Hospedaria dos Imigrantes de São Paulo
A partir da metade do século XIX grandes transformações estavam acontecendo no Brasil. O principal era o crescimento do comércio internacional de café e as idéias abolicionistas que naquela época fervilhavam.
O fim da escravidão no Brasil estava cada vez mais próximo, com o surgimento de novas leis de proteção aos escravizados, como a Lei do Ventre Livre, a Lei dos Sexagenários. Enquanto isso o consumo internacional do café crescia rapidamente e os fazendeiros, para aproveitar esse boom mercado começaram a ampliar as suas lavouras necessitando um número cada vez maior de trabalhadores. Para atender a demanda de produção era preciso contratar mão de obra assalariada. Foi assim, que no final do século XIX começaram a chegar os imigrantes europeus. Os imigrantes italianos representaram a maioria desse grande contingente de europeus que chegaram ao Brasil.
Os imigrantes que estavam destinados as grandes fazendas de café do interior de São Paulo, desembarcavam acompanhados por suas famílias, no Porto de Santos. Miseráveis deixavam para trás uma Itália pobre, ainda com muitos problemas sócio econômicos à resolver, em busca de trabalho e uma vida melhor nas terras brasileiras. O trabalho assalariado, introduzido no Brasil na década de 1870, logo atraiu o interesse de milhares de imigrantes.
Após o desembarque, os imigrantes eram levados nos trens da São Paulo Railway - SPR até a primeira Hospedaria instalada no Bairro do Bom Retiro, na Capital Paulista, em 1882. Eram recepcionados e acolhidos, recebendo abrigo temporário e refeições. As precárias condições das instalações e por ser muito central, geravam muito medo na população pela possibilidade de surgirem graves epidemias.
Em 1888 foi construída a nova Hospedaria dos Imigrantes, no Braz, localizada ao lado das linhas férreas do Norte e da SPR para facilitar assim o desembarque e o transporte dos imigrantes.
As novas instalações da hospedaria tinham a capacidade maior para abrigar e possuía muitos dormitórios, instalações sanitárias básicas, lavanderia com tanques e latrinas para os dois sexos, grande refeitório, enfermaria e médicos sanitaristas que também aplicavam vacinas aos recém-chegados. Já na inauguração o edifício acomodou cerca de 1200 imigrantes.
Os imigrantes após a chegada na hospedaria aguardavam pelos funcionários da fazendas que vinham buscá-los. Outros seguiam para núcleos coloniais ou para trabalhar nas indústrias.
Quando recebiam aviso da chegada de uma leva de imigrantes no Porto de Santos, ou da partida de um grupo do Porto do Rio de Janeiro, os administradores da hospedaria iniciavam os preparativos para o recebimento dos recém chegados, disponibilizado agasalhos, refeições, assistência médica e funcionários para auxiliar nos registros.
No dia seguinte a chegada na hospedaria, após instalados, os imigrantes eram recebidos pelo diretor e um auxiliar, um representante da Agência Oficial de Colonização e Trabalho e outro tradutor para a conferência das listas, registro de documentos, procedência, dados pessoais, profissões.
Após a conferência dos dados pessoais e familiares e com situação regular, o imigrante recebia um cartão de rancho que lhe dava direito a permanência nas instalações da hospedaria pelo prazo de seis dias. No documento constava nome, nacionalidade e número de rações a que a família tinha direito, segundo as respectivas idades. As listas e demais documentos, com as anotações tomadas a respeito dos imigrantes, eram registrados em livros apropriados.
Após esses primeiros procedimentos, os imigrantes eram conduzidos até a Agência Oficial de Colonização e Trabalho, para receberem informações sobre as vagas de trabalho disponíveis, vantagens oferecidas por cada uma delas, situação dos núcleos coloniais ou das fazendas cafeeiras. Uma vez orientados, retornavam à hospedaria para tratar de assuntos de trabalho pessoalmente com os fazendeiros ou por intermédio dos agentes corretores subordinados à Agência Oficial.
Uma vez fechados os acordos com os fazendeiros, os candidatos aos postos de trabalho retornavam à Agência a fim de firmarem os respectivos contratos. Em seus cartões de rancho, eram registrados os destinos tomados, os nomes dos respectivos patrões e o da estação mais próxima da localidade para a qual têm de seguir.
A partir de então os imigrantes tratavam do despacho de suas bagagens, no armazém a cargo da Alfândega de Santos e onde funcionava a comissão de empregados daquela repartição, destacada especialmente para o serviço de conferência de bagagens.
Ali, os volumes eram abertos na presença dos imigrantes, os quais procediam a conferência dos artigos sujeitos ou não ao pagamento de direitos aduaneiros e, satisfeito o pagamento, ou nada havendo a pagar, os volumes eram entregues pela referida comissão ao armazém da hospedaria, de onde eram despachados para os seus destinos, de acordo com os cartões de rancho em poder dos imigrantes.
A hospedaria encerrou as suas atividades em 1978 e durante os seus 91 anos de existência acredita-se que tenham passado por suas dependências aproximadamente três milhões de pessoas, de 70 nacionalidades diferentes e também de outros estados brasileiros.
Museu da Imigração do Estado de São Paulo
A partir do seu fechamento a Hospedaria dos Imigrantes do Brás, como era então conhecida, foi transformada no Museu da Imigração do Estado de São Paulo.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS
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