Para fins de estudo, podemos dividir a imigração italiana em quatro grandes fases, distribuindo-as no tempo, de acordo com seu aparecimento.
A primeira fase podemos facilmente situar entre os anos de 1875 até o último ano do século XIX. Nos primeiros anos ela se direcionou para os países mais desenvolvidos e ricos na própria Europa, como a França e a Alemanha. Países esses nos quais, já de longa data os italianos encontravam trabalho, principalmente, durante os meses de inverno, com pouco trabalho na lavoura.
Era a chamada "immigrazione golondrina", em analogia aqueles pássaros migratórios que, todos os anos migravam e retornavam para as suas casas.
O número de novos emigrantes foi rapidamente aumentando e gradativamente os tradicionais países europeus de migração não tinham mais condições de absorver tanta gente.
Assim, foi necessário encontrar outros países, mesmo localizados mais distantes, do outro lado do oceano, que naqueles tempos passavam por grande desenvolvimento econômico com uma crescente necessidade de mão de obra.
Assim fluxo migratório italiano passou a se dirigir para os jovens países da América do Sul, especialmente o Brasil e a Argentina. Alguns poucos foram atraídos para América do Norte.
Através de movimentos organizados, muitas vezes subsidiados pelos governos desses países, os italianos foram emigrando. Também um grande número deles saíram de forma clandestina da Itália, viajando por conta própria, seguindo a grande onda, rumo ao tão sonhado el Dorado.
Nessa época, influenciados pela enganosa propaganda de recrutamento, o Brasil era considerado a "terra della cuccagna", o local onde todos ficariam ricos em pouco tempo.
Para eles a cucagna nada mais era que um futuro melhor para si e para seus filhos, a possibilidade real para se tornarem proprietários de um pedaço de terra e não mais dividirem a colheita com um patrão.
Logo ao desembarcarem na terra prometida caíam na realidade e se davam conta do ardil usado pela propaganda de recrutamento.
Calcula-se, com base nos registros das grandes companhias de navegação e nos arquivos daqueles países que receberam esses imigrantes, que cerca de 5 milhões de homens, mulheres e crianças italianas nesse periodo deixaram definitivamente a Itália.
Número muito grande em relação a população total da Itália, que nesse período estava entorno de 30 milhões de habitantes. Quase 15% da sua população!
Os fatores que levaram a esse verdadeiro êxodo, segundo Deliso Villa, somente comparado aqueles dos hebreus em sua fuga do Egito, foram principalmente aqueles de natureza sócio econômicos, em um país pobre, recém unificado, que não mais conseguia dar uma vida digna para os seus cidadãos.
Entre uma guerra civil sanguinosa, especialmente, os vênetos preferiram o caminho da emigração como forma de protesto, deixando para trás as terras onde nasceram, as suas pequenas casas, os seus amigos e entes queridos, para na maior parte das vezes, nunca mais tornarem a vê-los.
A segunda fase compreende o período entre os anos de 1900 até 1914, quando eclodiu a I Grande Guerra Mundial. Entre esses anos deixaram a Itália um número calculado de 9 milhões de pessoas, o equivalente aproximadamente a um quarto da população total do país.
Nessa fase predominaram os emigrantes do centro sul da Itália, expulsos de suas terras devido inúmeros fatores, entre eles o empobrecimento cada vez maior do campo e, sem encontrarem uma alternativa de trabalho no setor industrial, ainda incipiente, foram obrigados a emigrar.
A terceira fase está situada no período compreendido entre o fim da primeira guerra mundial em 1918 e o início da segunda grande guerra em 1939.
Essa fase se caracterizou por oscilações da economia de vários países europeus e americanos, o crack da bolsa de 1929 e a ascensão do fascismo, com a sua política contrária a emigração, fez com que se arrefecesse o fluxo de saída dos italianos para países extra europeus.
A tentativa grotesca de expansionismo fascista, nos moldes imperialistas já obsoletos, se caracterizou por movimentos migratórios de milhares de italianos em direção ao norte da África.
Na Europa, a emigração italiana ficou restrita principalmente à França e à Alemanha, para onde se dirigiram em milhares após o fim dos conflitos da primeira grande guerra.
Nesse período de vinte anos, segundo estimativas oficiais, cerca de 3 milhões de italianos abandonam o país.
A quarta fase é aquela qua se seguiu ao fim da segunda grande guerra em 1945 até 1970, período no qual a Itália e todo o mundo experimentou profundas mudanças econômicas sociais e políticas.
Nesses 25 anos voltou a crescer o fluxo emigratório italiano, especialmente de habitantes do sul do país, região que demorou um pouco mais para acompanhar o crescimento econômico da Itália pós guerra.
Os destinos preferidos nesse período foram para os tradicionais países da Europa: França, Alemanha, Suiça e Bélgica. Aqueles fluxos destinados para além do oceano seguiram para os países sulamericanos e agora também para a Austrália.
Nesse período os dados oficiais estimam que cerca de 7 milhões de italianos deixaram o país.
Em cem anos à partir da unificação italiana, deixaram o país cerca de 30 milhões de pessoas, que se estabeleceram em novas terras, fixando-se em diversas partes do mundo e após um período inicial de grandes dificuldades e provações a grande maioria deles encontrou a tão sonhada cucagna.
Hoje os italianos e seus descendentes espalhados pelo mundo já somam mais de cem milhões de pessoas, um número total maior que a população atual da Itália.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS