa e con saviessa.

In quei ani, tuto el Cadore el zera parte del grande impero Austro-Ungàrico, ´na realtà che segnava tanto la vita dei cadorini. Soto el domìnio imperial, le tere le zera aministrà da ´na burocrassia lontan, che poco ghe importava dei problemi de le comunità montanare. L’identità italiana dei abitanti del vale la ghe convivea con le imposission culturai e politiche del impero, creando un senso de identità mescolà.

La resolussion che se prendeva a Viena le zera lontan come le montagne, e i contadin i gavea de far tuto par conservar le so tradission, el so parlar e la so maniera de viver. Ma la povertà e la mancansa de oportunità la zera ben pì forte che ste question polìtiche. Tante famèie le gavea de partir, siapando strade lontan par poder sostentar la vita.

Questo senàrio el ga insegnà a Maria Santina e a tanti altri a tegner viva la speransa, anca quando le condission zera le pì dure. Le radise taliane dei cadorini le restava forte, ma le resolussion lontan dei governanti no cambiava el fato: le famèie le ga sempre dovesto trovar novi modi de viver, spesso a dispeto de le confin.

La vita ´ntel Valle de Cadore la zera sempre ´na lota. Par tanti cadorini, laorar su la tera zera dura, e no bastava mai par mantegner la famèia. Le tere, anca se qualcuna la zera fèrtile, zera poche e no sempre generose. Le racolte le dependava dai caprissi de le stagion, e i inverni fredi i lassava i granai vuoti. La gente la gavea de far de tuto par tirar vanti.

I òmeni cadorini, da tanto tempo, i se spostava ´ntei perìodi de calma par far qualche soldo fora: venditori ambulanti, careghete, operài ´nte le cave, legnai ´nte le foreste lontan o manovali in vilagi dei paesi visin. Ma cossì, i lassava le done a curar la casa, i fiòi e la tera. Anca se restava sole, le done del Cadore le zera forti e coraiose. Tante le ghe trovava modo de contribuir par mantegner la dignità de la famèia.

Le cròmere, le vendedore ambulanti, le zera un esémpio de sto coraio. Maria, vardando le altre, la ga deciso de seguir la stessa strada. La ze diventà ‘na cròmera, ‘na vendedora ambulante che portava no solo mersi, ma anca l’ànima del Cadore.

Maria la caminava ´nte le strade tortuose, portando drio lensioli ricamà, erve profumà, spessiarie, vieri e pìcole stàtue de legno. Le so robe le zera tesori che parlava del so paese. La vendeva anca stampe con santini e calendari, tute colorà, fate da ´na famosa stamperia véneta. Par Maria, vender no el zera solo far soldi: el zera portar la stòria e l’essensa de la so tera, passo dopo passo, par un doman mèio.

La resolussion no la zera stà fàssile. Ancora zòvane, Maria Santina la ga afrontà le inssertese de ‘na vita nova, partendo par la prima volta con poco pì che el coraio che la se porta da generassion de cadorini resilienti. Sopra le spale, come ‘na bissaca, la portava ‘na gran cassa de legno ben ordinà da la so mama, pien de prodoti che la so aldeota la sapeva far ben: linsioi ricamà con motivi fioreai che pareva che caturava l’essensa de le fior de campagna de i vali, pìcole cose de legno intaià che se vedea la pressisione de mani che trasformava el semplisse in sublime, e erbe aromàtiche, colte con amore sui campi intorno a Valle de Cadore. Ogni roba no el zera solo ‘na mercansia; la zera ‘n framento de la so tera, ‘na parte viva de l’identità cadorina, che Maria la portava come se portava un tesoro.

La via l’era lunga e solitària, ‘na traversia che la metea a la prova tanto el corpo come el spìrito. Maria la caminava par dì interi, con i piè proteti solo da scarpe de cuoio che a volte no le resisteva ben a le piere afilà de le strade montanare. La afrontava piove improvise che le insupava i vestiti e rendea i sentieri pien de fango, e el fredo che taiava de primavera, che pareva che entrava fin drento i ossi. Ma lei la ndava avanti, guidà da quela determinassion che la vita tra le Dolomiti le ga insegnà fin da picolina: la sopravivensa la zera ‘na lota, ma la lota la valea la pena.

Quando la traverssava la frontiera de l’Àustria e lei rivava al primo paeselo, la sentiva el cuor bàtere pì forte. Le paesàgi conossù le davano posto a qualcosa de diferente: case robuste de piera con teti inclinà, strade ben sistemà che pareva che lore fosse fate par resistir al rigore de l’inverno e persone dal viso riservà, ma curiose. Ze stà ‘na tera nova, ma Maria no la se ga intimidà.

A ogni porta che la bateva, lei ofriva no solo le so mercansie, ma anche un soriso caloroso che pareva che disperdeva ogni difidensa. Con la vose ferma, lei la parlava de la so vila, descrivendo le montagne, i russeli e la vita semplice, ma pien de significà. La presentava i lensoi come se fosse stati pesi de paesàgio che la ga lassià indrio, i artefati de legno come rapresentassion de el lavoro àbile del so pópolo e le erbe aromàtiche come ‘na promessa de salute e benessere. Ogni vendita no la zera solo ‘na transassion comerssiale; la zera ‘na scambi de cultura, un momento ndove Maria la condividea un peso de la so stòria e, in cámbio, la imparava del mondo al di là de le frontiere de Valle de Cadore.

Le noti forse le zera la parte pì difìssile. Dopo un zorno intiero a caminar e a negossiar, la sercava rifùgio ndove che poteva: stale, case de famèie generose o, a volte, soto el ciel stelà, avolta in un grosso copertor par scassiar el fredo. Ancora, anche ´ntei momenti de solitudine, la sentiva el calore de la so mission. Par lei, ogni passo el zera ‘n avanso verso un futuro pì prometente, e ogni incontro con i austriaci e i svisseri la zera ‘na possibilità de mostrar el valore de la so tera e del so lavoro.

Maria sùbito la scoprì che la vita de ‘na cròmera la ghe volea pì che forsa fìsica. Ogni zorno el zera ‘na prova de resistensa e astùssia. La capassità de negossiar la zera essenssial; la dovea valutà sùbito l’interesse dei so clienti e adatar le so stratègie. A volte, questo volea dir ofrì ‘na ridussion sotile, contar ‘na stòria su le origini dei prodoti o semplicemente ascoltar con pasiensa le lagnanse di chi no ga l´intenssion de comprar. La pasiensa la zera la so maior qualità, specialmente davanti a le rifiuti. No tuti i vèrzer le porte a ‘na straniera, e i sguardi difidenti spesso la seguiva per le strade. Ma Maria la portava con sé ‘n spìrito resiliente che parea crèsser davanti a le dificoltà.

Quel che la sosteneva la zera l’idea che ogni moneta guadagnà la zera pì che un guadagno materiale; el zera un passo verso un futuro miliore par la so famèia. Ogni centèsimo acumulà el zera ‘na promessa che Angelina, la so fiola, la gavarà ‘na vita pì cómoda, e che Pietro, el so marito, el podarà coltivar le so tere sensa le preocupassion incessanti de la sopravivensa. La zera questa visione che la fasea continuà, anche quando i so piè i dolea de tanto caminar o quando el peso de la borsa la pareva insoportà.

Con el passar dei ani, Maria la tornava sempre a la stessa època, diventando ‘na presensa familiare e ben voluta ´ntei paeseli che lei visitava. El so assento italiano, segnà da la cadensa dolse dei cadorini, la zera afassinante, e la so vose melodiosa spesso la trasformava ‘na semplisse interassion comerssiai in un momento de conession umana. I bambin i la seguiva per le strade come se la zera ‘na fata viandante, afassinà dai pìcoli zoghi de legno che lei la mostrava con destressa. Par i adulti, Maria la zera ‘na dona forte, determinà e bona. I contadin i la amirava per el so coraio e laoro duro, mentre le massaie le vedeva come ‘na amica con cui se poteva condividir confidense e risate.

Fu in canton de Schaffhausen, visin a la frontiera con la Germania, con le coline dolsi e i vigneti ben alineà, che Maria la trovò ‘na sorta de seconda casa. Là, lei se ospitava con Maddalena, ‘na cusina che con el matrimónio la se trasferì ani prima e che la acolse con le brassi verti. Le due le gavea la stessa età e se scriveva spesso. Durante le noti frede, le due done, unì per le so stòrie de resistensa, le se sedeva visin al fogo e le condivideva ricordi de la zovinessa. Maddalena la contava le dificoltà dei primi ani in Svizzera, mentre Maria la parlava de la nostalgia de la famèia e de le paesagi de Valle de Cadore. Tra risate e làgreme, loro le trovava consolo ´na in l’altra.

Dopo queste noti de chiachiere, Maria la organisava la so cassa con cura quasi serimonial, piegando i lensuoi ricamà e verificando se i artefati de legno i zera intati. Ogni pedo el zera ore de lavoro e speransa. Nonostante la rotina dura, Maria no la smeteva mai de scriver lètare a Pietro, racontando i progressi e chiedendo de come ´ndava la piantagion, e a Angelina, riempiendo le pàgine de teneressa e promesse che la tornerà con stòrie da contar e regali da spartir. Queste lètare, inviate religiosamente, le zera la sua forma de rimaner conessa a la tera che la ga lassià e al futuro per cui lei lotava con tanto cuore.


Nota del Autor

El romanso El Camin de le Stagion: La Vita de na Cròmera el ze 'na òpera che prova a contar la essensa de 'n tempo e de 'n pòpolo che, tante volte, le so stòrie la ze restà desmentegà ´ntei anfrussi del passato. Anche se la ze inventà, sta stòria la ze sta ispirà profondamente da fati stòrici e raconto che l'autor el ga podesto conosser, sia per scriti che per memòria tramandà dai dissendenti de le famèie che i ga vissù ´ntle zone del Cadore e d'intorno. La via de Maria Santina la ze, al stesso tempo, un omenaio e 'n tributo a le famèie cadorine che, con coraio e resistensa, le ga superà i dificultà de 'na vita de sacrifìssi, ma che ga trovà la forsa par salvar la so identità, cultura e eredità. Queste famèie, rapresentà ´ntela figura de Maria, le incarna el spìrito de lota, adatassion e speranssa che va oltre le generassion e le frontiere. Sto libro, dunque, no el ze sol 'na stòria inventà; el ze 'na finestra par guardar al mondo de chi che ga traversà le montagne, no solo par mantègner la famèia, ma anca par portar con loro l'ànima de la so tera. Che sta stòria ispire in ogni letor la stessa amirassion e rispeto che ga motivà la so creassion.

Con gratitude, 

Dr. Piazzetta