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sexta-feira, 24 de março de 2023

Região Veneto: A História Contemporânea e o Legado da Sereníssima República de Veneza

 




A invasão de Napoleão e a dominação austríaca


No final do século XVIII, os crescentes   movimentos revolucionários também começaram a se fazer sentir pela República de Veneza, enquanto as tropas de Napoleão Bonaparte irrompiam dos Alpes, descendo para a planície italiana.

Veneza se recusou a tomar partido, declarando sua neutralidade e ao mesmo tempo se recusando a mobilizar tropas para defender seus territórios. Com a indiferença do governo, o Vêneto tornou-se um campo de batalha entre os lados opostos. As terras do continente foram finalmente ocupadas pelas tropas francesas, que tinham autorização para entrar nas cidades, estabelecendo-se numa convivência muito difícil, até impossível com as tropas de Veneza e as populações venetas.

A situação perigosa assim criada explodiu com a chamada Páscoa Veronesa, uma rebelião sangrenta e espontânea contra a presença francesa, mas que deu à Napoleão a desculpa necessária para derrubar o governo da Sereníssima. 

Em uma tentativa inútil de evitar o inevitável Veneza desmobilizou as tropas, recuando para Veneza, sede do Dogado, mas sob a ameaça de invasão da própria Veneza, em 12 de maio de 1797, o Conselho Maior foi obrigado a decretar o fim da República Sereníssima.

Seguiu-se uma série de saques e violências por parte dos franceses, ansiosos por abocanhar o máximo botim possível das ricas terras venezianas e, ao mesmo tempo, proporcionar a menor vantagem possível à Áustria, a quem essas terras foram destinadas desde o acordo de paz então formalizado com o Tratado de Campoformio.

Após sofrer uma breve interrupção com a nova invasão francesa, levou ao estabelecimento de um efêmero Reino da Itália entre 1805 e 1814, o domínio austríaco foi então restabelecido com a criação do Reino Lombardo-Veneto.

No entanto, os sessenta anos de domínio dos Habsburgos foram caracterizados pelos levantes do Risorgimento, culminando nas rebeliões de Vicenza, Pádua, Treviso e o estabelecimento da República de San Marco em Veneza em 1848. Enquanto Verona se tornou um dos pilares do Quadrilátero Austríaco, os levantes revolucionários nas cidades do interior foram reprimidos um a um pelo exército imperial. Já Veneza, favorecida por seu isolamento na lagoa, resistiu, mesmo sitiada. Apesar da esperada união com o Reino da Sardenha, os reveses militares sofridos pelo exército piemontês durante a primeira guerra de independência deixaram a República Marciana isolada, que, apesar da heróica resistência contra as tropas de Radetzky, finalmente teve que capitular em 24 de agosto de 1849 .

No final da segunda guerra de independência, em 1859, os austríacos ainda dominavam o Vêneto: tendo chegado às portas de Verona, de fato, o exército franco-piemontês foi detido pela assinatura do armistício de Villafranca por Napoleão III.


A Terceira Guerra da Independência


A anexação do Veneto ao Reino da Itália ocorreu em 1866 no final da terceira guerra de independência quando a Prússia, de acordo com a Itália, declarou guerra à Áustria. 

As tropas do general Enrico Cialdini foram derrotadas em Custoza uma semana depois, mas as formações de Garibaldi bagunçaram as defesas austríacas no Trentino e começaram a avançar. 

Os prussianos, enquanto isso, derrotaram as tropas imperiais em Sadowa, na Boêmia. Na batalha de Lissa a frota italiana perdeu dois navios e sofreu uma derrota. No Vêneto e  no Trentino, porém, a guerra ainda não havia terminado. 

Enquanto as tropas regulares italianas pareciam determinadas a recuperar a iniciativa, Giuseppe Garibaldi derrotou os austríacos na batalha de Bezzecca e uma coluna comandada por Giacomo Medici avançou até alguns quilômetros de Trento. 

A Áustria e a Prússia assinaram acordos de paz, obrigando os italianos isolados a interromper as operações militares e aceitar o armistício de Cormons. 

Nas semanas seguintes, com a assinatura do Tratado de Viena em 3 de outubro, ficou decidido que a Itália ficaria com o Vêneto, mas a Áustria não quis entregá-lo diretamente a uma nação da qual não se considerava derrotada. 

Em seguida, cedeu-o à França, entendendo que Napoleão III o entregou a Vittorio Emanuele II, depois de organizar o plebiscito realizado em 21 e 22 de outubro por sufrágio universal masculino. De uma população de 2.603.009 pessoas, foram somente 647.426 votantes e 69 votos contra, a favor estão em torno dos 99,99% restantes! 


Ludovico Manin o último Doge da Sereníssima República de Veneza



Entre as muitas irregularidades as autoridades municipais prepararam e distribuíram bilhetes de SIM e NÃO em cores diferentes. Cada eleitor, devia se apresentar à mesa eleitoral onde estavam sentados os membros da assembleia de voto, devendo pronunciar o seu nome em voz alta e entregava o bilhete aberto ao presidente da mesa que o depositava na urna escolhida. 

Florence, na sexta-feira, 19 de outubro de 1866, escreveu ao presidente, o seguinte despacho de Veneza que foi recebido hoje às 10 ¾ da manhã do Conselho de Ministros: "A bandeira real italiana está tremulando nas colunas da Piazza San Marco, saudada pelo frenético gritos da população exultante". Revel.

O general francês Leboeuf entregou o Veneto a três notáveis: o conde Luigi Michiel, veneziano, Edoardo De Betta, Veronese, Achille Emi-Kelder, Mantovano.

Estes, por sua vez, o "depuseram" nas mãos do comissário do rei, conde Thaon di Revel e no dia seguinte um pequeno artigo anônimo apareceu na "Gazzetta di Venezia" que dizia:

"Esta manhã em um quarto do hotel da Europa foi feita a venda do Vêneto"

A parcialidade daquele plebiscito, a forte pressão política exercida pelos Savoia, uma série de fraudes e uma irregular condução das votações dão margem às especulações de prováveis fraudes nessas eleições, chamando-as de Plesbicito Truffa.

Por outro lado alguns rebatem esta tese lembrando da entrada triunfal de Vittorio Emanuele II em Veneza após o voto popular, mas lembrando e reiterando que a sociedade veneziana do século XIX tinha uma alta taxa de analfabetismo e uma alta porcentagem de população rural.

Tanto as Venezas quanto a Província de Mantova foram anexadas ao Reino da Itália com o Real Decreto n.3300 de 4 de novembro de 1866 e com a Lei n.3841 de 18 de julho de 1867.



segunda-feira, 23 de abril de 2018

Quando o País Itália Ainda Não Existia



Todo brasileiro descendente de italianos deveria saber que, quando os primeiros imigrantes “italianos” chegaram no Brasil, a Itália como país só existia a apenas 9 anos. Foi somente à partir de 1866 com a unificação que podemos falar de um país com o nome de Itália, que por sinal era um reino. Este Reino da Itália era governado pela Casa de Savoia, cujas origens estavam no Piemonte.
No século XVIII o que existia no território que pertence hoje a Itália, era diversos Estados independentes, separados entre si, cada um com o seu governo próprio. 
A “Itália” daquele tempo estava muito dividida em estados soberanos, entre outros podemos lembrar do Reino da Sardenha, o Reino de Napoli, Estado da Igreja, o Ducado de Milão e a Sereníssima República de Veneza. Estes vários estados, uns mais poderosos e ricos que outros, tinham origem, cultura e línguas muito diferentes entre si. 


No século seguinte tivemos um longo processo de unificação chamado de Risorgimento, comemorado na Itália no dia 17 de Março, que depois de algumas batalhas, lançou as bases para a formação do reino italiano. Este se completou em 1866, com a passagem do Vêneto para a Itália, após um polêmico plesbicito, ainda muito mal explicado, repleto de manobras nada isentas, totalmente manipulado pelo reino italiano. Para aqueles que sabem ler em italiano e quiserem se aprofundar no assunto recomendo o livro “1866 la grande trufa” do escritor E. Beggiato.



Foi nesse turbulento período, onde os problemas do desemprego e da fome começaram a atingir os camponeses do norte e do sul da península, que se deu início à emigração em massa para a América.
Os nossos antepassados ao aqui chegarem desconheciam a língua oficial italiana. Não se auto denominavam italianos e sim pelo nome das províncias em que nasceram. Quando finalmente a Itália foi criada, o governo foi atrás de uma língua para ser introduzida e usada pelo novo país. 
A língua toscana na época era a mais erudita de todas, com muitos escritores famosos mundialmente, já conhecidos vários séculos antes, foi aquele escolhido para ser a língua oficial de toda a Itália. Enfim, eram florentinos os escritores Petrarca, Dante Alighieri, Boccaccio, considerados os pais da literatura italiana. 


A anexação do Vêneto pela a Itália foi sem dúvida um dos acontecimentos mais marcantes e que veio agravar a situação já crítica da economia daquela região, precipitando a fuga em massa de milhões de pessoas. Esse verdadeiro êxodo serviu como uma válvula de escape de um caldeirão pronto para explodir em uma guerra civil. Foi nas costas dos pobres agricultores vênetos e daqueles do sul da península que sobrou o ônus da transformação da Itália em um país.
Os nossos primeiros imigrantes, aqui chegados à partir de 1875, falavam os diversos dialetos das suas província de origem e não conheciam e não sabiam falar essa nova língua, que estava sendo imposta para todo o país pelo governo do reino. 
A quase totalidade dos nossos antepassados quando aqui aportaram eram semianalfabetos, os seus diversos dialetos quase não eram mais escritos, especialmente, depois da caída da Sereníssima República em 1797, ou melhor, quase não mais se escreviam livros em vêneto. Era uma língua quase que somente falada. Eram pouco instruídos, porém, não eram incultos, na verdade eram herdeiros da fabulosa e milenária cultura da Sereníssima República de Veneza, uma riquíssima potência marítima, tanto militar como comercial, que teve uma vida de dez séculos.


A região do Vêneto tem uma forte ligação com o Brasil, na medida em que milhares deles se estabeleceram aqui, principalmente nos três estado do Sul. Também tem uma forte presença em São Paulo, Espírito Santo e Minas Gerais, quando para lá foram levados no último quarto do século XIX e início do XX, para trabalharem nas grandes fazendas de café, em substituição da mão de obra escrava que estava sendo libertada. 
No Vêneto se fala a língua vêneta, que não é um dialeto como se ouve muito dizer, com as suas várias nuances e particularidades próprias, conforme a província de origem. Existem portanto, muitas formas de se dizer referir à algumas coisas na língua vêneta. 


Quando os primeiros emigrantes vênetos, ainda no navio que os trazia para o Brasil, já sentiram as dificuldades que teriam para se comunicarem entre eles. Assim, no Rio Grande do Sul, mantidos isolados nas diversas colônias onde foram assentados, criaram uma nova língua, muito rica e melodiosa. Foi usando palavras dos diversos dialetos dos imigrantes, que aos poucos foi se sedimentando esta particular forma de falar, uma verdadeira nova língua, a qual foi denominada de Talian. Como mais de 50% dos imigrantes que chegaram ao Rio Grande do Sul era proveniente da Região do Vêneto, a língua vêneta naturalmente teve maior influência na formação do Talian.
A língua vêneta do Brasil evoluiu de uma maneira diferente da língua vêneta falada hoje na Itália, mas, são totalmente inteligíveis por ambos os grupos falantes. O Talian emprestou do português as muitas novas palavras e maneiras de dizer que surgiram nesses últimos 140 anos, desde a chegada dos primeiros emigrantes. Por seu lado a língua vêneta falada na Itália sofreu uma maior influência do italiano para o seu desenvolvimento. O Talian, com certeza, é a nossa verdadeira língua mãe.
Os estados do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Espírito Santo receberam uma grande quantidade de imigrantes de Vêneto ao longo dos anos. Assim, a presença do Talian nessas regiões é bastante presente até hoje. Estima-se que mais de um milhão de brasileiros sabem falar fluentemente o Talian e quase outro tanto ainda consegue entende-lo. 

 
  
 


No Rio Grande do Sul existem escolas, programações de rádio, escritores dedicados a esta língua. Já existem mais de cem livros escritos em Talian, inclusive dois ou três dicionários. O mais emblemático deles, também por ser o primeiro, é “Vita e Stòria de Nanetto Pippeta” cujo lançamento em 1924 alcançou uma grande repercussão nas colônias italianas do Rio Grande do Sul. Este livro tem tradução para o português,mas, se perde muito da versão original em Talian. Peças de teatro são também escritas nessa língua, com grande aceitação de público. Ela é considerada hoje, depois do português, a segunda língua do estado. 


Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS