sábado, 22 de julho de 2023

Da Trincheira ao Amor: A Vida de um Ex-Soldado Austríaco e sua Enfermeira Italiana parte 3

 




Em épocas de guerra parece que tudo anda mais acelerado, não somente com os militares, mas, também com a população civil. O ritmo da vida se acelera, as decisões são tomadas com muito mais rapidez e, também, com muito maior facilidade do que antes. Padrões de comportamento são quebrados, substituídos por outros menos rígidos e mais liberais. As pessoas, parecem querer exorcizar todo aquele sofrimento, toda aquela dor acumulada durante o tempo em que durou o conflito. A convivência diária, com o sofrimento e a morte, faz com que a percepção da finitude da vida seja bem mais acentuada. Todos têm agora uma pressa maior em viver a vida, de fazer as coisas que antes ficavam apenas no pensamento. A guerra transforma uma sociedade, mudando radicalmente a maneira de pensar da população. Isso também ocorreu com o Rodolfo e Mariana, que ansiosos em viver as suas vidas, de repente revolveram se casar. Sem dinheiro, contando somente com o pouco que Mariana tinha conseguido economizar, de trem foram até Roncade, na casa de Mariana conhecer os seus pais e irmãos. Felizes, queriam contar logo a grande decisão que tinham tomado. O pai de Mariana, depois de muita relutância, principalmente pelo fato de Rodolfo ser desconhecido e, até pouco tempo atrás, ser considerado um inimigo, depois de conhecer melhor o rapaz e as suas intenções, finalmente cedeu e consentiu o casamento dos dois. Certo que ele não poderia fazer diferente, o mundo estava mudado, os dois jovens eram maiores de idade e estavam dispostos a se casar de qualquer maneira. Muitas tradições, muitas leis estavam dando lugar a um pensamento mais liberal. Sem ter onde ficar, a família de Mariana, por iniciativa da mãe, dispôs um quarto para ele na própria casa. Rodolfo escreveu para os pais contando a novidade e disse que não contava, devido a atual situação do país,  que eles pudessem vir para o casamento. Depois de duas semanas já não estava mais usando as muletas para caminhar e com a ajuda de Mariana em pouco tempo a força na perna operada voltou, se recuperando  completamente. Dos graves ferimentos recebidos agora só restaram as grandes cicatrizes. A cerimônia do casamento, realizada na Igreja de Todos os Santos de Roncade, foi muito simples e rápida, com a presença somente dos pais de Mariana, seus irmãos e duas amigas de infância. Após o ato religioso, pegaram um trem para Bolzano, Rodolfo estava ansioso para apresentar a sua esposa Mariana à sua família. A situação em toda a Itália, no período imediato pós o término do conflito, era bastante caótica, especialmente, naquelas regiões mais atingidas, onde então ficava o front, com várias cidades arrasadas. As linhas ferroviárias estavam sendo reparadas e as estradas e pontes sendo refeitas. Mesmo assim o movimento de veículos e de pessoas a pé era intenso. Demoraram quase três dias para chegar em Ortisei. Desde o Trento estava tudo intacto, como se não tivesse ocorrido uma guerra. Rodolfo ao sair do hospital militar de Padova recebeu uma permissão especial para poder circular e ela era sempre apresentada nos diversos postos de controle. Ao chegarem na casa dos pais de Rodolfo já estavam sabendo da triste notícia da morte, em combate, dois anos antes, do cunhado Maximiliano, relatada por um amigo que encontraram na cidade natal. A sua irmã viúva e os filhos do casal continuavam morando na casa dos sogros. A família de Rodolfo ficou radiante com a volta do filho, que por falta de notícias suas, pensavam que também tivesse morrido naquela guerra. Não mais haviam recebido notícias do filho, pois, as várias cartas do rapaz nunca chegaram, nem mesmo aquela em que comunicava o casamento. Não cabiam em si de tão felizes. Mariana foi imediatamente acolhida por todos, que elogiaram a sua beleza. Passaram-se algumas semanas e o casal percebeu que ali não era o lugar que tinham imaginado para viver. A solução encontrada, a única que ainda oferecia esperança de uma nova vida, longe daquela tensão pós guerra, seria emigrar e o Brasil era o destino preferido dos dois. Esta sempre tinha sido a ideia de Mariana antes da guerra, a qual  tinha muitos parentes próximos vivendo nesse país, emigrados a mais de trinta anos atrás, mas, que ainda antes do conflito, ainda se correspondiam periodicamente. Eram tios e primos que moravam nas cidades de Caxias, no estado do Rio Grande do Sul e Rodeio, em Santa Catarina. Tanto os pais de Rodolfo, como os de Mariana, ficaram muito tristes e preocupados com essa repentina comunicação  do casal, no entanto sabiam que era uma decisão correta, pois, no Brasil teriam muito mais futuro do que naquela Itália.

Continua
Trecho do conto "Da Trincheira ao Amor" de
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


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