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segunda-feira, 25 de abril de 2022

As Quatro Fases da Imigração Italiana

 

Vademecum dei viaggi fra Italia e l'America del Sud



Para fins de estudo, podemos dividir a imigração italiana em quatro grandes fases, distribuindo-as no tempo, de acordo com seu aparecimento.

A primeira fase podemos facilmente situar entre os anos de 1875 até o último ano do século XIX. Nos primeiros anos ela se direcionou para os países mais desenvolvidos e ricos na própria Europa, como a França e a Alemanha. Países esses nos quais, já de longa data os italianos encontravam trabalho, principalmente, durante os meses de inverno, com pouco trabalho na lavoura. 

Era a chamada "immigrazione golondrina", em analogia aqueles pássaros migratórios que, todos os anos migravam e  retornavam para as suas casas. 

O número de novos emigrantes foi rapidamente aumentando e gradativamente os tradicionais países europeus de migração não tinham mais condições de absorver tanta gente. 



Imigrantes na Hospedaria




Assim, foi necessário encontrar outros países, mesmo localizados mais distantes, do outro lado do oceano, que naqueles tempos passavam por grande desenvolvimento econômico com uma crescente necessidade de mão de obra. 

Assim fluxo migratório italiano passou a se dirigir para os  jovens países da América do Sul, especialmente o Brasil e a Argentina. Alguns poucos foram atraídos para América do Norte. 

Através de movimentos organizados, muitas vezes subsidiados pelos governos desses países,  os italianos foram emigrando. Também um grande número deles saíram de forma clandestina da Itália,  viajando por conta própria, seguindo a grande onda, rumo ao tão sonhado el Dorado.

Nessa época, influenciados pela enganosa propaganda de recrutamento, o Brasil era considerado a "terra della cuccagna", o local onde todos ficariam ricos em pouco tempo. 

Para eles a cucagna nada mais era que um futuro melhor para si e para seus filhos, a possibilidade real para se tornarem proprietários  de  um pedaço de terra e não mais dividirem a colheita com um patrão.

Logo ao desembarcarem na terra prometida caíam na realidade e se davam conta do ardil usado pela propaganda de recrutamento.  

Calcula-se, com base nos registros das grandes  companhias de navegação e nos arquivos daqueles países que receberam esses imigrantes, que cerca de 5 milhões de homens, mulheres e crianças italianas nesse periodo deixaram definitivamente a Itália.

Número muito grande em relação a população total da Itália, que nesse período estava entorno de 30 milhões de habitantes. Quase 15% da sua população!


Imigrantes na Hospedaria da Ilha das Flores no Rio de Janeiro



Os fatores que levaram a esse verdadeiro êxodo, segundo Deliso Villa, somente comparado aqueles dos hebreus em sua fuga do Egito, foram principalmente aqueles de natureza sócio econômicos, em um país pobre, recém unificado, que não mais conseguia dar uma vida digna para os seus cidadãos.

Entre uma guerra civil sanguinosa, especialmente, os vênetos preferiram o caminho da emigração como forma de protesto, deixando para trás as terras onde nasceram, as suas pequenas casas, os seus amigos e entes queridos, para na maior parte das vezes, nunca mais tornarem a vê-los.  

A segunda fase compreende o período entre os anos de 1900 até 1914, quando eclodiu a I Grande Guerra Mundial. Entre esses anos deixaram a Itália um número calculado de 9 milhões de pessoas, o equivalente aproximadamente a um quarto da população total do país.

Nessa fase predominaram os emigrantes do centro sul da Itália, expulsos de suas terras devido inúmeros fatores, entre eles o empobrecimento cada vez maior do campo e, sem encontrarem uma alternativa de trabalho no setor industrial, ainda incipiente, foram obrigados a emigrar.

A terceira fase está situada no período compreendido entre o fim da primeira guerra mundial em 1918 e o início da segunda grande guerra em 1939. 

Essa fase se caracterizou por oscilações da economia de vários países europeus e americanos, o crack da bolsa de 1929 e a ascensão do fascismo, com a sua política contrária a emigração, fez com que se arrefecesse o fluxo de saída dos italianos para países extra europeus.

A tentativa grotesca de expansionismo fascista, nos moldes imperialistas já obsoletos, se caracterizou por movimentos migratórios de milhares de italianos em direção ao norte da África. 

Na Europa, a emigração italiana ficou restrita principalmente à França e à Alemanha, para onde se dirigiram em milhares após o fim dos conflitos da primeira grande guerra. 

Nesse período de vinte anos, segundo estimativas oficiais, cerca de 3 milhões de italianos abandonam o país. 

A quarta fase é aquela qua se seguiu ao fim da segunda grande guerra em 1945 até 1970, período no qual a Itália e todo o mundo experimentou profundas mudanças econômicas sociais e políticas. 

Nesses 25 anos voltou a crescer o fluxo emigratório italiano, especialmente de habitantes do sul do país, região que demorou um pouco mais para acompanhar o crescimento econômico da Itália pós guerra.

Os destinos preferidos nesse período foram para os tradicionais países da Europa: França, Alemanha, Suiça e Bélgica. Aqueles fluxos destinados para além do oceano seguiram para os países sulamericanos e agora também para a Austrália.

Nesse período os dados oficiais estimam que cerca de 7 milhões de italianos deixaram o país.

Em cem anos à partir da unificação italiana, deixaram o país cerca de 30 milhões de pessoas, que se estabeleceram em novas terras, fixando-se em diversas partes do mundo e após um período inicial de grandes dificuldades e provações a grande maioria deles encontrou a tão sonhada cucagna

Hoje os italianos e seus descendentes espalhados pelo mundo já somam mais de cem milhões de pessoas, um número total maior que a população atual da Itália.



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS


sábado, 5 de março de 2022

A Emigração Italiana um Importante Fenômeno Social


Família italiana entorno da mesa




A grande emigração foi um importante fenômeno social que influenciou decisivamente a história da Itália, contribuindo para a  transformação do país de uma das nações mais atrasadas da Europa, no final do século XIX, em um dos países mais ricos e desenvolvidos no século XX. 

Esse verdadeiro êxodo durou praticamente cem anos, de 1876 a 1970, e envolveu milhões de pessoas, das mais variadas classes sociais, predominando, evidentemente, aquelas mais desafortunadas, e interessou com maior ou menor intensidade  todas as  regiões da Itália. 


Emigrantes à bordo

 

Didaticamente, a grande emigração italiana, pode ser dividida em quatro fases. A primeira delas ocorreu entre os anos de 1876 e o início de 1900. Essa emigração teve início após a grande crise agrária dos anos 1870, afetando mais de 5 milhões de pessoas e se caracterizou por ser na sua maior parte uma emigração individual e predominantemente masculina.


Esses emigrantes, que saíram em sua grande maioria do norte da Itália, em direção principalmente aos países europeus vizinhos, mais desenvolvidos, onde havia grande necessidade de mão de obra e para as grandes plantações agrícolas dos países americanos, especialmente Brasil e Argentina.






A segunda fase da emigração italiana, ocorreu entre os anos 1900 e durou até o início da grande guerra mundial de 1914 e coincidiu também com o desenvolvimento industrial italiano da era Giolitti, com a consequente fuga do campo em direção às cidades e suas fábricas.

A emigração desse período, principalmente aquela direcionada para o outro lado do oceano, foi composta em mais de 70%, por homens que habitavam as regiões meridionais da Itália. Outros por sua vez, se dirigiram para os países europeus mais ricos, que na ocasião experimentavam grande desenvolvimento, principalmente para a França, Suíça e Alemanha, para trabalharem nas minas de carvão, construção de estradas e ferrovias.

A emigração italiana na sua terceira fase, ocorreu no período compreendido entre as duas guerras mundiais. Ela se caracterizou por uma desaceleração do fenômeno emigratório devido às medidas restritivas à imigração nos tradicionais países anfitriões e também pela política contrária a emigração durante o   governo fascista.





A quarta fase, ocorreu entre os anos de 1946 e 1970, e se caracterizou por uma forte migração interna dos italianos em direção aos centros industriais do Norte do país, que viviam o boom econômico do pós guerra.

Os países que mais receberam os emigrantes italianos foram: Estados Unidos, Brasil, Argentina e Austrália cujos governos tinham aprovado importantes incentivos para a imigração. 

Quanto aos destinos da emigração italiana nos países vizinhos na própria Europa os que mais receberam italianos foram: França, Alemanha, Suiça e mais tarde também a Bélgica, que naquele período demandava mão de obra para o trabalho em suas minas de carvão. 

A emigração sazonal experimentada muitos anos do grande êxodo já tinha provocado profundas transformações na sociedade rural italiana nas localidades de origem e serviu de  preparação para reduzir analfabetismo, mudar a mentalidade e o estilo de vida desses emigrantes quando retornavam à sua terra natal. Também ajudou as mulheres a se emanciparem na medida que, com a saída dos homens, foram obrigadas a assumirem  novas responsabilidades na gestão da economia familiar, antes tarefa exclusiva masculina.

Desde os países que os acolheram, os emigrantes enviavam regularmente importantes remessas de dinheiro que permitiram às suas famílias sobreviverem e também saldarem os compromissos e as dívidas contraídas. Essas remessas constituíram um verdadeiro rio de ouro, como se expressou um ministro italiano da época, para a combalida economia italiana, pois, com o afluxo das moedas estrangeiras foi incentivado o consumo e o estimulo do desenvolvimento industrial no país. 

As poupanças conseguidas com essas remessas de valores feitas pelo emigrantes ficavam  também  depositadas em bancos e caixas econômicas rurais, valores esses que eram investidos por esses bancos em títulos do tesouro nacional e ficavam a disposição do Estado para financiar a modernização da Itália. 

Foi também com a venda das passagens de milhares de viagens dos emigrantes para o exterior que as receitas da marinha mercante italiana cresceram e então foram usadas para a modernização da frota, a qual já mostrava sinais evidentes de sucateamento. 

Na economia das famílias, essas remessas de valores do exterior serviram para melhorar o padrão de vida e o empréstimo de dinheiro à  parentes, geralmente, com taxas mais baixas que o mercado normal, geravam lucros que foram usados ​​para iniciar pequenos negócios. 



Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS