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sexta-feira, 9 de março de 2018

A Festa della Sensa e dello “Sposalizio del mare” - Manifestação Milenar em Veneza

 

 


É uma das mais antigas festas venezianas: tem mais de 1000 anos! No dia da Ascenção (Sensa) se celebra o histórico Casamento do Mar (Sposalizio del Mare), em recordação da conquista da Dalmazia (na costa leste do Mar Adriático, onde hoje estão alguns países: Croácia, Bósnia, e Montenegro) pela frota veneziana comandada pelo Doge Pietro Orseolo II entre os anos 999 e 1000. Naquele ano se decretou que em cada ano, no Dia da Ascenção (Sensa) ou seja em 18 de Maio, o Doge e o Patriarca (cargo mais alto da igreja veneta) deviam sair fora do porto do Lido para abençoar o mar, um rito de cerimonial simples e modesto. Cerca de dois séculos mais tarde, no ano de 1177, o Papa Alexandre III, cujo pontificado foi do ano de 1159 até 1181, doou ao Doge Sebastiano Ziani, que governou Veneza entre os anos 1172 a 1178, um anel de ouro como reconhecimento pela ajuda na reconciliação com o Imperador Federico I Barbarossa, que reinou entre 1152 e 1190, pronunciando a famosa frase: “Receba este anel em penhor da soberania que vós e os vossos sucessores tenhais perpetuamente sobre o mar”. Segundo o cronista Marin Sanudo (1466-1536) ainda vinha acrescida a frase “esposar o mar assim como um homem se casa com uma mulher para ser o seu senhor”. O Papa além disso concedeu indulgência pelos pecados de todos aqueles que fossem, nos oito dias sucessivos, rezar na igreja de San Marco (hoje Basílica). Daquele momento teve início aquela tradição secular do “Sposalizio del mare”, a mística união de Veneza com o mar.


A festa era grandiosa. O Doge subia em seu navio de representação, o Bucintoro, ao som de trombetas, com todo o seu séquito, o clero, os embaixadores presentes, os presidentes do Conselho dos Dez e outras autoridades. No alto do convés tremulava o estandarte ducal, enquanto o almirante do Arsenal em pessoa dava as ordens. Seguido por um grande cortejo de barcas de todas as formas e cores, todas ornadas para festa, o navio ducal zarpava para o porto de San Nicolò del Lido – era chamada ida ao mar. O cortejo aquático fazia uma breve parada frente a ilha de Sant’Elena para receber homenagem dos monges daquele convento. 


Mais adiante uma outra parada nas proximidades do Lido, para receber à bordo o bispo de Castello (e depois de 1451 o Patriarca de Veneza) que esperava no seu barco com todas as autoridades eclesiásticas. 
 


O cortejo continuava até a embocadura do porto de Lido, frente ao forte de Sant’Andrea onde o Patriarca aspergia água benta e o Doge, de uma janelinha de popa deixava cair na água um anel de ouro, pronunciando as seguintes palavras: “Desposamus te, mare nostro, in signum veri perpetuique dominii”- “Te esposamos, mar, em sinal de eterno domínio”. 

 



Com esta cerimonia se iniciava a Fiera della Sensa, com festas, espetáculos circenses e cantores, em toda a cidade. Na Praça de São Marcos acontecia um mercado de todo o tipo e de todos os países, organizado em uma estrutura de madeira coberta por tendas erguidas para ocasião. Uma multidão de visitantes, de todas as nacionalidades, desfilava pelas bancas e cafeterias. Parecia uma feira internacional. Na Festa della Sensa de 1792 foi inaugurado o Teatro La Fenice. O último sposalizio da República de Veneza aconteceu no ano 1796 com o Doge Lodovico Manin que governou durante os anos de 1789 e 1897. Hoje a cerimonia se repete como uma festa tradicional no primeiro domingo depois do Dia da Ascenção.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


domingo, 4 de março de 2018

Sposalizio del Mare





Sposalizio del Mare está entre as mais antigas e conhecidas tradições vênetas e se refere a uma antiga cerimônia que se realizava durante a Festa della Sensa, ou da Ascenção, que simbolizava o domínio marítimo de Veneza. Ela foi instituída por volta do ano 1000 para comemorar a conquista da Dalmazia pelo Doge Pietro Orseolo II e para tal foi escolhido o Dia da Ascenção, uma vez que este tinha sido o dia em que o doge partiu para aquela expedição. A cerimônia consistia de uma procissão de embarcações, tendo a frente o barco do doge, este a partir de 1253 foi chamado de Bucintoro. Esta procissão saía da laguna veneta até o porto do Lido. Neste local, frente a igreja consagrada a S. Nicolò, patrono dos navegantes, era então recitada uma oração "para nós e para todos os navegantes o mar possa ser calmo e tranquilo". Em seguida o doge e acompanhantes eram solenemente aspergidos com água benta, sendo o resto jogado ao mar enquanto os sacerdotes entoavam um hino religioso apropriado. No ano de 1177 o papa Alexandre III conferiu maior importância religiosa a esta solenidade como retribuição à Veneza do apoio recebido na luta contra Frederico Barbarossa. Na mesma ocasião o doge também deixava cair o seu anel na água, consagrando-o ao mar, seguindo talvez um rito pagão mais antigo, proferindo as palavras: "Te esposamos, Mar. Em sinal de verdadeiro e perpétuo domínio". Declarava assim Veneza e o Mar unidos indissoluvelmente, reforçando o domínio sobre o Mar Adriático.

Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS