Depois do embarque, os emigrantes eram acomodados em grandes fétidos e escuros salões, nos porões do navio, os quais eram antes usados como estiva no transporte de cargas, e agora veloz e precariamente transformados, serviriam de improvisados quartos coletivos, construídos as pressas nos navios agora destinados ao transporte de emigrantes.
Os dormitórios eram divididos, um para os homens e meninos grandes e outro para as mulheres e crianças pequenas. Eram na verdade formados por beliches muito próximos um do outro, com banheiros coletivos inadequados para o número de pessoas a bordo. Muitas vezes o banheiro era tão somente alguns baldes de madeira com tampa, colocados no fim dos corredores.
Os passageiros deviam se servir deles para satisfazer as suas necessidades fisiológicas e, também, com muita frequência para vomitar o que tinham comido, devido constante enjôo causado pelo balanço contínuo do navio, agravados que eram pelas frequentes tempestades que encontravam durante a longa viagem.
Meninos de até sete anos dormiam com as mulheres, sendo que acima dessa idade deveriam dividir uma cama no dormitório masculino. A situação era mais dramática quando mães viajavam sozinhas com os filhos, quando um menino de oito anos devia ficar sozinho entre adultos desconhecidos.
O refeitório, por outro lado, geralmente não era grande o suficiente para abrigar todos os passageiros ao mesmo tempo e as refeições, em forma de rancho, eram servidas em turnos. Em um período mais para a frente, quando já existiam as acomodações e cabines de segunda classe, essas não eram nada parecido ao que temos hoje em um navio transatlântico. Consistiam apenas em um par de beliches muito próximos um do outro e nada mais.
A comida servida nem sempre era suficiente para todos e em diversas ocasiões havia algum tipo de racionamento. A higiene a bordo era bastante precária com racionamento rígido da água potável. A promiscuidade a bordo era muito grande e o ar desses porões, que não recebiam ventilação suficiente, era pesado, úmido e muito fétido pelos odores corporais exalados de várias centenas de pessoas mal lavadas e sem banheiros adequados para todos.
Vários animais vivos eram levados a bordo, mantidos em cercados, para serem sacrificados durante o transcurso da viagem e servirem de alimento para os passageiros e tripulantes do navio. As condições desses abates durante a viagem não podia ser de muita higiene e mais esse mal odor se somava aos dos passageiros e tripulação.
Quando tinham sorte e a viagem tivesse transcorrido sem maiores incidentes ou sem o surgimento de epidemias a bordo, chegavam ao seu destino, depois de mais de um mês confinados no navio, a maior parte do tempo vendo somente o céu e o mar.
Um dos locais que mais amedrontava os emigrantes era certamente o controle da imigração, principalmente para aqueles que se dirigiam aos Estados Unidos, devido ao maior rigor a que eram submetidos nas consultas médicas e entrevistas para os agentes encarregados da imigração. Muitas vezes, apesar de todo o sofrimento e cansaço para chegarem até ali, alguns eram enviados de volta e não aceitos nos países que recebiam os imigrantes.
Alguns eram barrados por serem portadores de doenças pré existentes, como cegueira, deformidades de nascimento ou adquiridas, tracoma, doenças mentais e outras. Muitos deles tinham a sua entrada proibida por serem considerados incapazes para o trabalho.
Nos frequentes casos em que os navios tivessem tido epidemias de cólera a bordo durante a viagem, todos os passageiros e tripulantes do navio ficavam impossibilitados de desembarcar e deviam retornar para a Itália! Era a fatídica ordem do torna viagem.
Esse fato ocorreu por diversas vezes no porto do Rio de Janeiro e em também nos portos de outros países. Podemos hoje imaginar a ansiedade e a dificuldade desses pobres imigrantes, que muitas vezes conheciam apenas o dialeto, em ter que responder perguntas à queima roupa feitas em português, espanhol ou em inglês americano.
Dr. Luiz Carlos B. Piazzetta
Erechim RS