Em meio às colinas verdejantes da região sul do Brasil, onde os pinheiros se erguiam como sentinelas silenciosas, viveu uma família cuja história era tecida com habilidade e devoção. Giulio Fernetti, o último filho de uma prole de seis homens e quatro mulheres, era o protagonista dessa saga.
A história dos Fernetti teve início no final do século XIX, quando Giacomo e Augusta, acompanhados por seus três filhos, deixaram a Itália e cruzaram o oceano em busca de novas oportunidades. Aportaram em terras brasileiras em 1896 e, após vários anos na Colônia Dona Isabel, fixaram residência em Veranópolis, onde as raízes dessa família de origem italiana se entrelaçaram com a história do sul do Brasil. Duas das suas filhas eram freiras, um dos filhos, o mais velho era frei capuchinho e um outro padre Carlista.
Giacomo, o patriarca, era um hábil carpinteiro, mestre na arte de construir igrejas majestosas, vastos barracões e moinhos que giravam movidos pela força das águas e, mais tarde, da eletricidade. Com o passar dos anos, Giulio, o filho mais jovem, absorveu essas habilidades com afinco e determinação, tornando-se um carpinteiro exímio, especializado na construção de moinhos coloniais que seriam a força motriz da região.
Aos 25 anos, Giulio casou-se com Anna, o amor de sua vida, e juntos decidiram aventurar-se na rica região ainda em formação de Boa Vista de Erechim. Uma jornada de duas semanas, percorrendo estradas estreitas e sinuosas em lombo de mulas e uma carroça de duas rodas com a pequena mudança, os conduziu a esse novo horizonte. O pequeno distrito de Floresta, hoje o município de Barão de Cotegipe, foi o local escolhido para estabelecerem raízes e onde Giulio abriu a sua própria carpintaria.
Naquele recanto, Giulio ergueu diversas casas com suas próprias mãos e contribuiu para a conclusão da imponente igreja local. Seus dias eram uma sinfonia de serras, martelos e madeira trabalhada com maestria. Boa Vista de Erechim, ávida por construção, abraçou o carpinteiro com entusiasmo, mantendo-o constantemente ocupado, construindo igrejas e complexos moinhos em toda a região norte e central do estado.
Os anos se passaram, e Giulio e Anna foram abençoados com seis filhos, quatro meninas e dois meninos, que cresciam em meio ao som das máquinas e à reverência pela tradição familiar. À noite, reuniam-se em torno da mesa, onde as histórias das construções grandiosas e da vida na cidade ganhavam vida através das palavras de Giulio.
A família Fernetti personificava a força do trabalho árduo e a devoção à comunidade. Eles eram os construtores de sonhos, os artesãos que moldaram a paisagem da região e os guardiões da fé. Cada estrutura erguida por Giulio era mais do que um edifício de tijolos e madeira; era um testemunho de sua dedicação, um tributo à sua família e um presente para as gerações futuras.
Hoje, as construções podem ter se tornado monumentos históricos, e os moinhos podem ter sido substituídos por tecnologias mais modernas, mas a memória da família F. perdura, lembrando a todos que, em algum momento do passado, um carpinteiro e sua família moldaram o destino de uma região com suas mãos habilidosas e corações generosos. A história dos F. é a história de um Brasil que cresceu e evoluiu, guiado pelo espírito incansável de seus filhos e filhas.
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