A
emigração sazonal e a imigração de trabalhadores italianos, e especialmente os vênetos,
dentro da própria Itália ou para os países vizinhos, trazia um alívio bem
grande para a combalida economia, das pequenas e grandes cidades, na medida que
os artesãos se deslocavam em busca do trabalho, chegando muitas vezes em locais
bem distante das suas casas, onde conseguiam ganhar algum dinheiro para tocar
as suas vidas e a de suas famílias.
As estradas
e as ruas dessas pequenas cidades ou no campo, uma quantidade enorme de
profissionais deambulavam diariamente, oferecendo mão de obra e o objetos produtos
do seu trabalho. Uma das características de todos eles era gritarem pelas ruas
das localidades visitadas, fazendo assim a sua publicidade, para atrair os seus
clientes.
Estes
artesãos, geralmente, aprendiam o ofício trabalhando como aprendizes dos seus
pais, e a profissão passavam adiante, para seus filhos e netos. Existiam
famílias de artesãos que, por diversas gerações, os homens do grupo exerciam
determinada profissão já há centenas de anos. Era uma tradição familiar exercer
o ofício dos pais e dos seus antepassados.
Assim
temos alguns exemplos dessas atividades: o seggiolaio
(ou careghèr, caregheta ou caregàro, em dialeto) responsável pela
fabricação e venda de cadeiras, além de dar a manutenção periódica das cadeiras
de palha entrelaçada.
O spazzacamino (ou el spàssa camin. em dialeto) responsável pela limpeza interna dos
chaminés. Viviam sempre sujos de fuligem negra que cobria todo o seu corpo, inclusive o rosto. Geralmente usavam
um chapéu alto, espécie de uma cartola, que também os identificava.
O afiador
de facas, ou arrotino em italiano e (moleta em dialeto vêneto) que afiava as
facas e outros instrumentos cortantes, como tesouras e utensílios usados no
trabalho agrícola. Usava uma bancada de madeira adaptada sobre o eixo de uma
grande roda de carroça, com a qual se deslocava e no momento de afiar, passava
uma larga cinta de couro ao seu redor, e obtinha movimento através da pressão
intermitente, de uma tábua estreita, colocada ao lado a qual era movimentada
com o pé. Se fazia anunciar com o penetrante silvo característico da profissão,
obtido pela fricção de uma dura lâmina
de ferro contra o rebolo que girava em alta velocidade.
Algumas
vilas, e mesmo alguns pequenos municípios vênetos, concentravam um grande
número deles e quase todos quando emigraram definitivamente para várias partes
do mundo, levaram consigo esta profissão.
O stagnino ou stagnin em dialeto vêneto, eram o funileiro, o latoeiro, o
encanador que também reparava as panelas furadas ou quebradas com rachaduras.
O straccivendolo ou trapeiro, que era o
catador de papéis, roupas descartadas e outros objetos jogados fora.
O ombrelàro, profissional que fabricava os
guarda chuvas e também os consertava na casa dos fregueses.
O muratore, ou em dialeto vêneto el muràro
ou el murèr, que se dedicava a executar os trabalhs com tijolos ou pedras,
fazendo casas, muros e calçdas.
Os taglialegno ou (tàia legno), cortadores
de lenha com machados e serras, que andavam de cidade em cidade, oferecendo os
seus serviços em troca de algum dinheiro ou mesmo de um prato de comida.
O
chamado scarpàro ou sapateiro que
fazia sapatos e chinelos e ia vende-los pelas ruas e estradas. Também fazia o
conserto desses objetos, diretamente na casa dos fregueses.
O falegname ou (em dialeto vêneto el
marangon), já era um profissional mais especializado, o qual trabalhava por
contrato fazendo e reparando casas de madeira ou forros, paredes, assoalhos e
portas. Também era responsável pela construção dos moinhos que moíam os grãos
para o pão ou polenta.
O maniscalco ou ferreiro (ou ainda em
dialeto vêneto ferèr ou feràro) trabalhava em um local fixo,
geralmente em sua oficina próxima ou ao lado da sua casa. Entretanto alguns
trabalhos deviam ser realizados nas casas ou nas propriedades rurais dos seus
fregueses, como a colocação de ferraduras nos animais e os consertos nos
moinhos.
Essas
profissões vieram para o Brasil junto com os imigrantes italianos, sendo esses
profissionais muito requisitados aqui nas colônias italianas onde praticavam exatamente o que faziam na Itália. Aqui também
era costume deles se deslocando entre as cidades e as colônias, sempre em busca
de trabalho.
Esses
profissionais podiam ser vistos em todas cidades brasileiras e sobreviveram até
meados dos anos setenta.
As
profissões que exerciam serviram para cunhar inúmeros sobrenomes de famílias,
com algumas variações. Assim temos o sobrenome Ferraro, ou ferreiro, derivado do vêneto feràro. O sobrenome Marangon ou Marangoni, derivado de marangon
ou carpinteiro. O sobrenome Moleta,
que eram os que trabalhavam na afiação de facas, com algumas variações como a
italianização Moletta.
Dr.
Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim
RS
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