A grande emigração vêneta foi um fenômeno de massa que durou por muito tempo. Durou mais de cem longos anos, foram necessárias quatro gerações para vencer a miséria, a ignorância para libertar o povo vêneto da subserviência e da dependência crônica.
Há pouco mais de cem anos atrás o Vêneto era uma região praticamente imóvel e atrasada onde diversos problemas afligiam a sua população. Tinha uma grande população, a agricultura ali praticada já estava ultrapassada. Trabalhavam a terra ainda usando os mesmos métodos medievais herdados dos seus antepassados. A incipiente indústria ainda estava dando os seus primeiros passos, e já com grande atraso em relação a outros países vizinhos. A invasão do Vêneto pelas tropas de Napoleão e o fim da República Sereníssima, as várias guerras de libertação e a sua posterior anexação ao Reino da Itália, com as respectivas mudanças drásticas dos regimes de governo, empobreceram a sua população. Quem já era pobre passou agora a ser miserável, a fome já se fazia presente nas casas dos pequenos agricultores e artesãos. A emigração foi o preço que o Vêneto teve que pagar para a Itália poder passar de um país essencialmente agrícola para uma sociedade industrial. Esses fatores políticos e econômicos, os altos impostos criados para sustentar o novo reino, apesar de importantes, não foram as únicas causas a desencadearem o grande êxodo que contaminava e arrastava consigo milhares de vênetos para o exterior.
A interferência de alguns grupos econômicos e de determinadas classes sociais italianas, os quais em determinado momento passaram controlar as rédeas e a guiar o destino dos milhões de pobres descontentes em toda a península. Isso foi sem dúvida a causa principal para que a emigração italiana durasse tanto tempo.
A propósito o escritor Deliso Villa nos relata em seu livro Storia Dimenticata que "se em uma casa existe uma torneira que perde água, e depois de dois ou três anos ainda continua a perder, isso quer dizer que ninguém fez nada para consertar o defeito. Se após vinte ou trinta anos a torneira ainda continua a pingar, quer dizer que essa água perdida não fazia falta a ninguém. Ou melhor, estava bem assim. Era mais útil que a torneira continuasse a perder água."
Assim a torneira da emigração continuou a vazar, ininterruptamente, por cem longuíssimos anos. Através dessa torneira passaram 27 milhões de italianos. Quando finalmente a torneira parou de pingar não foi porque os homens se tornaram mais sábios. Simplesmente não existia mais água.